Os senadores baianos Angelo Coronel (PSD) e Otto Alencar (PSD) se desentenderam, na manhã desta terça-feira (28), durante uma audiência pública que debate denúncias de fraude no âmbito das lojas Americanas. A discordância entre os parlamentares se deu quando Coronel defendeu maior parcimônia com os responsáveis pela empresa em recuperação judicial.

 

“É importante que o Senado tenha muito cuidado a esse respeito, porque esta audiência pública só está sendo realizada, na minha ótica, porque é uma empresa que tem ações na bolsa. Porque o Senado da República nem a Câmara dos Deputados não têm a prerrogativa de trazer para aqui uma empresa privada para discutir o seu modus operandi de contratar ou distratar. Isso é uma questão particular do empresariado brasileiro e mundial. Mas, como se trata de uma empresa que tem ações na bolsa, que é regida e fiscalizada pela CVM [Comissão de Valores Mobiliários], aí é uma outra situação”, disse Coronel.

 

Otto chegou a interromper o correligionário, enfatizando que a CVM – autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda que fiscaliza o mercado de valores mobiliários no Brasil – tem envolvimento com o caso da Americanas e, por esse motivo, a audiência pública teria total interesse público.

 

“Dentro de poucos momentos, nós vamos ouvir aqui o Dr. João Pedro, que é da CVM. É um órgão público e, por isso, vale tranquilamente a audiência pública. A audiência pública vale porque tem a CVM envolvida”, comentou Otto.

 

Neste momento, Coronel retrucou, em defesa dos empresários responsáveis pelas lojas Americanas.

 

“Mas nós não podemos aqui uma campanha de matar uma empresa que gera 40 mil postos de trabalho”, defendeu Coronel, que é vice-presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), onde ocorreu a audiência pública.

 

Responsável por requerer a realização da audiência pública, Otto então lembrou do caso de Moacir de Almeida Reis, diretor de operações da Forte Minas, empresa que era fornecedora das Americanas, que teve prejuízo milionário com a fraude ocorrida com o parceiro. Moacir chegou a sofrer um infarto.

 

“Senador, quer se esclarecer o porquê tantos acionistas, fornecedores como ele – que teve um infarto do miocárdio, podia ter morrido por uma ação dessa –, vão continuar penando sem receber aquilo que é de direito deles. Ninguém quer aqui acabar com a empresa. Mas existe uma fraude e a fraude precisa ser investigada”, reclamou Otto.

 

Após a fala do colega, Coronel tentou se explicar, afirmando que apenas espera que todos os lados envolvidos tenham a oportunidade de se explicar durante a audiência pública sobre o caso.

 

“Eu quero deixar claro que eu não sou advogado. Sou engenheiro. Mas eu não gosto de ver empresário nenhum ser sacrificado, massificado, sem ter o direito de se explicar. O direito de explicação vale para todos os lados: tanto para o lado que acusa quanto que está sendo a vítima”, afirmou.

 

“Da mesma maneira que ele diz que investiu para abrir a empresa dele, eu perguntei se ele fez um contrato ad eternum. Porque ele queria que as Americanas, mesmo que fechasse, tivesse que mantê-lo. Ele nunca foi chamado pelas Americanas, segundo ele, para fazer um contrato que dissesse: ‘você vai ser meu fornecedor até o final das nossas vidas’. Isso não aconteceu. Pelo menos foi o que o senhor Moacir falou aqui. Na relação cliente-fornecedor, eu posso lhe contratar e lhe demitir amanhã”, concluiu Coronel.

 

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