Segundo a reportagem do Correio, de hoje (19/10), o
IFBA Campus Seabra está em nono lugar dentre as dez melhores notas do ENEM, em
2022.
Um levantamento realizado pela edtech AIO Educação, revelou que nove dos 10
colégios públicos baianos com melhores notas no Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem), em 2022, fazem parte do sistema federal de ensino.
O Colégio Militar de Salvador (CMS) ocupa a
primeira colocação da lista, com 651,33 de média alcançada. Já entre os
institutos federais, o maior destaque é para um colégio situado no sudoeste do
estado: o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) de
Brumado, com média de 623,77.
Comandante do CMS, Coronel Carneiro conta que toda
a estrutura do colégio possui um alinhamento estratégico para entregar aos
alunos e alunas uma educação de qualidade, e que, no Enem, o foco da unidade de
ensino é na formação continuada e progressiva. “Nesse sentido, no Ensino
Médio, o aluno estuda e é submetido a avaliações que realizam a preparação
consistente e gradual para o ENEM e demais vestibulares e concursos. Desse
modo, os discentes passam, durante o ano, por avaliações que seguem o formato
dos processos de seleção mencionados. Além disso, buscamos, de forma
complementar, aplicação de simulados de caráter formativo e também parcerias
com cursos preparatórios”, frisa.
Inaugurado em 2016, o IFBA de Brumado conta com uma
estrutura moderna de salas de aula, laboratórios e demais ambientes acadêmicos.
Segundo Samuel Dias Dutra, diretor acadêmico do campus, esse aparato físico,
junto ao modelo de ensino e empenho docente, proporciona boas condições de
ensino, que são as responsáveis pelos desempenhos positivos dos alunos no Enem.
“Os bons resultados em processos seletivos acabam
sendo uma consequência da qualidade do ensino ofertado. O ensino praticado nos
cursos técnicos integrados parte da perspectiva da integração curricular, com
atividades interdisciplinares e transversais, aulas em laboratórios, aulas de
campo, visitas técnicas, projetos diversos. […] Temos observado com orgulho os
excelentes resultados dos nossos estudantes no Enem e demais processos
seletivos, o que é motivo de alegria e sentimento de realização”, destaca.
Assistência estudantil
Além do ensino de qualidade, Samuel menciona a
política de assistência estudantil como uma das razões do sucesso, uma
vez que confere aos estudantes em situação de vulnerabilidade social condições
de permanência na unidade. “A disponibilização de auxílio moradia, auxílio
transporte, auxílio psicológico, dentre outros, bem como o apoio da equipe
técnico-pedagógica, […] dão suporte aos estudantes e suas famílias na superação
dos desafios inerentes ao processo de aprendizagem, visando a permanência e
êxito dos discentes”, acrescenta.
No ranking, a terceira e quarta posição também são
ocupadas pelo IFBA, no campus de Salvador e Camaçari, respectivamente. A
sequência só é interrompida pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Baiano (IF Baiano), no campus Guanambi, que fica com a quinta
posição, mas a soberania é retomada e completa a lista com as unidades de
Vitória da Conquista (6º), Santo Amaro (7º), Feira de Santana (8º), Seabra (9º)
e Jacobina (10º).
Para Jancarlos Lapa, pró-reitor de Ensino do IFBA,
o bom resultado dos alunos dos colégios da instituição no Enem se deve a
experiência do Ensino Médio integrado à formação técnica. “Eu penso que a
formação técnica, junto com a formação geral, estimula o estudante a fazer uma
aprendizagem de qualidade, porque ele vai para além de uma preparação para
entrar na universidade. Ele sai habilitado em alguma profissão”, diz.
No caso do campus Salvador, o diretor geral
Ives Lima também atribui o bom desempenho da unidade à formação integrada, mas
enfatiza outros motivos, como a qualificação da equipe docente, acesso a
atividades de pesquisa e extensão, e diversidade de eventos acadêmicos. “O IFBA
não foca no vestibular e Enem, mas entende a formação discente de modo global
com ênfase em todas as áreas do conhecimento. Os docentes que ministram as
disciplinas comuns sempre dão uma atenção diferenciada ao formato de questões
do Enem, além de simulados e olimpíadas de conhecimento em diversas áreas”,
afirma.
Entre as 14 unidades do IF Baiano espalhadas pelo
estado, a unidade situada no campus Guanambi foi a única a aparecer na lista de
escolas públicas com melhores desempenhos no Enem em 2022. De acordo com
Carlito Barros, diretor do campus, o diferencial do IF Baiano de Guanambi é a
infraestrutura. “O campus Guanambi é o mais bem estruturado e se desenvolveu
muito nos últimos anos com estruturas de laboratórios, investiu em qualificação
de professores e tem o maior orçamento por conta disso. Isso tudo facilita a
aprendizagem e, hoje, o Guanambi é o maior campus do IF Baiano”, ressalta.
