Passada uma semana do início dos atos de campanha e propaganda eleitoral paga e regulamentada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o cientista político Jorge Almeida apontou que devemos ter o período eleitoral mais violento da história. Ao Bahia Notícias, Jorge indicou que existe a "tendência de violência nesta campanha".
"Eu acho que há uma tendência de violência nesta campanha. É difícil dizer até que ponto vai. Tem uma parte de apoiadores fanatizados que agem por conta própria. Independente do que seja organizado pela candidatura, uma parte pode agir por conta própria, incentivado pela candidatura. Ele incentivou antes das eleições e durante os quatro anos. A população está mais armada, é o eleitorado bolsonarista, acho que há uma certa tensão grande", opinou o cientista.
Para Almeida, as pesquisas podem ser um termômetro do acirramento no pleito. Além disso, o cientista acredita que Bolsonaro pode não aceitar o resultado em caso de derrota. "Ele não irá tirar essa possibilidade da cabeça. Mas, não existem condições políticas para que isso aconteça. Ele perdeu certo apoio. Perdeu apoio do empresariado, judiciário, apesar de ter aumentado o apoio no Congresso. Mas essa base dificilmente deve encarar isso de golpe militar. A maioria do Congresso quer tentar, seja qual for o presidente eleito, manter uma certa tutela", disse.
"Existem semelhanças e diferenças. São os mesmos blocos políticos em disputa, mas, desta vez, o candidato é o principal candidato [Lula], que estava impedido de disputar. Antes, Bolsonaro era um desafiante e não tinha passado por teste de governo. O governo do PT tinha a imagem desgastada, com Bolsonaro capitalizando muito o eleitorado insatisfeito e o voto negativo. Desta vez, grande parte deste voto, deve votar contra Bolsonaro", sinalizou.
Para o especialista, outro fenômeno que deve ter importância maior são as redes sociais. "É uma tendência geral. As pessoas estão acessando mais, mais celulares. As pessoas assistem menos televisão no horário normal. Apesar disso, acho que terá um maior equilíbrio nas redes sociais. O papel das redes não será, mas o impacto da utilização unilateral irá diminui", apontou.
"Há uma polarização política maior ainda que o anterior, por conta de ser um governo de instabilidade permanente, agressividade, o que acaba mobilizando uma polarização de grande parte do eleitorado, que tende a se motivar no processo de campanha", disse.
IMPACTO NA BAHIA
O cientista acredita que o cenário nacional tem, como regra geral, uma tendência em impactar nas eleições. Mas, segundo Jorge Almeida, o fenômeno nem sempre ocorre, já que em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu nacionalmente e Paulo Souto saiu eleito das urnas na Bahia, além de em 2018, qunado Bolsonaro (PL) venceu e Rui Costa (PT) foi vitorioso no estado.
"Roma vai procurar capitalizar, por conta da identificação nacional. Bolsonaro tem pelo menos 20% do eleitorado e ele vai trabalhar para capitalizar. Jerônimo tende a crescer com a candidatura de Lula. A tendência é de crescimento, pela máquina e a identificação explícita. Antes, todo tipo de ações já foram feitas, exceto apresentar números", disse.
Para Jorge, quem mais se favorece do cenário nacional é Jerônimo Rodrigues (PT). O cientista reforçou que a isenção em apoio federal, feito por ACM Neto, é uma repetição da estratégia de seu avô, o ex-senador ACM. "Ele tinha rompido com FHC, formalmente apoiou Ciro Gomes, mas fingiu que apoiou. Eles fingiram que apoiaram e surfaram na dobradinha espontânea de Paulo Souto com Lula", indicou.
"Desta vez deve acontecer uma coisa semelhante. Neto está tentando fazer algo semelhante, tem a candidatura do União Brasil, candidatura pró-forma, ele vai fingir que vai apoiar. Evidente que tem algumas identificação mais clara, mas outros vão deixar as coisas rolarem, principalmente no Nordeste, que tem um eleitorado pró-Lula", apontou.