O Comando Europeu das Forças Armadas dos Estados Unidos divulgou nesta quinta (16) um vídeo com imagens da interceptação de um drone americano por dois caças russos no mar Negro que levou à derrubada do aparelho não tripulado em meio à Guerra da Ucrânia.
O vídeo captado pelo drone MQ-9 Reaper, editado, mostra duas passagens em que os jatos Su-27 russos armados com mísseis ar-ar passam muito perto do aparelho aparentemente despejando combustível –uma manobra de ataque nunca antes registrada, visando afetar sensores e motor do avião americano.
A imagem causa estranhamento porque válvulas de despejo de combustível ficam nas asas de aviões, e muitos caças nem as têm. A trilha de vapor que aparece no vídeo pode ser apenas o piloto acelerando o caça perto do drone, talvez para causar instabilidade.
Na segunda passagem, bastante próxima, a imagem é cortada. Segundo os americanos, isso prova o choque com a hélice do aparelho, que o levou a cair no mar Negro. Os russos, até aqui, confirmavam a interceptação, mas negavam ter ocorrido o contato e atribuíram a queda do drone de US$ 30 milhões (R$ 160 milhões) a uma manobra brusca.
O incidente ocorreu na terça (14) e abriu uma crise entre as duas maiores potências atômicas, antagonistas no teatro de operações da Ucrânia, país invadido pelos russos em 24 de fevereiro de 2022 que recebe apoio militar maciço de Washington e seus aliados.
O mar Negro banha a região conflagrada, a Crimeia anexada em 2014 por Vladimir Putin e os arredores, divididos entre a Rússia, países centro-asiáticos e também membros da Otan (aliança militar ocidental) como a Romênia, de onde Reaper havia decolado para sua missão de espionagem e vigilância.
Ao longo da quarta (15), russos e americanos trocaram acusações, mas de modo a asseverar suas posições políticas e não para escalar a crise, maior temor em caso de incidentes como esse.
O mais grave na história recente havia ocorrido em 2001, quando um caça chinês atingiu um avião-espião dos EUA no mar do Sul da China, caindo. O aparelho americano teve de pousar em solo chinês e foi inspecionado.
Isso dito, interceptações ocorrem todas as semanas nos palcos mais sensíveis da geopolítica, como os mares Negro e Báltico, o estreito de Taiwan, o mar do Sul da China ou a região do Alasca. No Negro, um caça russo já havia disparado um míssil perto de um avião-espião britânico em outubro, incidente que o Kremlin disse ter sido acidental.
O incidente desta semana foi o mais sério desde a invasão russa da Ucrânia, levantando temores de um agravamento das já deterioradas relações entre Moscou e Washington.
Apesar das trocas retóricas, ao fim da quarta os chefes da Defesa dos países, o ministro Serguei Choigu e o secretário Lloyd Austin, conversaram por telefone para reafirmar suas posições e, teoricamente, encerrar o caso. Também houve uma conversa ainda mais rara entre o principal general americano, o chefe do Estado-Maior Conjunto Mike Milley, e o seu equivalente russo, Valeri Gerasimov, que é o comandante da guerra na Ucrânia.
A divulgação do vídeo, contudo, pode reabrir a temporada de recriminações. Os EUA estavam espionando atividades russas e o cenário da guerra à distância, como fazem todos os dias.
Não chamaram a abordagem russa de ilegal, pois não foi, mas a classificaram como antiprofissional e agressiva, o que o vídeo prova –mesmo que tenha sido editado e o choque seja falso, como já sugerem blogueiros militares pró-Rússia.
Já Moscou afirma que apenas fez seu trabalho, já que segundo os russos o drone invadiu o espaço aéreo restrito imposto pelo Kremlin em toda a região desde o começo da guerra. Os EUA não negaram isso, mas não reconhecem essa limitação por considerar a invasão ilegal.