Pesquisadores
utilizando o duo teste para sífilis e HIV. Foto: Lais / Divulgação
O Ministério
da Saúde anunciou investimento de R$ 27 milhões para a aquisição de um teste
duplo para detecção de sífilis e HIV.
Com a
verba, a pasta espera adquirir cerca de 4 milhões de testes rápidos, a serem
distribuídos aos estados ainda até o final de 2023, de acordo com nota
divulgada pela pasta da Saúde na última sexta (20). Os testes serão ofertados,
em um primeiro momento, além de gestantes, para profissionais do sexo e homens
que têm relação com outros homens.
O teste
rápido foi produzido por pesquisadores do Lais (Laboratório de Inovação
Tecnológica em Saúde), ligado à UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do
Norte), dentro do programa "Sífilis Não", desenvolvido pelo
laboratório e pelo Ministério da Saúde, como parte de ações de enfrentamento à
doença que ocorrem desde 2017.
O programa,
que tem o apoio da Opas/OMS (Organização Pan-Americana de Saúde), tem como
objetivo principal reduzir os casos de sífilis em gestantes e em bebês.
Como
mostrou reportagem da Folha, os novos casos de sífilis no pós-pandemia
cresceram em todas as faixas etárias. Foram registrados 213 mil casos de
sífilis no país em 2022, segundo boletim epidemiológico do ministério divulgado
na última sexta, um aumento de 23% em relação ao ano anterior. Já a sífilis
congênita, que é passada da mãe para o bebê, teve um crescimento de 17,6%,
entre 2011 e 2017, e um aumento de 16,7% subsequente.
Apesar de
os exames para detecção de sífilis e HIV fazerem parte da rotina de pré-natal,
os médicos afirmam que as gestantes não procuram o diagnóstico por medo de uma
reação do parceiro, já que ela pode sofrer violência doméstica e agressões se o
marido julgar que ela foi infiel.
Assim, a
disponibilidade de testes duplos para detecção das duas infecções sexualmente
transmissíveis pode ajudar a reduzir os diagnósticos tardios e aumentar a
prevenção de novos casos, especialmente na chamada sífilis congênita, passada
da mãe para o bebê durante a gravidez.
Para a
produção dos testes duplos (chamados "duos testes"), os pesquisadores
do Lais importam insumos e fabricaram os primeiros testes utilizados, em um
primeiro momento, em um projeto-piloto focado nas gestantes. Esta etapa do
projeto teve início em outubro do último ano na atenção primária à saúde de
Natal (RN).
Os testes
rápidos utilizam um ensaio imunocromatográfico de fase sólida para a detecção
dos anticorpos específicos para HIV ou Treponema pallidum, a bactéria causadora
de sífilis, simultaneamente em soro humano, plasma ou sangue total.
O ensaio
imunocromatográfico ficou conhecido por ser utilizado durante a pandemia da
Covid na primeira forma dos chamados testes rápidos ou sorológicos. Esses
exames ocorrem através da ligação de amostra de ouro coloidal com o conjunto
antígeno-anticorpo que se deseja investigar, produzindo uma banda. Os aparelhos
desses testes são semelhantes aos usados para testes de glicemia, onde é
colhida uma gota de sangue da ponta do dedo. Os resultados saem em menos de dez
minutos.
Embora os
testes rápidos para detecção de HIV tenham um amplo uso e distribuição pelo
SUS, a utilização de exames rápidos para sífilis acaba tendo um alcance menor
do que o esperado, segundo o próprio governo.
Além do
aumento de sífilis, o país enfrenta também um crescimento de outras ISTs,
principalmente no público mais jovem.
Apesar de
ser ter sido pioneiro na oferta de antirretrovirais pelo SUS para o tratamento
de Aids, o Brasil só cumpriu 1 das 3 metas propostas pela OMS para combater a
epidemia. Com isso, tem crescido o número de pessoas mais velhas convivendo com
o vírus.
Recentemente,
o Ministério da Saúde divulgou também um novo protocolo de diretrizes
terapêuticas para pacientes vivendo com HIV/Aids focado no público mais velho.
A iniciativa, assim como o projeto "Sífilis Não", faz parte da meta
do governo de eliminar ou controlar, até 2030, 14 doenças com elevada
incidência em regiões de maior vulnerabilidade social, como é o caso do HIV e
da sífilis.
Por Bahia Notícias