A onda de calor no país está puxando o
consumo de energia para níveis recordes para o mês de setembro, segundo dados
do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), enquanto o varejo vê dispararem
as vendas de aparelhos de ar condicionado.
Na segunda semana do mês, por exemplo, a carga do SIN
(sistema interligado nacional) bateu 73,5 mil MW (megawatts) médios, já um
recorde para o mês de setembro --o maior valor anterior havia sido registrado
na última semana de setembro de 2021: 71 mil MW médios.
Nesta sexta-feira (22), dia em que a cidade de São Paulo
bateu o recorde de calor do ano, a carga chegou a bater 81,2 mil MW médios. Na
quinta (21), a demanda máxima atingiu pico de 90,9 mil MW às 16h37, a maior
desde os 97,3 mil MW registrados às 16h do dia 14 de fevereiro.
A previsão do ONS é que setembro feche com um consumo de
energia de 75,2 mil MW (megawatts) médios, alta de 5,8% em relação ao mesmo
período do ano anterior. Se confirmado, será o maior valor já registrado para o
mês, de acordo com dados históricos do operador.
"A previsão de crescimento da carga para setembro é a
maior dos últimos meses, reflexo do calor mais intenso e também de uma economia
mais aquecida", disse, em nota divulgada na sexta-feira (22), o presidente
do ONS, Luiz Carlos Ciocchi.
A aceleração mais expressiva no consumo deve ser
registrada na região Norte (10,6%), que conta com o retorno das operações de um
grande consumidor industrial. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, a previsão é
de aumento de 6,1%; no Nordeste, de 4,2%.
Atingida por temporais durante o mês, a região Sul tem a
menor previsão de aumento do consumo em relação ao mesmo mês do ano anterior,
de 3,8%.
Com reservatórios cheios, porém, o sistema nacional de
energia não tem dificuldades para atender ao aumento da demanda, diz Ciocchi.
"Seguimos preparados para atender a sociedade brasileira. O sistema é
robusto, seguro e o cenário é favorável."
Nesta sexta-feira (22), por exemplo, os níveis dos
reservatórios das hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, a principal
caixa d'água do setor elétrico brasileiro, estavam nas melhores condições para
o mesmo dia em 24 anos.
Alguns dos maiores representativos reservatórios dessas
regiões, como os das usinas hidrelétricas de Furnas, no rio Grande, e
Emborcação, no rio Paranaíba, iniciaram o dia com o melhor nível de
armazenamento dos últimos 19 anos, informou o ONS.
No varejo, o sentimento é de otimismo em relação à
indústria de ar-condicionado, que já projeta fechar o ano com alta de até 10%
nas vendas, depois de fechar 2022 com queda de 26% na produção de
ar-condicionado do tipo split e de 81%, entre os de janela.
"Nosso principal influenciador é São Pedro e ele está
nos ajudando muito neste ano", brinca Jorge do Nascimento,
presidente-executivo da Eletros (Associação Nacional dos Fabricantes de
Produtos Eletroeletrônicos).
As temperaturas elevadas dos últimos dias levaram o
consumidor às compras. Entre os dias 10 e 20 de setembro, a plataforma Shopee
registrou alta de 400% no volume de buscas por ventiladores em seu site e
aplicativo, na comparação com o mesmo período do ano passado.
As vendas desse produto cresceram 200%. Por
ar-condicionado, o aumento nas buscas foi de 250%. Na rede Magazine Luiza, as
vendas de ares-condicionados aumentaram 72%, principalmente nas regiões
Nordeste e Sudeste. No ecommerce, a empresa registrou crescimento de 49% nas
vendas em setembro.
A baixa umidade relativa do ar também turbinou a procura
por aparelhos umidificadores, que subiu 80%.