A dois meses de a Guerra da Ucrânia completar dois anos de duração, Kiev
se prepara para, nos próximos dias, anunciar uma nova reforma em suas regras de
recrutamento militar obrigatório, afirmou neste domingo (24) o ministro da
Defesa Rustem Umerov.
Segundo ele, o tema tem sido debatido entre as forças de segurança, os
ministros de Volodimir Zelenski e o Parlamento, o Rada, arduamente ao longo dos
últimos dias. Há uma semana, o líder ucraniano afirmou que os militares têm
pedido a ele que entre 450 mil e 500 mil novos soldados sejam convocados para
lutar contra Moscou.
Zelenski disse que Umerov tinha sido um dos responsáveis por colocar a
proposta na mesa e que, por se tratar de uma cifra muito expressiva, ele teria
de compreender todos os argumentos para sustentá-la.
Umerov não confirmou esses números, mas, em longa entrevista à rede de
televisão Suspilne publicada no domingo, afirmou que o projeto de lei que será
apresentado visa fazer com que a população de seu país "pare de
demonizar" o recrutamento. "Em nosso país, infelizmente, entende-se
que servir a pátria é uma espécie de castigo", disse ele. "Mas, para
mim, é uma honra. Essa visão precisa ser mudada."
O veículo questionou o ministro sobre as reformas inclusas no projeto.
Ele não as confirmou, mas deu a entender que o país pode começar a recrutar
homens a partir dos 25 anos de idade, e não mais 27. Também não comentou a
possibilidade de recrutamento parcial das mulheres.
"Temos 3.500 quilômetros de linha de frente que temos de defender.
Só podemos falar em uma desmobilização depois que a guerra acabar",
afirmou quando questionado sobre a possibilidade de desmobilizar tropas que já
estão há meses em campo contra Moscou.
Rustem Umerov falava na ocasião de cem dias de sua gestão à frente da
pasta da Defesa. Ex-deputado com origem política na Crimeia anexada pela Rússia
em 2014 e ex-chefe do fundo de privatizações ucraniano, ele participou das
fracassadas negociações de paz entre Moscou e Kiev logo após o início da
guerra. O político assumiu o ministério após a demissão de seu antecessor,
Oleksii Reznikov, depois de um grande escândalo de corrupção envolvendo o
alistamento militar ucraniano.
Todos os chefes regionais responsáveis pelo setor foram demitidos por
vender isenção do serviço. Também por isso Umerov vem sendo cobrado sobre esse
tema, e há ampla expectativa sobre anúncios na área.
Nesta segunda-feira (25), a Rússia alegou ter tomado a região de
Marinka, no leste ucraniano. Pouco depois, porém, Kiev questionou a alegação,
dizendo que suas tropas ainda operam no centro da cidade e que, portanto, a
conquista não seria verdade.
Os militares da Ucrânia ficaram muito aquém dos seus objetivos em uma
contraofensiva durante o verão no país, de junho a agosto, mas o presidente
Zelenski insiste que reforçou as suas defesas aéreas com ajuda de parceiros
internacionais, em especial os Estados Unidos, e que obteve sucessos navais no
mar Negro.