Água da chuva invadiu casas no município de Barra Crédito: Reprodução


Na madrugada de terça-feira (02), o professor Armstron Pereira de Souza, de 50 anos, acordou com um forte barulho de ventania e de água caindo no telhado da sua casa. Morador do município de Barra, município do oeste baiano localizado no encontro do Rio Grande com o Rio São Francisco, ele conta que, ao pegar o celular, se deparou com fotos e vídeos dos transtornos causados pela tempestade na cidade, enviados por moradores tanto do centro como das periferias.


“Um dos bairros mais castigados pelo grande volume de água foi o Sagrada Família, antiga Subestação, onde os moradores tiveram suas residências alagadas e perderam móveis, elétricos domésticos, colchões, cama, dentre outros. Alguns carros ficaram quase totalmente submersos, causando um grande prejuízo a população. Também choveu bastante na zona rural do município, com a mesma intensidade. A quantidade de água foi tão grande que, mesmo com várias bombas fazendo o bombeamento, durou mais de 30 horas para o escoamento acontecer”, diz.


O desespero de Armstron foi comum a muitos outros moradores de municípios do oeste e do sul da Bahia. Isso porque, entre segunda (1º) e terça-feira (02), alguns municípios acumularam mais de 100mm de volume de chuva, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Barra, que na terça-feira foi o município onde mais choveu em todo o Brasil, chegou a acumular 283,6mm nos dois dias.

O eletricista Rafael dos Santos, que também vive em Barra, viu pessoas ao seu redor sofrendo com os efeitos da água, no que chama de ‘tragédia anunciada’. “As pessoas começam a perder seus bens, conquistados com uma certa dificuldade, sendo que em toda época de chuva isso acontece aqui na Barra, e o poder público não dá uma assistência. Não tomaram uma providência de precaução. Agora a água baixou, mas já começou a garoar de novo e nós não sabemos como vai ficar a situação”, diz.

A prefeitura de Barra foi procurada para responder sobre a situação do município após as fortes chuvas, mas não houve resposta. De acordo com a Defesa Civil da Bahia (SUDEC), a chuva foi repentina, mas não causou ocorrências humanas no município.


Logo atrás estão Formosa do Rio Preto (106,8mm), Caravelas (45mm), Vitória da Conquista (34,3mm), Santa Rita de Cássia (33,8mm), Ibotirama (18,6mm) e Luís Eduardo Magalhães (9,2mm).

Segundo a prefeitura de Luís Eduardo Magalhães, 69 famílias foram acolhidas pela Secretaria da Cidadania por conta do prejuízo gerado pelas chuvas, estão alojadas em um abrigo do município e dois hotéis e serão contempladas com o aluguel social em um segundo momento. A cidade afirma ainda que as fortes chuvas não causaram danos aos prédios municipais, como escolas e hospitais, e que, para as vias afetadas, já estão sendo programados reparos.

De acordo com a Secretaria de Infraestrutura de Formosa do Rio Preto, não houve registros de pessoas desabrigadas ou desalojadas. Segundo a Defesa Civil de Ibotirama, as chuvas na cidade ainda estão calmas, sem ocorrências. Em Vitória da Conquista, segundo a prefeitura, a chuva ainda não chegou.

No fim de 2023, Ibotirama configurava uma das cidades mais quentes da Bahia, sendo afetada por ondas de calor e chegando a atingir a segunda temperatura mais alta do país (39,3ºC) no dia 10 de dezembro, atrás apenas de Bom Jesus da Lapa (40,1ºC), também no oeste baiano.

De acordo com o meteorologista Giuliano Nascimento, essa mudança repentina é comum nesses locais durante o verão e acontece devido à formação de diversos sistemas meteorológicos que provocam chuvas intensas. “Alguns exemplos são a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), Complexo Convectivo de Mesoescala e outros. Em destaque, é a atuação do El Niño, que é o aquecimento da água do Oceano Pacífico, que altera a frequência de chuvas em grande parte do país”, diz.

Ele acrescenta que o tempo instável dos últimos dias se deve à formação da convergência de umidade, intensificada pela passagem de uma frente fria somada a um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), que faz o ar seco de níveis mais altos descerem para a superfície, sobre o litoral do Nordeste.

*Com orientação de Fernanda Varela.