Foto:
Marcello Casal Jr. / Agência Brasil
Apesar de
representar 56,1% da população em idade de trabalhar, os negros correspondem a
mais da metade dos desocupados (65,1%). A análise é do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Dados
compilados pela entidade revelam que a taxa de desocupação dos negros é
sistematicamente maior do que dos demais trabalhadores. O levantamento foi
feito com base nos dados do 2º trimestre de 2023, da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa de
desocupação dos negros é de 9,5%, sendo 3,2 pontos percentuais acima da taxa
dos não negros. No caso das mulheres negras, que acumulam as desigualdades de
raça e de gênero, a taxa estava em 11,7%. O Dieese apontou que a inserção das
mulheres negras no mercado de trabalho é mais difícil, mesmo no contexto atual
de melhora da atividade econômica.
Para uma
melhor base de comparação, a entidade lembrou que, no segundo trimestre de
2021, durante a crise econômica da pandemia de covid-19, a taxa de desocupação
dos trabalhadores não negros atingiu este mesmo percentual (11,7%).
“Mesmo com
a indicação do crescimento da atividade econômica, o mercado de trabalho
continua reproduzindo as desigualdades sociais. Os trabalhadores negros
enfrentaram mais dificuldades para conseguir trabalho, para progredir na
carreira e entrar nos postos de trabalho formais com melhores salários. E as
mulheres negras encaram adversidades ainda maiores do que os homens, por
vivenciarem a discriminação por raça e gênero”, concluiu o relatório do Dieese.
CONDIÇÕES
Quando
conseguem ocupação, as condições impostas aos negros são piores. Segundo
avaliação do Dieese, em geral, essa parcela da população consegue se colocar em
postos mais precários e têm maiores dificuldades de ascensão profissional.
Apenas 2,1% dos trabalhadores negros – homens ou mulheres - estavam em cargos
de direção ou gerência. Entre os homens não negros, essa proporção é de 5,5%.
Isso
significa que apenas um em cada 48 trabalhadoras/es negros está em cargo de
direção ou gerência, enquanto entre os homens não negros, a proporção é de um
para cada 18 trabalhadores.
A proporção
de negros empregadores também é menor: 1,8% das mulheres negras eram donas de
negócios que empregavam funcionários, enquanto entre as não negras, o
percentual foi de 4,3%. Entre os homens negros, o percentual ficava em 3,6%;
entre os não negros, a proporção foi de 7%.
A
informalidade é maior entre os negros. Quase metade (46%) dos negros ocupados
estava em trabalhos desprotegidos, ou seja, empregados sem carteira, trabalho
por conta própria, com empregadores que não contribuem para a Previdência ou
trabalhadores familiares auxiliares. Entre os não negros, essa proporção foi de
34%.
CENÁRIO
FEMININO
Uma em cada
seis (15,8%) mulheres negras ocupadas trabalha como empregada doméstica, uma
das ocupações mais precarizadas em termos de direitos trabalhistas e
reconhecimento. As trabalhadoras domésticas negras sem carteira recebiam, em
média, R$ 904 por mês, ou seja, valor R$ 416 abaixo do salário mínimo em
vigência.
“Na
construção de uma sociedade mais justa e desenvolvida, não se pode deixar que
mais da metade dos brasileiros seja sempre relegada aos menores salários e a
condições de trabalho mais precárias apenas pela cor/raça ou pelo gênero”,
apontou a entidade.
O
levantamento revelou ainda que o fato de os negros estarem em maior proporção
em postos de trabalho informais e com menor remuneração explica apenas parte da
diferença de remuneração entre negros e não negros. No segundo trimestre de
2023, os negros ganhavam, em média, 39,2% a menos que os não negros.