O governo do presidente Lula (PT) retirou as grades que cercavam o Palácio do Planalto na manhã desta quarta-feira (10), após um período de dez anos.
Lula afirmou que a mudança representa a volta à normalidade no Brasil e que as "democracias não exigem muros". O presidente também disse que vai retirar as grades do Palácio da Alvorada, a residência oficial, e conversar com os presidentes do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal) para que também retirem as barreiras de contenção.
Ao comentar a iniciativa de retirar as grades do Alvorada, o mandatário ainda aproveitou para criticar os ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), acrescentando que as estruturas da defesa foram posicionadas porque quem fez coisa errada "tem medo".
"Aquilo [a colocação das grades] foi feito já num momento em que o PT já não governava mais o país. Aquilo foi feito pelo Temer. Significa que quem faz coisa errada tem medo. E aquilo ficou durante todo o mandato do 'coisa' [referência a Bolsonaro]", afirmou Lula.
O presidente saiu de seu gabinete na tarde desta quarta para visitar a frente do Palácio do Planalto, já sem as grades. Ele desceu a rampa, conversou com jornalistas e abraçou apoiadores.
O mandatário ainda afirmou não se sentir inseguro pela falta de grades. Disse que ao longo de sua história foi contra muros, citando o que existia em Berlim e o atual, entre Israel e Palestina.
"A democracia voltou neste país. O palácio não precisa estar cercado de grades. Não é que estou inseguro, é que eu tenho certeza absoluta que a democracia não suporta grades. Eu era contra o muro de Berlim, eu sou contra o muro entre Israel e Palestina. Sou contra o muro que o Trump tentava construir no México. E sou contra o muro aqui na frente do Palácio", afirmou o presidente.
Na sequência, Lula ainda disse que vai pedir ao novo comandante do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) para remover toda a estrutura de segurança atualmente implementada nas cercanias do Palácio da Alvorada, englobando também o Palácio do Jaburu, residência do vice-presidente. Em tempos passados, o público poderia chegar até a frente do espelho d'água do Alvorada, sem nenhuma barreira.
"Tirar isso aqui é uma demonstração de que o Brasil está voltando a normalidade. Isso aqui nunca teve muro. Eu fui presidente durante oito anos. Quando tiver um evento que tiver que ter uma proteção para garantir, inclusive a segurança do povo, você bota uma grade simples como em qualquer lugar e depois você retira depois do evento. Mas ficar o palácio cercado o tempo inteiro [é inviável]", afirmou.
"Eu falei para o [ministro do GSI] general Amaro que é preciso tirar aquela muralha de frente a casa do Alckmin. Ou seja, se o Brasil viveu um momento de constrangimento democrático e era preciso cercar a casa, quando se é presidente não é preciso. É só exercitar a democracia", completou.
Lula também disse que não pode tomar decisão em nome dos presidentes do Congresso e do STF, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e ministra Rosa Weber, respectivamente. No entanto, afirmou que vai conversar com elas para desobstruir também a praça dos Três Poderes.
"A gente não precisa estar cercado. Cada um cuida do seu. Se a Suprema Corte quiser tirar, eu acho que não precisa [se sentir inseguro], não precisa porque nós temos segurança. Só não pode negligenciar como da outra vez", afirmou.
Segundo o ministro Paulo Pimenta (Secom), a determinação foi dada pelo próprio chefe do Executivo. Ele disse se tratar de uma questão simbólica.
"[Lula] acha que o ambiente politico que o país está vivendo não justifica essa necessidade, do ponto de vista da beleza da cidade. Momento de união e reconstrução não pode ter esse monte de gradil", disse Pimenta a jornalistas no Planalto.
O Planalto está com as cercas, ao menos, há dez anos, desde os protestos de 2013, quando Dilma Rousseff (PT) era presidente. Desde então, foram mantidas.
Lula já tinha criticado as grades em uma cerimônia de reajuste de funcionários públicos no final de abril. Na ocasião, ele falava do Palácio da Alvorada, que não tem mais o cercadinho para jornalistas, mas uma sequência de cones determina o local de acesso.
"Não é possível que tenha que ter um monte de muralha para poder chegar na casa do presidente, que era uma coisa para tirar fotografia. Eu vou aos poucos retirando aquilo lá", disse.
O Planalto é o local onde despacha o presidente e seus principais ministros: Casa Civil, Secretaria de Relações Institucionais, Secretaria-Geral, Gabinete de Segurança Institucional e Secom. Em 8 de janeiro, foi palco de atos golpistas e alvo de depredação de apoiadores do ex-presidente Bolsonaro descontentes com o resultado das urnas.
A retirada das grades é feita pelo GSI, desde a semana sob o comando do general Marcos Antonio Amaro, que sucedeu general Gonçalves Dias. O ex-ministro foi demitido após desgaste gerado por imagens divulgados do Planalto em 8 de janeiro.
Em nota enviada à reportagem, o ministério disse que as grades foram retiradas para manutenção. "Poderão ser utilizadas novamente para complementar e reforçar as medidas de segurança quando a situação recomendar ou com a finalidade de melhor organizar eventos", diz o texto.