De 2023 a 2025, o Brasil terá 704 mil novos casos de cânceres a cada ano. A estimativa resulta em mais de 2 milhões de novos diagnósticos da doença no próximo triênio. Os dados são do Inca (Instituto Nacional do Câncer) e foram divulgados nesta quarta-feira (23) no documento "Estimativa 2023 - Incidência de Câncer no Brasil".
 

No levantamento anterior, que estimou os números do aparecimento da doença entre 2020 e 2022, a taxa era de 625 mil novos casos a cada ano. A comparação das duas avaliações, no entanto, não é recomendada por Marianna Cancela, pesquisadora da Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev) do Inca.
 

Ela explica que de uma estimativa para outra alterações podem ocorrer na metodologia, afetando a analogia entre elas. No caso do estudo mais recente, dois tipos de tumores foram adicionados na análise: de pâncreas e de fígado.
 

"Eles foram incluídos porque, em certas regiões do Brasil, estão tendo uma influência significativa", afirma Cancela. Na região Sul, por exemplo, o câncer de pâncreas será o sexto mais comum entre as mulheres. Já o câncer de fígado ocupará a sétima posição entre os mais prevalentes nos homens residentes no Norte do país.
 

Além desses dois tipos de tumores, outros 19 compuseram a estimativa. A metodologia do estudo consiste em examinar dados de casos e mortalidade por cânceres disponibilizados em bancos de dados públicos para predizer o cenário dos próximos anos.
 

No levantamento recém-divulgado, o câncer com maior prevalência é o de pele não melanoma, totalizando cerca de 31% do total esperado para os próximos três anos. De certa forma, isso já era esperado: é comum o paciente ser diagnosticado com esse tumor de forma simultânea a outro.
 

Cancela diz que esse tipo tende a ter uma taxa de letalidade mais baixa. Por isso, em algumas partes da análise do Inca, o tumor é separado dos outros.
 

"Em termos de planejamento para saúde pública, é interessante fazer essa separação, porque eles são uma categoria em que, geralmente, o tratamento é menos complexo", afirma a pesquisadora.
 

O estudo também examinou as diferenças de incidência das doenças cancerígenas entre homens e mulheres. Desconsiderando o câncer de pele não melanoma, o mais comum nos próximos três anos para eles é o de próstata. Para as mulheres, a posição é ocupada pelo tumor de mama.
 

Em seguida, o câncer colorretal aparece como o segundo colocado para homens e mulheres. O tumor ultrapassou o de pulmão e de colo de útero, dois que historicamente eram mais prevalentes para eles e para elas, respectivamente.
 

Cancela afirma que uma das razões para o câncer de colo de útero cair para a terceira posição entre as mulheres foi o impacto positivo da disseminação de exames preventivos, como o papanicolau. Em relação ao câncer de pulmão, a queda na prevalência masculina está relacionada com políticas antitabagistas que dificultam os hábitos de fumantes no país.
 

Esse ponto se relaciona com o fato de que a adoção de hábitos não saudáveis, como sedentarismo e má alimentação, por uma parcela significativa da população leva os riscos de desenvolvimento de doenças cancerígenas. Por isso, Cancela diz que é importante "trabalhar mais com os fatores de risco para diminuir a incidência".
 

Cenário brasileiro Embora a comparação entre diferentes estimativas não seja indicada por Cancela, ela indica que o Brasil passa por uma tendência no aumento dos casos da doença. Além dos hábitos já mencionados que acarretam maiores riscos para os tumores, o envelhecimento da população explica o crescimento dos diagnósticos.
 

Um exemplo é da incidência maior de cânceres no Sul e Sudeste do Brasil em comparação ao resto do país. Cancela afirma que essas regiões contam com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais alto, ocasionando um maior número de idosos. Como a idade avançada é um importante fator de risco para aparecimento de tumor, é esperado que essas regiões registrem um maior número de diagnósticos.
 

Mesmo com o aumento dos casos de cânceres, o Brasil ainda figura abaixo da média global. Ao realizar uma análise da incidência ajustada, que consiste em comparar todos os países como se tivessem a mesma distribuição de habitantes por faixa etária, foi observado que a prevalência no Brasil está em cerca de 20 diagnósticos a menos comparado a média global a cada 100 mil habitantes.
 

Para Cancela, uma grande vantagem das estimativas realizadas pelo Inca é indicar o aumento dos diagnósticos da doença para uma maior preparação do ecossistema de saúde brasileira.
 

"Nós projetamos esses números para que o sistema [SUS] possa se adaptar ao que pode esperar", conclui.