A Bolsa está em queda nesta quarta-feira (5), com os investidores reagindo principalmente ao anúncio de mudança na política de preços da Petrobras. Segundo analistas, o mercado sempre fica muito sensível a qualquer sinal de interferência política em estatais, especialmente na petroleira.
O dólar também recua, assim como os juros, influenciados principalmente por dados da economia americana. Os números mostram uma desaceleração maior que a esperada pelos economistas.
Às 13h20 (horário de Brasília), o Ibovespa operava em baixa de 1,02%, a 100.827 pontos. Na mínima do dia, o índice chegou a ficar abaixo dos 100 mil pontos. O dólar comercial à vista cai 0,74%, a R$ 5,045, caminhando para fechar no menor patamar desde 15 de junho de 2022.
Os juros futuros estão em queda. Para janeiro de 2024, as taxas variam de 13,23% do fechamento desta terça-feira (4) para 13,21%. Nos contratos para janeiro de 2025, os juros recuam de 11,99% para 11,96%. No vencimento em janeiro de 2027, a taxa cai de 11,99% para 11,89%.
Em entrevista ao canal GloboNews, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que haverá mudanças na política de preços da Petrobras. A empresa deixará de lado a paridade com os preços internacionais dos combustíveis, e vai adotar um parâmetro baseado no mercado interno.
Segundo Silveira, a medida deve provocar uma queda entre R$ 0,22 e R$ 0,25 no preço do litro do diesel. Ele chamou de "absurdo" a política de paridade internacional, e que a Petrobras terá que criar um colchão para amortecer as variações nos preços provocadas por crises internacionais.
Silveira afirmou ainda que a Petrobras já tem orientação para alterar as diretrizes, e a previsão é que as mudanças comecem a ser aplicadas após a assembleia geral da estatal, marcada para o fim deste mês, que é quando o conselho da empresa deverá ser renovado, com representantes do novo governo.
"A partir daí, o equilíbrio entre o conselho e a diretoria vai visar buscar a implementação dessa nova política de preço", afirmou Silveira.
Para Fernando Bento, CEO e sócio da FMB Investimentos, o anúncio representa uma "interferência política" do governo na Petrobras. "Isso acaba penalizando bastante as ações da empresa", afirma Bento.
As ações ordinárias e preferenciais da Petrobras chegaram a cair mais de 4% quando atingiram a mínima do dia, e por volta das 13h20, recuavam 1,20% e 1,35%, respectivamente
Mas a Bolsa local sofre também com o aumento das preocupações com uma recessão da economia dos Estados Unidos, segundo Bento.
Os impactos são sentidos especialmente por empresas exportadoras. A ação ordinária da Vale recuava cerca de 2%, e a ordinária da Suzano caía mais de 4%.
Um dado americano que chamou a atenção do mercado nesta quarta-feira foi o levantamento PMI do setor de serviços. Ele é medido em pontos, e quando fica acima de 50, indica expansão. Abaixo deste patamar, aponta retração.
O PMI de serviços em março nos Estados Unidos ficou em 51,2 pontos, ante 55,10 em fevereiro. A média das projeções de economistas ouvidos pela Bloomberg era de 54,4 pontos.
O mercado de trabalho também registrou forte desaceleração em março. O relatório ADP, que mostra como está a criação de vagas no setor privado americano, registrou a abertura de 145 mil postos de trabalho em março, ante 261 mil em fevereiro.
Os indicadores divulgados nesta quarta-feira levam a uma chance maior, segundo economistas, de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) faça uma pausa no ciclo de alta dos juros.
Mas Loretta Master, presidente do Fed de Cleveland, reforçou que os juros devem subir mais e ficar em patamares elevados por mais tempo, para levar a inflação à meta de 2% ao ano. Para analistas, os dados de inflação que serão anunciados na próxima semana terão peso importante na próxima reunião para decisão sobre juros, em maio.
Em Nova York, os receios de que o país esteja perto de uma recessão pesam mais que a perspectiva de pausa na alta dos juros. Às 13h20 (horário de Brasília), o índice Dow Jones tinha alta de 0,12%. Mas os índices S&P 500 e Nasdaq recuavam 0,47% e 1,41%, respectivamente.