Foto: Bahia Notícias
Começa a funcionar nesta
quarta-feira (20) o aplicativo que inutiliza celulares extraviados, seja por
furto, roubo ou simples perda do aparelho. O Ministério da Justiça e da
Segurança Pública lançará a tecnologia em transmissão no Youtube nesta terça
(19).
O nome do app será "Celular
Seguro." A solução visa frear a onda de assaltos e furtos a smartphones,
crescente desde a implementação do Pix. Criminosos abusam da possibilidade de
fazer transferências em tempo real para esvaziar a conta das vítimas.
O recurso bloqueará todas as
funções de maior risco do smartphone com um único botão de emergência. O dono
do celular poderá escolher pessoas de confiança para conceder acesso à função
de bloqueio. A medida, que tem apelo popular, foi lançada pelo secretário-geral
do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, um dos cotados para a pasta, que
disse que o aparelho se tornará "um pedaço inútil de metal."
Questionado pela reportagem
sobre o risco de ter o celular bloqueado contra a vontade, Cappelli afirmou que
a responsabilidade de escolher pessoas confiáveis caberá ao dono do celular.
Para desenvolver a tecnologia, a
pasta da Justiça firmou parceria com Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações), Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e ABR Telecom, que
fica encarregada de receber as comunicações enviadas pelo usuário para bloqueio
do terminal telefônico em até um dia útil após a comunicação.
O Celular Seguro chega, na
quarta, às lojas oficiais da Apple, App Store, e do Google, Play Store, em
smartphones Android. Já na terça, será possível fazer o cadastro no projeto em
link divulgado durante o lançamento.
Como acionar o botão de
emergência
O acesso à plataforma Celular
Seguro será feito a partir do sistema gov.br, com CPF e senha.
Depois de aceitar os termos de
uso, o primeiro passo será adicionar as pessoas de confiança. Para isso, o dono
do celular precisará de nome completo, CPF, telefone e email do contato.
A pessoa de confiança receberá
uma notificação e passará a visualizar o celular cadastrado no próprio
aplicativo. É pelo ícone do smartphone registrado que essa pessoa terá acesso
ao botão de emergência.
O próprio dono do celular também
poderá bloqueá-lo pela internet, a partir do sistema gov.br.
O primeiro passo é escolher o
smartphone a ser bloqueado: o próprio ou um dos aparelhos de confiança. Depois,
no pop up que surgirá na tela, a pessoa deve clicar na opção
"Alerta", indicada por um triângulo amarelo.
Por fim, será preciso informar
se foi perda, roubo ou furto, a data e o local da ocorrência. Após o registro,
o aplicativo entrega um número de protocolo, que deve ser anotado para uso em
atendimentos posteriores junto ao Ministério da Justiça, Anatel, operadoras ou
bancos.
As entidades participantes
receberão o alerta e prometem bloquear todas as contas vinculadas ao
dispositivo extraviado em até dez minutos.
Participam os bancos Caixa
Econômica Federal, Banco do Brasil, Bradesco, Inter, Sicredi (Sistema de
Crédito Cooperativo), Sicoob (Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil) e
Nubank, o aplicativo de entregas iFood e o markeplace Mercado Livre.
A Anatel também bloqueará o
aparelho e o chip em até 24 horas.
O Ministério da Justiça e
Segurança Pública receberá nesta quarta representantes do Google e da Apple
para tentar incluí-los no programa. Assim, seria possível adicionar as gigantes
da tecnologia no sistema de alerta e também limpar a memória do celular com o
botão de emergência.
"Lançamos o aplicativo com
o mínimo possível para funcionar bem. A ideia é melhorar nos próximos
meses", afirmou Cappelli à Folha.
O registro de ocorrência no app
Celular Seguro não exime a necessidade de notificar a Polícia Civil. O boletim
de ocorrência, além de iniciar uma investigação policial, garante às
autoridades informações sobre o crime.
COMO É HOJE
O sistema Celular Seguro visa
simplificar o longo processo de cancelar todas as contas vinculadas ao
smartphone.
Hoje, o bloqueio do chip e do
dispositivo ficam por conta da operadora. É possível bloquear a linha
telefônica com o número do telefone e o CPF do responsável.
A empresa de telecomunicação
também pode inutilizar o aparelho com o número Imei, que funciona como
identificador do aparelho. O código fica disponível na caixa do aparelho e na
seção "sobre" das configurações. Pode ainda ser consultado ao digitar
no telefone esta sequência: *#06#.
Essa identidade do celular
também deve ser informada durante o registro do boletim de ocorrência.
Além disso, a pessoa deve
procurar os bancos para bloquear transações feitas a partir do aplicativo
bancário, assim como é necessário suspender cartões de crédito e débito para
evitar prejuízos.
Caso o aparelho tenha acesso à
internet, ainda é possível limpar as informações do smartphone. Em celulares
Android, essa opção fica em android.com/find. Por sua vez, iPhones
disponibilizam esse recurso em icloud.com/find. Em ambos os casos, o usuário pode
ter dificuldades para acessar as plataformas pelo celular de terceiros.
ROUBOS E FURTOS DE SMARTPHONE
SÃO HERANÇA DA PANDEMIA
Segundo dados do Anuário
Brasileiro de Segurança Pública divulgado em julho, o Brasil registrou um
crescimento de 16,6% de furtos e roubos de telefones celulares no período de um
ano, saindo de 853 mil casos em 2021 para 999,2 mil ocorrências no ano passado.
A média é de 114 celulares
roubados por hora no país, cerca de dois a cada minuto. Os estados da Bahia e
do Rio de Janeiro puxaram a alta nesse tipo de crime.
O roubo e furto de celulares se
tornou nos últimos anos o mais comum dentre os crimes patrimoniais, já que o
equipamento cria chance para outros delitos, como golpes e extorsão.
Esse tipo de crime ganhou mais
força a partir da pandemia da Covid-19, que deu maior popularidade ao comércio
eletrônico a partir de aplicativos nos celulares.
No Brasil, o avanço também está
ligado à criação do Pix em 2020, que facilitou operações de transferência de
valor a partir dos aplicativos dos bancos.
Cappelli afirma que, ao
inutilizar o celular, a medida visa, além de desestimular os crimes
patrimoniais, desbaratar os mercados de receptação.
"Quem comprar um celular de
origem duvidosa ficará sob o risco de ter um smartphone inútil a qualquer
momento", diz Cappeli.