Foto: Ilustração / Sarah Myers / Marinha dos EUA
Um navio de
guerra americano interceptou mísseis lançados pelo que a Marinha dos EUA
acredita ser rebeldes houthis do Iêmen, uma facção xiita apoiada pelo Irã que
disputa o poder no país ao sul da península Arábica.
Segundo o
Pentágono, os mísseis eram provavelmente direcionados a Israel, ao norte. Os
EUA prometeram apoiar o Estado judeu em sua guerra contra o Hamas, grupo
terrorista palestino que matou 1.300 israelenses em um ataque devastador no dia
7 passado.
Segundo
relatos à imprensa americana, CNN à frente, o destróier lançador de mísseis
guiados USS Carney abateu de dois a três mísseis vindos da costa de uma região
dominada pelos houthis. A Marinha dos EUA faz patrulhas constantes em toda a
região, como no mar da Arábia em que o incidente ocorreu nesta quinta (19). O
problema é o momento.
O governo
de Joe Biden enviou para o Mediterrâneo oriental, junto à costa israelense, um
grupo de porta-aviões, com um segundo a caminho. O motivo alegado é dissuadir o
Irã de se envolver na guerra que Israel trava contra o Hamas, que é apoiado por
Teerã.
Como fiador
do Hamas e do Hizbullah, ainda mais poderoso grupo anti-Israel baseado no sul
do Líbano, o Irã foi alertado de que o poder de fogo naval americano poderia atingir
seus prepostos -ou mesmo o país persa, embora essa seja uma hipótese
escalatória por ora apenas na lista de temores.
Com efeito,
o Hizbullah está promovendo ataques seguidos no norte de Israel desde que a
situação regional se agravou, visando estabelecer limites de lado a lado, o que
pode dar errado e disparar um conflito maior. Nesta quinta, houve nova e
intensa troca de fogo, com os libaneses enviando cerca de 20 foguetes contra
posições de Israel, a maior barragem na crise atual.
Os houthis
do Iêmen vivem uma guerra civil com o regime autoritário local desde 2014. No
ano seguinte, a Arábia Saudita, rival do Irã, interveio em favor da ditadura
acossada do país árabe. Segundo a ONU, talvez 80% dos 4,5 milhões de iemenitas
foram deslocados de suas casas pela guerra, que matou algo como 350 mil
pessoas.
Desde que a
China promoveu a reaproximação entre Riad e Teerã, algo consumado no
restabelecimento de relações diplomáticas neste ano, o esforço para pôr fim ao
conflito foi intensificado -uma delegação houthi foi recebida na Arábia Saudita
no mês passado.
Agora, a
guerra em Israel jogou areia em todo o processo, ainda que haja uma linha
aberta entre iranianos e sauditas, os verdadeiros poderes por trás dos
beligerantes. O episódio com o navio gera apreensão, caso sejam confirmadas a
autoria e a intenção, devido ao clima geral no Oriente Médio, onde os EUA têm
cerca de 30 mil militares estacionados.
Na véspera,
o presidente russo, Vladimir Putin, havia jogado com essa preocupação ao dizer
que caças armados com mísseis hipersônicos passariam a patrulhar uma área do
mar Negro, 1.300 km ao norte, com capacidade de monitorar e alvejar os navios
americanos no Mediterrâneo oriental -notadamente, o mais novo e maior
porta-aviões dos EUA, o USS Gerald Ford.
O navio do
incidente desta quinta, o USS Carney, havia entrado no mar Vermelho na quarta
vindo do canal de Suez (Egito), segundo a Marinha americana para "ajudar a
estabilidade do Oriente Médio". Os mísseis que interceptou vieram da costa
do antigo Iêmen do Norte, dominada pelos houthis.
O incidente
eleva o temor de que a guerra em Israel se transforme num sangrento conflito
regional. Os sauditas vinham se aproximando de Tel Aviv, a quem não reconhecem,
na esteira dos acordos do Estado judeu com países como os Emirados Árabes
Unidos, em 2020.
A ação do
Hamas teve o condão de colocar em risco todo o plano, dado que país árabe algum
pode ser visto como muito amigo de Israel neste momento em que civis palestinos
morrem sob bombas na Faixa de Gaza, hipocrisia de todos os lados à parte.
O incidente
no Iêmen traz ecos do ataque terrorista com um bote suicida contra o USS Cole,
um destróier da mesma classe do USS Carney. Em 2000, um ano antes do 11/9, a
rede terrorista Al Qaeda de Osama bin Laden (1957-2011) conseguiu matar 37
marinheiros no navio com uma explosão, que danificou seu casco, enquanto o Cole
abastecia em Aden, porto no Iêmen.