Foto: Rodrigo Nunes / Ministério da Saúde
Desde agosto, em todo o país, as
pessoas vítimas de violência sexual, de 9 a 45 anos, têm direito à vacina
contra o HPV (papilomavírus humano) no SUS (Sistema Único de Saúde).
Devido ao risco aumentado de
contrair doenças relacionadas ao vírus, a OMS (Organização Mundial da Saúde)
recomendou que este público seja considerado como prioridade nos programas de
saúde pública.
Segundo nota técnica do
Ministério da Saúde, em São Paulo, 30% das vítimas de violência sexual
atendidas nos serviços especializados desenvolvem lesões pelo HPV
posteriormente e apresentam vulnerabilidade social e comportamental de risco,
como abusos frequentes. Entre os casos de violência sexual registrados no
estado de São Paulo anualmente, cerca de 80% ocorrem em faixas etárias abaixo
dos 40 anos de idade.
A assessoria de imprensa do
Ministério da Saúde disse que, como a medida é recente, não é possível ter um
dado consolidado sobre o quantitativo de vacinas para atender o novo grupo
prioritário no país.
São Paulo, segundo a Secretaria
Estadual de Saúde afirmou em nota, ampliou a vacinação contra o vírus HPV para
vítimas de violência sexual em maio deste ano.
O estado recebe cerca de 100 mil
doses mensais do imunizante --o mesmo de antes da inclusão deste grupo no
público-alvo para a vacinação contra o vírus.
Segundo a secretaria, com base
nos dados de violência sexual do estado de São Paulo, estima-se um público para
vacinação de cerca de 5.000 vítimas por ano, número que não impacta na quantidade
de doses da vacina contra HPV recebidas do PNI (Programa Nacional de
Imunizações).
Além disso, para a solicitação e
distribuição dos imunobiológicos, os técnicos da Divisão de Imunização do
estado realizam mensalmente uma análise minuciosa dos números solicitados pelas
regionais e estoque.
"Isso não é Profilaxia
Pré-Exposição [PrEP]. O objetivo não é esse. A maioria das vítimas de violência
sexual é reexposta dentro de casa. Nos Estados Unidos, vários países indicam a
vacinação nessa situação específica", afirmou a infectologista do
Instituto de Infectologia Emilio Ribas e coordenadora do Comitê de Imunizações
da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Rosana Richtmann.
A pesquisadora participou do 23º
Congresso Brasileiro de Infectologia, realizado em Salvador (BA). A médica
também defendeu a imunização gratuita de quem usa a PrEP.
No SUS, a vacina contra o HPV é
quadrivalente, voltada a crianças e adolescentes de 9 a 14 anos. A aplicação é
em duas doses. Ela protege contra infecções persistentes e lesões
pré-cancerígenas causadas pelos tipos de HPV 6,11,16,18.
Pessoas de 9 a 45 anos vivendo
com HIV/Aids, transplantados e pacientes oncológicos --grupos com maior risco
de desenvolver complicações-- também podem receber o imunizante, nas UBS
(Unidades Básicas de Saúde) ou nos CRIEs (Centros de Referência para
Imunobiológicos Especiais). O esquema é de três doses, independentemente da
idade.
A rede privada disponibiliza a
nonavalente. Fabricado pela farmacêutica MSD, o imunizante é formulado com nove
sorotipos, cinco a mais se comparado com a vacina que já existe no país.
O HPV é associado aos cânceres
de colo do útero, de pênis, vulva, canal anal e orofaringe, além das verrugas
genitais.
Segundo a OMS o vírus é
responsável por mais de 95% dos casos de câncer de colo uterino, doença que
mata, em média, cerca de 340 mil mulheres a cada ano.
No Brasil, a adesão à vacina
contra o HPV não atinge o nível recomendado pela OMS --cobertura vacinal de 90%
entre as meninas de até 15 anos; 70% de cobertura da triagem com teste de alto
desempenho (aos 35 anos e novamente aos 45 anos); índice de tratamento de 90%
para mulheres com pré-câncer tratadas e de mulheres com câncer invasivo.
Rosana Richtmann defende a dose
única da vacina contra o HPV para aumentar a cobertura vacinal. Além disso, a
medida ampliaria a faixa etária e a proteção.
A infectologista é uma das
autoras de um artigo que reúne resultados positivos na literatura sobre os
efeitos da dose única nos programas de vacinação.
Um dos estudos é do Quênia. Uma
dose da vacina contra o papilomavírus humano é altamente eficaz para evitar
infecções durante três anos, provavelmente reduzindo as taxas de câncer do colo
do útero, também conhecido como câncer cervical, e outras doenças ligadas ao
vírus.
Na Índia e na Costa Rica, dois
estudos mostram que a proteção contra infecções por HPV após a administração de
uma dose é semelhante a duas ou três doses e dura pelo menos dez anos após a
vacinação.
No Brasil, cerca de 15 mulheres
morrem por dia, em média, em decorrência do câncer de colo de útero, de acordo
com o Inca (Instituto Nacional do Câncer).
A repórter viajou a convite da
Sociedade Brasileira de Infectologia.