Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
A Bolsa brasileira
registrou queda de 1,10% e fechou aos 132.696 pontos nesta sexta-feira (2), no
primeiro pregão do ano, após ter encerrado 2023 em seu maior patamar nominal da
história. Já o dólar teve forte alta de 1,29% e terminou o dia cotado a R$
4,914, num dia marcado por cautela nos mercados globais.
"Apesar de termos
peculiaridades aqui no Brasil, há um movimento de aversão a risco no mundo.
Depois de uma alta muito forte no mês de dezembro, principalmente, fica claro
que os mercados passam por um ajuste à espera dos próximos dados que vão sair
na semana nos Estados Unidos", afirma Apolo Duarte, chefe de renda
variável e sócio da AVG Capital
O analista refere-se a novos
dados sobre o mercado do trabalho americano, que devem ser publicados na
sexta-feira (5) e são um dos números mais esperados pelo mercado nesta semana,
em meio a agenda esvaziada de início de ano.
"Esses dados [de mercado de
trabalho] são os mais relevantes para definir trajetória de juros [dos EUA]. O
mercado todo espera que a situação de desemprego fique mais aliviada, no
sentido de que eventualmente o desemprego até aumente. O mercado de trabalho um
pouco mais frouxo deve permitir o corte de taxa de juros", diz Paulo Gala,
economista-chefe do Banco Master.
Pela manhã, analistas da Guide
Investimentos já haviam apontado um grau maior de cautela entre investidores
após o forte desempenho dos ativos nos últimos dois meses de 2023.
Além dos receios antes do
relatório de emprego americano, preocupações sobre a economia global também
estão no radar de investidores, como aponta Gabriel Mota, operador de renda
variável da Manchester Investimentos.
"Nós vimos esse movimento
de queda nos mercados internacionais na sexta [29], com maior ceticismo sobre o
crescimento da economia global, principalmente nos Estados Unidos, e a crise no
mercado imobiliário chinês voltou ao radar do mercado", afirma Mota.
Segundo o operador, não houve
catalisadores negativos no Brasil, e a forte queda do Ibovespa nesta terça
reflete uma onda pessimista internacional.
Na ponta positiva, as ações da
Petrobras subiram, acompanhando a alta do petróleo no exterior e atenuando as
perdas da sessão.
MERCADO SEGUE ACOMPANHANDO
RISCOS EM CONTAS PÚBLICAS
No cenário local, apesar de não
terem pesado nos negócios, as preocupações fiscais seguem no radar de
investidores.
Apolo Duarte, da AVG, diz que o
mercado ainda vê com ceticismo o objetivo do governo de zerar o déficit nas
contas públicas neste ano, mesmo com sinalizações positivas e propostas de
aumento de arrecadação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
"A gente vê que o governo
tem buscado, através de Haddad, medidas para tentar fechar as contas, mas o
mercado acredita que ele não vai conseguir fechar o déficit zero. O fato de se
buscar é um bom sinal. Se tivesse mudado a meta no ano passado, teria soado
muito ruim, causado a impressão de descontrole", afirma Duarte.
Ele aponta, ainda, que o mercado
deve ficar de olho em declarações de Haddad e do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), além de sinalizações de lideranças do PT que possam impactar o
mercado.
Em seu pacote mais recente para
tentar equilibrar as contas públicas, Haddad anunciou, na última quinta (28),
três novas medidas para evitar perda de arrecadação.
A MP (medida provisória), que
será encaminhada ao Congresso, prevê a reoneração gradual da folha de pagamento
-alternativa à prorrogação do benefício integral até dezembro de 2027-, a
limitação da compensação tributária feita por empresas por meio de decisões
judiciais e alteração da lei do Perse (Programa Emergencial de Retomada do
Setor de Eventos), que oferece benefícios para empresas aéreas e ligadas a
entretenimento.
Sobre o pacote, analistas da
Levante Investimentos apontam que há riscos em sua tramitação no Congresso,
especialmente por conta da proposta que prevê uma alternativa à desoneração da
folha de pagamentos, que foi prorrogada pelos parlamentares no mês passado.
Na última sexta (29), um dia
após a divulgação do pacote, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG),
disse ver com "estranheza" a MP e afirmou, por meio de nota, que
analisará a proposta para decidir se ela tramitará ou não na Casa.
"Farei uma análise apurada
do teor da medida provisória com o assessoramento da consultoria legislativa do
Senado Federal. Para além da estranheza sobre a desconstituição da decisão
recente do Congresso Nacional sobre o tema, há a necessidade da análise técnica
sobre os aspectos de constitucionalidade da MP", disse Pacheco, na
ocasião.
Para os analistas da Levante, o
ano começou com um tensionamento na relação entre Executivo e Legislativo.
"É uma aposta de alto risco
para o governo, não só por revogar uma lei recém-aprovada pelo Congresso, mas
também por reunir três propostas sem aparente relação em uma medida só. Ao
colocá-las em um só "pacote", a chance de aprovação diminui
consideravelmente pela forte rejeição a uma delas", dizem.
Pacheco deve reunir líderes de
partidos da Câmara e do Senado na segunda semana de janeiro para tratar sobre o
futuro da MP e sinalizou que só decidirá se devolverá ou não a proposta ao
governo após a reunião.
ECONOMISTAS VEEM SELIC EM 9% NO
FIM DO ANO; PROJEÇÃO DE INFLAÇÃO DIMINUI
Mais cedo nesta terça, o Banco
Central divulgou seu boletim Focus, que reúne projeções de economistas para
indicadores locais.
Os analistas passaram a ver uma
inflação mais baixa de 2024, baixando a previsão para o IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo) de 3,91% para 3,9%.
O centro da meta oficial para a
inflação em 2024, 2025 e 2026 é de 3,00%, sempre com margem de tolerância de
1,5 ponto percentual para mais ou menos. A expectativa para 2023 é de alta de
4,46%, segundo a pesquisa.
Para os juros, o levantamento
manteve a expectativa de que a Selic (taxa básica de juros) termine 2024 a
9,0%. Já para o PIB, a estimativa de crescimento para 2023 segue em 2,92%, e
para 2024 também se manteve em 1,52%.