O presidente Lula (PT)
afirmou nesta quinta-feira (14) que seu governo conseguiu colocar o primeiro
"ministro comunista" no STF (Supremo Tribunal Federal), em alusão à
aprovação de Flávio Dino para ocupar cadeira na corte.
"Vocês não sabem como eu estou feliz hoje. Pela
primeira vez na história desse país, nós conseguimos colocar na Suprema Corte
um ministro comunista, o companheiro Dino", disse Lula, um dia após a
confirmação de seu indicado no Senado. Atualmente no PSB, Dino foi filiado ao
PC do B.
A aprovação se deu após articulação de Lula no Congresso e
no Judiciário para garantir os votos necessários em meio à forte resistência da
oposição. O rótulo de "comunista" foi usado pela família Bolsonaro
para tentar ampliar as resistências a Dino.
A declaração de Lula foi dada durante a 4ª Conferência
Nacional de Juventude, em Brasília. O evento reuniu movimentos estudantis,
ministros do governo Lula e parlamentares.
Durante o discurso, o presidente disse que seu governo tem
poucos ministérios para a quantidade de assuntos que o Executivo precisa lidar
no Brasil.
O governo Lula possui 38 ministérios e só fica atrás na
quantidade de pastas da correligionária Dilma Rousseff, que manteve 39.
"Esses ministérios que estão aqui, esses ministros
que estão aqui, ainda não conseguimos repor a quantidade de funcionários que
nós tínhamos em 2010, quando eu deixei a Presidência da República", disse
Lula.
"Eu tinha de recriar os ministérios porque, nesse
país, é importante a gente parar de acreditar quando a imprensa diz que tem
muito ministro. Tem poucos ministros para tanto assunto que a gente precisa
cuidar no país. Por que as mulheres não podem ter os ministros? Os direitos
humanos não podem ter ministro? Por que a pesca não pode ter ministro, ter o
Ministério das Cidades?"
Com a ida de Flávio Dino para o STF, Lula avalia nomes
para sucedê-lo no Ministério da Justiça. Apesar de ter havido especulações de
que a pasta se separaria em duas, Justiça e Segurança Pública, aliados do
petista afirmam que a tendência é que o ministério siga unificado.
O 38º ministério do governo Lula foi criado para acomodar
Márcio França (PSB), em setembro, após o presidente realizar uma reforma
ministerial para acomodar indicados do centrão, em troca de apoio político no
Congresso.
Trata-se do Ministério do Empreendedorismo, da
Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte —um desmembramento do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, chefiado pelo vice-presidente
Geraldo Alckmin.
Durante o evento, o presidente ainda comentou o vídeo em
que uma passageira questiona a ex-presidente Dilma Rousseff por viajar de
primeira classe. A gravação viralizou nesta semana. "Lógico, querida. Eu
sou presidente de banco, querida. Ou você acha que presidente de banco viaja
como?", respondeu a petista.
Lula disse que o primeiro ano de governo teve como
objetivo reconstruir o que as gestões petistas haviam construído até 2016,
"quando veio o golpe contra a nossa querida presidente Dilma, que hoje
exerce a grata função de ser a presidente do banco dos Brics".
"Nesse dia, como representante, ela vem de primeira
classe para o Brasil e uma fascista, que estão em todo o lugar, foi tentar
dizer para ela: ‘a senhora está entrando na primeira classe?’. E ela disse:
‘Onde é que você pensa que banqueiro anda?’", concluiu Lula.
Dilma teve o mandato cassado em 2016 em processo de
impeachment que tramitou na Câmara e no Senado. Ambas as Casas consideraram que
a então presidente cometeu crime de responsabilidade pelas chamadas
"pedaladas fiscais", com a abertura de crédito orçamentário sem aval
do Congresso. A decisão, no processo e no mérito, foi acompanhada sem
contestação pelo Supremo.
Lula falou no evento por mais de 30 minutos e, em diversos
momentos, foi interrompido por aplausos e gritos de apoio.
O tom do discurso foi em incentivo à juventude e
movimentos estudantis não só cobrarem ações do governo, mas participarem do
debate público, com ações em favelas e politizando jovens desinteressados por
política.
"O que vai levar a gente a subir a escada inteira é a
capacidade de discussão política que a nossa juventude aqui tiver para discutir
com a juventude que não está aqui. Aquela juventude que muitas vezes é
embrenhada pela internet, TV, desinformações", completou o presidente.