Ela ainda dá ênfase a diferença na preparação
durante a pandemia e na infraestrutura das escolas estaduais em comparação com
os institutos federais. “Falta infraestrutura nessas escolas para que esses
alunos tenham de fato uma aprendizagem com base na integração entre teoria e
prática. Nos últimos anos, na pandemia, os institutos federais e as escolas
privadas tiveram acompanhamento mais efetivo do que as escolas estaduais”,
frisa.
Outro ponto que a Arlete Ramos dos Santos chama
atenção e influencia no desempenho apresentado pelos colégios baianos no Enem é
a seleção que ocorre como condição para ingressar nos colégios da rede federal,
que, segundo ela, já põe em vantagens alunos com melhor base educacional. Com
políticas públicas traduzidas em infraestrutura e formação docente, além de
apoio familiar e garantias de permanência, a especialista acredita que o
desempenho se torna apenas consequência, como no caso do Colégio Militar de
Salvador e dos institutos federais.
“Os diretores das escolas estaduais não podem fazer
a mesma seleção que as escolas militares e institutos federais. Isso reflete no
resultado, mas não quer dizer que as outras escolas públicas não têm condição.
Se elas tivessem as mesmas condições que são dadas tanto nos institutos
federais como nas escolas militares, certamente também as escolas estaduais
alcançariam notas iguais ou superiores a essas escolas que têm esse padrão de
educação com condições de infraestrutura e valorização maiores”, finaliza
A Secretaria de Educação do Estado da Bahia foi
procurada duas vezes pela reportagem para se posicionar sobre a ausência de
escolas estaduais na lista, mas não respondeu às tentativas. A Associação
dos Professores Licenciados da Bahia também foi procurada para o mesmo pedido e
não respondeu até o fechamento da reportagem.
Com informações do Correio
Desafios
Apesar das boas médias obtidas no último Enem
diante de outras escolas públicas, o foco dos institutos federais, de modo
geral, não está na preparação para o exame que é porta de entrada de estudantes
nas universidades do país. Conforme afirma Samuel Dias Dutra, isso acontece
porque a missão do IFBA é oferecer uma “formação integral do cidadão em suas
múltiplas dimensões: profissional, técnica, científica, social, humana,
artística e cultural”.
Prestes a fazer a prova do Enem, Patrick
Ryan, 17 anos, cursa o 3º ano do Ensino Médio no campus do IFBA em Salvador e
não nega que a qualidade de ensino, para além da formação técnica, contribui
para uma aprendizagem crítica. Ainda assim, ele admite que uma preparação mais
específica no colégio faz falta. “Apesar de termos iniciativas pontuais no
âmbito institucional de preparação, como aulões e simulados, eu sinto falta de
uma amplitude maior dessas ações, bem como uma divulgação mais efetiva. […] Um
dos pontos negativos do IFBA é a alta carga horária, o que dificulta que o
aluno tenha horários apenas para estudar para o Enem”, aponta.
A aluna Aline Reis, 19 anos, reforça o ponto de
vista do colega. “A preparação está sendo um pouco desafiadora, pois sabemos
que o foco principal do instituto não é o Enem, mas sim a formação técnica. […]
Mesmo assim, sinto que estou preparada para fazer o Enem devido ao repertório e
preparo que venho adquirindo desde o primeiro ano do Ensino Médio, [mas]
poderia estar mais”, pontua.
Ausência de escolas estaduais
Todas as 10 escolas públicas baianas que aparecem
no ranking fazem parte do sistema federal de ensino e, ao mesmo tempo que
anunciam a eficácia do ensino no sistema, também denunciam o baixo desempenho
das escolas estaduais ausentes na listagem. Na visão da especialista em
educação Arlete Ramos dos Santos, professora da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (Uesb), isso acontece porque, nas escolas públicas estaduais,
existe uma menor valorização dos professores e faltam garantias básicas de
permanência para os alunos.
“Por exemplo, o Governo Estadual tem fechado as
escolas do campo para trazer os alunos para as cidades próximas. Nessas
cidades, a realidade desses alunos não é trabalhada e eles nem sempre têm uma
merenda e transporte adequados para fazer esse percurso. Muitas vezes, o
transporte quebra nas estradas e, quando chove, não tem como frequentar as
aulas”, relata.