“A
internet no Brasil vai parar!”. O categórico alerta foi feito neste fim de
semana pelo vice-presidente da Claro, Fábio Andrade. Em entrevista ao jornal
Folha de S.Paulo, o executivo chamou a atenção para o risco que a obra de
construção de uma usina de dessalinização na Praia do Futuro, em Fortaleza, no
Ceará, representa para a conectividade brasileira.
O projeto da usina no litoral da capital cearense pertence
à Cagece (Companhia de Água e Esgoto do Estado do Ceará), e encontra-se
atualmente no estágio de Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto
Ambiental (EIA/Rima). A Companhia afirma que serão investidos mais de R$ 520
milhões nas obras que estão programadas para ser iniciadas ainda no primeiro
trimestre de 2024, com previsão de beneficiar 720 mil pessoas em Fortaleza.
A queixa das empresas de telecomunicações é pelo local onde
a usina será construída, a poucos quarteirões da praia e bem próximo a 17 cabos
submarinos de internet que trazem para o Brasil 99% da conexão internacional de
dados com Estados Unidos, Europa e África. De acordo com o Ministério das
Comunicações, Fortaleza é o segundo maior hub de cabos de fibra óptica do
mundo.
À Folha de São Paulo, o vice-presidente da Claro, Fábio
Andrade, destacou que a própria Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
já se manifestou e determinou que os dutos da usina fiquem a, no mínimo, 500
metros dos cabos submarinos. Antes, o projeto original estabelecia apenas 50
metros. Entretanto, mesmo com a distância de 500 metros, a vibração a partir do
bombeamento da água do mar, segundo Andrade, pode levar ao rompimento dos
cabos, o que derrubaria a internet em quase todo o Brasil.
O presidente da Companhia de Água e Esgoto do Estado do
Ceará, Neuri Freitas, disse recentemente que a preocupação das empresas de
telecomunicações é um “medo abstrato”. Segundo o gestor da companhia
responsável pela obra, as modernas tecnologias atuais permitem que haja a
mitigação dos riscos.
“Particularmente acho que esse medo deles é um medo
abstrato, que eles não têm estudos para isso. Percebo que eles estão usando uma
reserva de mercado, eles não querem nenhuma outra infraestrutura para a Praia
do Futuro, só a deles. À medida que coloco uma planta de dessalinização lá,
segundo eles, vai estar tirando espaço para chegar mais cabos, para qualquer
outra situação deles, então vejo uma privatização da praia no formato que eles
querem”, argumentou Neuri Freitas.
O vice-presidente da Claro, Fábio Andrade, discorda dessa
posição e diz que o problema do risco aos cabos ópticos vai além. Para ele,
mesmo que a instalação ocorra a no mínimo 500 metros, a conexão pode ser
afetada no futuro. Isso porque as empresas de telecomunicações projetam que o
número de cabos deve dobrar em três anos, com o aumento da demanda por internet
no país. Para Fábio Andrade, portanto, a instalação da usina deveria ser feita
em uma distância de, no mínimo, mil metros da praia.
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, vem mantendo
seguidos contatos com o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), para
buscar soluções em relação à construção da usina. O ministro vem buscando
construir o que chama de “uma solução segura”, que preserve a chegada dos cabos
que representam cerca de 99% do tráfego de dados brasileiros, e que ao mesmo
tempo não prejudique a intenção do governo cearense de garantir abastecimento
de água no futuro para os moradores de Fortaleza.