Foto: Tânia
Rêgo / Agência Brasil
A saúde da
população negra no Brasil pode ser diferente da população em geral? Dados do
Ministério da Saúde apontam que sim. Segundo o último boletim do órgão sobre o
tema, todos os índices analisados de 2010 a 2020 são piores para o conjunto de
pretos e pardos —57% dos brasileiros, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
Isso inclui
maiores taxas de mortalidade materna e infantil, prevalência de doenças
crônicas e infecciosas, piores índices de violência, de acesso a atendimentos
de saúde, e até alimentação. Desde 2009, o país tem a Política Nacional de
Saúde Integral da População Negra, que reconhece o racismo institucional como
determinante para a saúde.
As causas
são multifatoriais, segundo a médica Denize Ornelas, do grupo de trabalho de
saúde da população negra da SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina de Família
e Comunidade). Além de serem socialmente mais vulneráveis, diz ela, pessoas
negras têm maior disposição genética a algumas doenças, como a doença
falciforme, e ainda são vítimas de racismo estrutural, institucional e
interpessoal.
Segundo
Ornelas, estudos apontam também que existe diferenças no atendimento entre
negros e não negros no sistema privado de saúde.
O grupo
também é mais afetado por casos graves de ISTs (infecções sexualmente
transmissíveis), segundo dados do último boletim de Saúde da População Negra da
pasta. O que não quer dizer que tenham maior predisposição a essas condições.
O estigma
relacionado às ISTs dificulta a procura de profissionais de saúde pela
população negra, que já tem dificuldade de buscar ajuda especializada devido ao
racismo, afirma a médica. "Essas barreiras fazem com que as pessoas não se
tratem e ocorra uma circulação maior da doença."
A
prevalência de Aids não acompanha necessariamente maiores índices de HIV, diz a
médica, uma vez que a síndrome é o estágio mais avançado da infecção, evitável
com tratamento.
Segundo o
Ministério da Saúde, os dados apontam uma diferença no acesso a serviços e na
qualidade da atenção à saúde. Questionado sobre políticas públicas
direcionadas, o órgão respondeu que pretende "planejar e implementar ações
que possam melhorar o acesso aos serviços de saúde desse grupo e aprimorar a
qualidade da atenção prestada à população negra", mas não especificou o
que é ou será feito.
Cada
município também pode implementar as próprias políticas. Dados da pasta indicam
que em 2021, o Amapá liderava em número de cidades com serviços específicos
para conduzir, coordenar e monitorar as ações de saúde voltadas à população
negra. São Paulo ficou em último lugar.
GENÉTICA
A doença
falciforme (DF) é genética, hereditária e de herança recessiva. É uma das
doenças mais comuns do mundo, principalmente em países com histórico de
diáspora africana. No Brasil, a mortalidade é maior que 70% entre negros.
"Pessoas
brancas em geral têm mais chance de ter câncer de pele e a gente fala o tempo
todo que tem que usar filtro solar, fazemos Dezembro Laranja", diz
Ornelas. Segundo ela, ações de prevenção não acontecem na mesma intensidade no
caso de doenças que acometem negros de forma predominante.
Desde 2006,
o dia 27 de outubro é considerado o Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde da
População Negra no país. A intenção é que a discussão sobre a saúde desse grupo
seja feita entre outubro e o dia 20 de novembro, em que se comemora a
Consciência Negra.
Em relação
a mortes, estão entre causas evitáveis condições como diabetes mellitus. As
políticas públicas, segundo Ornellas, devem buscar também formar profissionais
que saibam como cuidar da população negra.
Ainda não
há informação suficiente por raça ou cor de todas as enfermidades e de acesso à
saúde.