O PIB (Produto Interno Bruto) caiu em 24 das 27 unidades da federação em 2020, o ano inicial da pandemia. É o que indicam dados divulgados nesta quarta-feira (16) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
 

Somente dois estados conseguiram registrar variações positivas em 2020: Mato Grosso do Sul (0,2%) e Roraima (0,1%).
 

Mato Grosso (0%) foi o único a mostrar estabilidade. Houve influência da agropecuária nesses três locais, apontou o IBGE.
 

O ano de 2020 foi marcado por boas condições de safra em estados produtores, com exceção do Rio Grande do Sul, e preços elevados de commodities agrícolas como soja e milho.
 

Em outras palavras, o desempenho do campo atenuou efeitos negativos da pandemia sobre a atividade econômica nas cidades.
 

Conforme o IBGE, 12 estados amargaram baixas mais intensas do que o recuo do PIB na média nacional (-3,3%). O Rio Grande do Sul teve a maior retração (-7,2%).
 

Ceará (-5,7%), Rio Grande do Norte (-5%), Espírito Santo (-4,4%), Rondônia (-4,4%) e Bahia (-4,4%) vieram na sequência.
 

Alagoas (-4,2%), Acre (-4,2%), Pernambuco (-4,1%), Paraíba (-4%), Piauí (-3,5%) e São Paulo (-3,5%) também caíram mais do que a média brasileira.
 

O ano inicial da crise sanitária forçou a adoção de medidas de isolamento social em centros urbanos. A baixa circulação de pessoas derrubou setores dependentes da interação direta com consumidores.
 

Foi o caso de parte dos serviços, o principal segmento da economia nacional. Entram nessa lista bares, hotéis, restaurantes, escolas e comércios.
 

No Rio Grande do Sul, a queda foi intensificada pela agricultura, devido a uma estiagem, sinalizou o IBGE. A falta de chuva castigou as lavouras. O desempenho negativo da indústria de transformação, impactada pela preparação de couros, também pesou no resultado gaúcho.
 

São Paulo respondeu por 31,2% do PIB nacional em 2020, ante 31,8% em 2019. Apesar da baixa de 0,6 ponto percentual, associada a perdas em atividades financeiras e alojamento e alimentação, o estado continuou com a maior participação do país.
 

Rio de Janeiro (9,9%) e Minas Gerais (9%) vieram na sequência. O Paraná (6,4%), por sua vez, avançou do quinto para o quarto lugar em razão do ganho relativo na agropecuária. Assim, deixou o Rio Grande do Sul (6,2%) para trás.
 

DF TEM MAIOR PIB PER CAPITA, E RJ PERDE POSIÇÕES
 

O PIB per capita do Brasil foi de R$ 35.935,74 em 2020, uma alta de 2,2% ante 2019. O indicador é a divisão do PIB pelo número de habitantes.
 

O Distrito Federal manteve o maior PIB per capita (R$ 87.016,16) entre as unidades da federação. O indicador local foi 2,4 vezes maior do que o do país. São Paulo (R$ 51.364,73) ocupa a segunda posição desse ranking.
 

O IBGE ainda destacou o comportamento do Rio de Janeiro. De 2002 a 2019, o estado ocupou o terceiro lugar. Porém, em 2020, caiu três colocações. Foi ultrapassado por Mato Grosso, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
 

Alessandra Poça, gerente de Contas Regionais do IBGE, associou o quadro a uma combinação de fatores. Ela lembrou que o Rio é um dos estados com grande peso do setor de serviços, castigado pelas restrições na pandemia.
 

A economia fluminense também é dependente da produção de petróleo, outra atividade prejudicada pela baixa na mobilidade. "O Rio fica muito a mercê do que acontece com o petróleo", apontou a pesquisadora.
 

Além disso, o estado não conta com o mesmo impulso que a agropecuária tem em regiões como o Centro-Oeste.
 

MATO GROSSO LIDERA CRESCIMENTO A PARTIR DE 2002
 

Estados mais associados ao campo também tiveram crescimento mais intenso do PIB em um período mais longo, de 2002 a 2020.
 

Nesse intervalo de quase duas décadas, a economia de Mato Grosso avançou, em média, 4,7% ao ano. Foi a maior alta do PIB entre as 27 unidades da federação.
 

O Tocantins veio na segunda posição, com avanço médio de 4,4% ao ano, seguido por Roraima (3,9%) e Piauí (3,4%).
 

O IBGE indicou que Mato Grosso, Tocantins e Piauí foram impactados em grande parte pelo cultivo da soja. Com a abertura de hidrelétricas, também houve estímulo à atividade econômica de Mato Grosso e Roraima, acrescentou o órgão.
 

Das 27 unidades da federação, 19 cresceram em linha ou acima da média nacional de 2002 a 2020. Nesse período, a alta do PIB brasileiro foi de 2% ao ano.
 

Outros oito estados cresceram menos do que o país. São Paulo, maior economia do Brasil, avançou 1,8% ao ano. As menores altas de 2002 a 2020 foram registradas no Rio de Janeiro (1,1%) e no Rio Grande do Sul (1,2%).
 

Em ambos os casos, houve impacto do desempenho negativo da indústria de transformação, disse o IBGE. No Rio de Janeiro, a construção também patinou, acrescentou o órgão.
 

"O que vem acontecendo no Brasil há bastante tempo é um processo de desindustrialização, com desvalorização cambial, e uma clara vantagem competitiva da atividade agropecuária", avalia a economista Vívian Almeida, professora do Ibmec-RJ.
 

"Tem uma parte disso que é natural, a vocação do país para a agropecuária, mas também há o efeito da conjuntura macroeconômica", acrescenta.
 

Tradicionalmente, o agro é uma atividade menos intensiva em mão de obra na comparação com serviços e indústria. Assim, o espalhamento dos ganhos obtidos depende das decisões de quem está à frente dos negócios, sinaliza Almeida.
 

Para Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, o avanço do PIB em regiões associadas à agropecuária reflete o aumento da produtividade no setor.
 

"A gente vai seguir vendo dados fortes em 2021 e 2022, porque foram anos de alta na renda agrícola, com expansão dos preços", afirma.
 

"O agro é um setor que vem tendo grande demanda lá fora com um comprador cativo, que é a China, e investimentos produtivos ao mesmo tempo", acrescenta.