Após a alta de preços alcançar 10,42% em 2021, a maior variação dos últimos seis anos, segundo a divulgação mais recente do IPCA-15 (prévia da inflação), a expectativa de economistas do mercado é por alguma descompressão nos níveis de preços para o próximo ano.
 

Grupos com peso relevante na composição do índice que vêm em níveis bastante elevados já começaram a dar alguns sinais importantes de desaceleração, como alimentos, habitação e transportes, afirma André Perfeito, economista-chefe da Necton.
 

"Vamos observar nos próximos dados uma melhora na margem dos principais grupos, o que não quer dizer que eles estejam em patamares baixos, longe disso", diz Perfeito, que prevê que o arrefecimento na pressão inflacionária pode ajudar no humor do mercado de forma geral em relação aos ativos brasileiros.
 

Ele acrescenta que alguma apreciação do real frente ao dólar também poderá contribuir para manter a inflação em patamares mais comportados em comparação ao observado em boa parte de 2021.
 

O processo de aperto monetário em curso pelo BC (Banco Central), que deve levar a taxa Selic até perto de 11,5% pelos cálculos do economista-chefe da Necton, irá aumentar a atratividade dos rendimentos dos ativos locais sob a ótica do estrangeiro, aponta Perfeito. Ele prevê o real oscilando próximo a R$ 5,40 durante o ano que vem.
 

No relatório Focus da semana passada, a mediana das projeções dos economistas consultados pela autoridade monetária aponta para um dólar em R$ 5,57 no final de 2022, com uma inflação de 5,03% no período.
 

"Vale notar que não importa tanto o patamar em que o dólar está, mas a velocidade com que ele se desloca. E acho que, a partir de agora, a velocidade vai ficar mais sob controle", afirma o economista-chefe da Necton.
 

Na quinta-feira (23), em sessão marcada pela menor liquidez de final de ano, a divisa americana operou próxima da estabilidade frente ao real, cotada a R$ R$ 5,6610 para venda. Quando chegou a ensaiar alguma pressão altista, o BC (Banco Central) entrou no mercado com o anúncio de dois leilões de venda de dólar à vista, com a colocação de um montante de US$ 965 milhões (R$ 5,5 bilhões).
 

"A gente acredita que a maior parte do impacto da depreciação cambial para o IPCA já foi", afirma Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter.
 

Mesmo que seguisse oscilando próximo ao nível atual de R$ 5,70, o impacto do câmbio para a inflação seria residual, ao redor de 0,05 ponto percentual, calcula a especialista.
 

A projeção do Banco Inter, no entanto, aponta para um fortalecimento da moeda brasileira nos próximos 12 meses, com a cotação em R$ 5,50 em dezembro, pela influência dos juros mais altos.
 

Nesse sentido, a valorização do real, diz Rafaela, deve contribuir para a provável descompressão a ser observada no nível dos preços, em especial no caso da gasolina, exposta às variações do petróleo no mercado internacional.
 

"O câmbio contribuiu para uma pressão adicional na inflação ao depreciar quase 9% no ano. Felizmente, as commodities agrícolas em reais parecem estar estabilizando e o petróleo em reais já mostra uma queda na janela pós-ômicron, ou seja, a inflação externa não deve pressionar o IPCA nos próximos meses", endossa Rafael Ihara, economista-chefe da Mauá Capital.
 

Ihara acrescenta ainda estar vendo uma normalização na cesta de consumo com o arrefecimento da pandemia, com uma redução nos gastos com bens e um aumento no consumo de serviços. Isso representa um alívio para a inflação de bens, que ficou bastante pressionada durante a pandemia no mundo todo, aponta o especialista.
 

"Para 2022, temos uma estimativa de 5% para a inflação. Naturalmente, uma atividade mais fraca -projetamos um PIB de 0,5%- representa um risco baixista para a inflação. Além disso, a super safra de grãos representa um risco baixista para a nossa projeção para a inflação", afirma o economista-chefe da Mauá Capital, que prevê a cotação da moeda em R$ 5,60 para 2022.
 

Já Rachel Sá, chefe de economia da Rico, aponta que, embora os fundamentos macroeconômicos indiquem uma maior atração de capital para o país no próximo ano, as incertezas relativas às eleições irão pesar como uma força contrária para o câmbio.
 

A especialista prevê que o dólar estará sob intensa volatilidade ao longo dos próximos meses, com a disputa política bastante presente no dia a dia dos agentes econômicos, mas que, ao final de dezembro de 2022, a cotação será de R$ 5,70, próxima ao nível em que se encontra atualmente.
 

"Vai entrar mais dinheiro por conta dos juros altos, mas a incerteza política vai afastar parte desse capital", afirma a especialista.