Diferente
de quando se pronunciou, no último fim de semana, durante sua passagem pela
COP28, em Dubai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a falar sobre a
Guiana, mas não se referiu ao conflito territorial com a Venezuela. Durante a
edição desta terça-feira (5) da live “Conversa com o Presidente”, transmitida
de Berlim, na Alemanha, onde cumpre agenda oficial, Lula anunciou que visitará
a Guiana no próximo ano, sem citar a disputa que envolve a região do Essequibo.
No último domingo (3), Lula havia defendido o diálogo entre
Venezuela e Guiana para a solução do impasse, e pediu “bom senso” aos dois
países em meio a disputa pela região que equivale a 70% do atual território
guianense. “O que a América do Sul não está precisando é de confusão. Não se
pode ficar pensando em briga. Espero que o bom senso prevaleça”, disse o
presidente brasileiro.
Nesta terça, o presidente Lula adiantou que vai fazer
apenas duas viagens ao exterior em 2024, e que se dedicará a visitar todas as
regiões do Brasil. Entre as viagens estaria uma ida à Guiana.
“Ano que vem eu tenho duas viagens que eu quero fazer, uma
é para uma reunião da União Africana, dos 54 países da África, que vai ser em
Addis Ababa, na Etiópia. E a outra é na Guiana, uma reunião dos países do
Caricom. Essas eu quero participar porque eu tenho interesse em falar sobre
democracia, sobre sistema ONU, sobre financiamento. O restante dos 365 dias se
preparem porque eu vou percorrer o Brasil”, afirmou Lula.
Ao falar no último domingo, Lula ainda não sabia do
resultado do referendo consultivo realizado pelo governo de Nicolás Maduro. Um
total de 95% dos venezuelanos que participaram do referendo aprovou medidas que
podem resultar na anexação de parte do território do Essequibo, que é rico em
petróleo e se encontra na Guiana.
A tensão na fronteira norte do Brasil é um desafio à
política externa do governo Lula, que é aliado do presidente Nicolás Maduro.
Enquanto a diplomacia se move com cuidado sobre o tema, o Ministério da Defesa
se movimenta para garantir a segurança na região fronteiriça entre o Brasil e a
Guiana.
Nesta segunda (4), o Exército brasileiro enviou 20
blindados a Pacaraima, em Roraima, para reforçar a sua presença no local.
Segundo o ministro da Defesa, José Múcio, o deslocamento das unidades já estava
programado para dar apoio em operações contra o garimpo ilegal, mas as unidades
blindadas também poderão ser usadas para garantir a segurança na zona.
Os blindados são do modelo “Guaicuru”, e vão sair de
unidades no Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, onde ficam
armazenados. O tempo de transporte deve ser de pelo menos um mês. As viaturas
blindadas multitarefa sobre rodas 4X4 LMV-BR, da IDV, foram incorporadas há
pouco tempo ao Exército, e receberam o nome de “Guaicuru” em homenagem a uma
tribo indígena guerreira, que habitava os sertões do Centro-Oeste brasileiro e
que era famosa por utilizar cavalos para caçar e atacar seus inimigos.
O Exército brasileiro também aumentou para 130 o efetivo
para o patrulhamento na fronteira com a Venezuela. O Pelotão Especial de
Fronteira de Pacaraima, em Roraima, que normalmente opera com 70 homens, ganhou
o reforço de mais 60 militares na semana passada.
E ao mesmo tempo em que o Exército brasileiro decidiu
se mover para reforçar o seu efetivo na fronteira, o presidente da Venezuela,
Nicolás Maduro, fez um alerta aos Estados Unidos, para que não se envolvam no
assunto Essequibo e nem nas questões com a Guiana. “Estados Unidos, eu
aconselho, longe daqui. Deixem que a Guiana e a Venezuela resolvam este assunto
em paz”, disse Maduro.
Já o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew
Miller, afirmou nesta segunda (4) que o governo de Joe Biden apoia uma solução
pacífica para a disputa de fronteira entre Venezuela e Guiana e acredita que
ela não pode ser resolvida por meio de um referendo. “Isso não é algo que será
resolvido por um referendo”, destacou Miller.
De sua parte, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, esteve no
último domingo na região de Essequibo, e não poupou críticas ao seu colega
venezuelano, acusando-o de mobilizar a população com o intuito de “roubar”
terras do país vizinho.
“Enquanto na Venezuela testemunhamos um governo
incentivando seu povo a roubar terras de seus vizinhos, aqui na Guiana estamos
mobilizando a população de Essequibo para construir um futuro promissor”, disse
Irfaan Ali, que completou dizendo não ter receios em relação à possível
investida militar das forças armadas de Nicolás Maduro.