Foto: Fabio
Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
A
taxa de analfabetismo em crianças brasileiras dobraram durante a pandemia de
Covid-19, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef). Os dados são do relatório Pobreza Multidimensional na Infância
e Adolescência no Brasil, que foi divulgado nesta terça-feira (10).
O Unicef
analisou o acesso de crianças e adolescentes a direitos básicos: renda,
educação, informação, água, saneamento e moradia. O relatório é baseado
na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“A gente
parte do princípio de que os direitos das crianças são prioritários e todos são
igualmente importantes”, explica Santiago Varella, especialista em políticas
sociais do Unicef a Agência Brasil.
O relatório
mostrou ainda que “os dados da privação relativa a estar na escola na idade certa
podem ser resultado da aprovação automática na pandemia”. Para a organização, o
número mostra “abordagens mais cautelosas e contextualizadas ao interpretar
dados educacionais em tempos de crise”.
A
alfabetização, teve um sinal de alerta emitido pelo levantamento, já que
obteve uma piora no analfabetismo. A proporção de crianças de 7 anos de idade
que não sabem ler nem escrever subiu de 20% para 40% de 2019 para 2022. Mesmo
caso aconteceu com crianças de 8 anos de idade. De uma taxa de 8,5%, em 2019, houve
um aumento para 20,8%,no ano passado. Para as crianças de 9 anos de idade, a
proporção cresceu de 4,4% para 9,5%, de 2019 para 2022.
A
disparidade entre negros e brancos também foi apresentada na pesquisa. O
percentual de crianças brancas de 7 a 10 anos de idade consideradas analfabetas
era de 6,3% em 2019 e 15,1% em 2022. Já entre as negras, 10,6% e 21,8%,
respectivamente.
O
levantamento mostrou ainda que o Brasil reduziu o percentual de pessoas com até
17 anos de idade com alguma privação. Em 2016, a proporção era de 66,1%. Já em
2019, último ano antes da pandemia, foi registrado 62,9%. A taxa no ano
passado obteve 60,3%.
O
percentual representa 31,9 milhões de crianças e adolescentes de um total de
52,8 milhões no país. "Uma tendência de queda que a gente acha muito lenta
ainda”, analisa Varella.
"Olhar
a pobreza multidimensional tendo a perspectiva temporal de 2022 é muito
relevante porque a gente começa a entender o que está significando para a vida
das crianças e dos adolescentes a recuperação do período pós-pandemia",
afirmou.
Os dados
apresentados pelo Unicef indicaram também um padrão de disparidades regionais e
raciais.Só no ano passado, o Norte e o Nordeste protagonizaram os piores
índices de crianças e adolescentes com alguma privação.
Nenhum
estado estava abaixo da marca de 70% (quanto maior o percentual, piores as
condições da população até 17 anos). Os estados que registraram os maiores
resultados negativos foram o Pará, Amapá, Maranhão e Piauí, que obtiveram
acima de 90%.
O Sul e o
Sudeste apareciam com os melhores índices. Em especial São Paulo com 35,7%. Em
outra região, o Distrito Federal apresentou bom resultado, com a segunda melhor
taxa do país, 37,6%.
Desde 2016,
o panorama de jovens de 4 a 17 anos de idade com acesso à escola na idade
correta segue tendo uma trajetória crescente.No ano passado, 93,8% deles
estavam na série adequada, 3,4% tinham uma privação intermediária e 2,9%,
privação extrema.
Santiago
Varella liga esses dados diretamente ao fechamento das escolas durante a
pandemia. “Essas crianças estavam no processo mais sensível, talvez, da vida
educacional, que é a alfabetização. Essa piora reflete a dificuldade e o
caráter lento que a recuperação do direito à aprendizagem demanda”, avalia.
"É preciso um esforço concentrado para que esse passivo da pandemia não se
prolongue", defende.