Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil
Os riscos
apresentados pelas mudanças climáticas no Brasil podem levar à proliferação de
vetores, como o mosquito Aedes aegypti e, em consequência, ao agravamento de
arboviroses, como dengue, zika e chikungunya. O alerta é de levantamento na
área da saúde feito pela plataforma AdaptaBrasil, vinculada ao Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz). As projeções indicam também expansão da malária, leishmaniose
tegumentar americana e leishmaniose visceral.
O trabalho levou em conta as temperaturas máxima e mínima, a umidade relativa
do ar e a precipitação acumulada para associar a ocorrência do vetor, que são
os mosquitos transmissores das diferentes doenças em análise. A AdaptaBrasil
avalia também a vulnerabilidade e a exposição da população a esses vetores.
“Uma temperatura maior, com uma precipitação maior, pode levar a uma maior
proliferação de diferentes mosquitos, insetos que são transmissores dessas
doenças, conhecidas como arboviroses”, explicou à Agência Brasil o coordenador
científico da plataforma, Jean Ometto. “Normalmente, a gente tem ocorrência
maior de dengue e chikungunya no verão”, observou.
Outro elemento analisado na plataforma é o quanto a população está exposta e o
quão vulnerável ela é à ocorrência dessas doenças. “A gente percebe que, em
determinadas regiões, pode haver um aumento da ocorrência dessas enfermidades e
populações mais vulneráveis e expostas ficam mais suscetíveis a adoecerem por
essas diferentes doenças”,disse Ometto, acrescentando que a identificação de
que regiões poderão ser mais atingidas depende do tipo da doença.
PROBLEMA SOCIAL
O coordenador
científico da AdaptaBrasil esclareceu que, normalmente, essas doenças acontecem
quando há uma pessoa ou outro organismo animal que possa estar infectado. Em
geral, populações mais vulneráveis, que apresentem condições de saúde e
habitação mais precárias, tendem a ficar mais suscetíveis a uma ocorrência
maior da doença.
“Hoje já é assim. Mas a tendência é que isso se agrave. A gente vê hoje que
muitas dessas doenças não são exclusivas de populações menos favorecidas. Mas a
ocorrência maior é nessas populações. E isso tende a se agravar”, explicou.
Ometto alertou que se trata de um problema social “super dramático”, que
precisa ser resolvido.
De acordo com Ometto, condições melhores de vida, saúde e infraestrutura ajudam
e contribuem bastante para que a população fique menos exposta a essas doenças,
de modo a que possam ser atacadas de forma sistêmica, a partir do planejamento
territorial, de atendimento e de emergência em saúde.
O Brasil, segundo Ometto, tem uma estrutura de apoio à saúde muito importante,
que é o Sistema Único de Saúde (SUS), bastante singular no mundo. “Só que a
gente não está preparado para situações emergenciais. Quando ocorre um pico de
doença, o país não tem estrutura física que possa atender a todos que estão
doentes. Os postos de atendimento ficam sobrecarregados. Isso tende a se
agravar”.