Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 23 de junho de 2022
“Quando eu vejo Gilberto Gil cantando, tudo se adequa”. A descrição feita pelo cantor e compositor Paquito tenta resumir a potência que é Gilberto Passos Gil Moreira. Ou, simplesmente, Gil. Às vésperas de completar 80 anos, no dia 26 de junho, o ex-ministro da Cultura e Imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) vive mais um dos seus recorrentes auges.
Realizando uma turnê pela Europa, o cantor e compositor baiano vai passar seu aniversário no lugar onde sua alma cheira a talco (e nem precisa ser clarividente para ver): o palco. Dos ensaios dessa turnê, feita em companhia da família, surgiu a nova série da Amazon Prime - “Em Casa com os Gil”, que estreia nesta sexta-feira.
Antes disso, na agenda de lançamentos e homenagens dedicadas a um dos pais da Tropicália, esteve o museu virtual organizado pelo Google Arts & Culture. O acervo disponibiliza gratuitamente toda a obra de Gil aos usuários, inclusive um disco nunca antes lançado, gravado em 1982, em Nova York.
Ainda em 2022, Gilberto Gil assumiu uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL). Em seu discurso de posse, Gil chamou a ABL de “instância maior, que legitima e consagra, de forma perene, a atividade de um escritor ou criador de cultura em nosso país”.
Para quem viveu de forma mais íntima a presença de Gil, porém, sua história já era consagrada antes mesmo de se tornar um “Imortal”. Ele é “uma revolução na música brasileira”, considera o amigo e companheiro de Tropicália, José Carlos Capinan.
Aos 81 anos, Capinan dividiu com Gil consideráveis anos de sua vida. Os dois se conheceram na Universidade Federal da Bahia. Gil como estudante de administração e Capinan, de Direito. Ambos, felizmente, acabaram seguindo o caminho da música. Para o poeta Capinan, Gil é “um criador imenso, inventivo” e “quase incomparável”. Fruto da parceria dos dois estão músicas como “Soy Loco por Ti, América” e “Água de Meninos”.
Elogiado na música, Gil também se aventurou na política. Muito antes de ser Ministro da Cultura de Lula, entre 2003 a 2008, foi secretário na gestão de Mário Kertész e quase candidato à sucessão, na prefeitura de Salvador, em 1988. Desistiu e concorreu à Câmara Municipal, sendo eleito vereador da cidade naquele mesmo ano.
Às vésperas de se tornar um octagenário, tanto a música quanto a própria vida de Gil, apesar de passarem por mudanças naturais, possuem uma assinatura singular. É um “jeito Gil de fazer”, tenta resumir, novamente, Paquito.
Foto: Sidney Falcão