O país registrou a criação de 324,1 mil postos de trabalho com carteira assinada em novembro, apontam dados divulgados nesta quinta-feira (23) pelo Ministério do Trabalho e Previdência. O saldo é 13% menor do que o registrado um ano atrás.
 

O resultado decorre da diferença entre 1,7 milhão de contratações e 1,4 milhão de desligamentos, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
 

A criação de vagas foi puxada pelo setor de serviços, que gerou 180,9 mil vagas após a reabertura das atividades e em meio ao avanço da vacinação.
 

Dentro de serviços, o segmento que liderou a abertura de vagas foi o de informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (com 105,8 mil vagas abertas). Em seguida, ficou alojamento a alimentação (36,4 mil) e transporte, armazenagem e correios (18 mil).
 

O setor de serviços tem sido a locomotiva da geração de empregos no país pós-pico da pandemia, seguido por comércio (139,2 mil vagas abertas em novembro). Também houve geração de vagas no mês em construção (12,4 mil).
 

Enquanto isso, a indústria tem mostrado desaceleração (8,1 mil vagas abertas em novembro). A partir de abril, as fábricas começaram a contratar de maneira crescente para atender a demanda por bens, mas depois começaram a registrar problemas como custos de energia e problemas de fornecimento de peças.
 

Além disso, a proximidade do fim do ano naturalmente gera resultados piores devido à dispensa de funcionários temporários após o fim do ciclo produtivo para as festas de fim de ano.
 

A agropecuária foi a única que registrou fechamento (de 16,7 mil postos) em novembro, sob efeitos no mercado de cana-de-açúcar e de outros produtos. De acordo com o ministério, são impactos naturais do encerramento do ciclo produtivo que são observados todos os anos.
 

O saldo de novembro é inferior ao de um ano atrás, quando o país sofria de forma mais intensa os efeitos da pandemia. De acordo com os técnicos do Ministério do Trabalho e Previdência, essa variação é observada principalmente pelos efeitos do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (por meio do qual as empresas podiam cortar temporariamente salário e jornada ou suspender contratos de trabalho e que fornecia um benefício emergencial, o BEm, pago pelo Tesouro Nacional ao funcionário afetado).
 

O programa, considerado fundamental entre especialistas para limitar as demissões durante a pandemia de Covid-19, foi encerrado. Com isso, a interpretação da pasta é que os números passaram a obedecer a dinâmica natural da economia —com resultados mais modestos. Apesar disso, o Ministério destaca que o número de admissões ainda tem sido maior do que no ano passado (116,5 mil contratações a mais).
 

As cinco regiões brasileiras apresentaram saldo positivo. O Sudeste lidera a lista (com 178,4 mil postos criados), seguido por Nordeste (58,1 mil), Sul (54 mil), Centro-Oeste (17 mil postos) e Norte (15,9 mil).
 

Considerando todo o ano de 2021, há recuperação expressiva frente ao ano passado. Foi registrado saldo de 2,9 milhões de empregos, decorrente de 19,1 milhões de admissões e de 16,1 milhões de desligamentos (com ajustes até novembro de 2021).
 

O valor é mais de 20 vezes o registrado em 2020, quando o país sofreu de forma mais intensa os efeitos da pandemia (não é possível comparar diretamente com outros anos pois o Caged segue uma nova metodologia desde o ano passado).
 

O presidente Jair Bolsonaro comemorou os números nas redes sociais. "Quem cria emprego é a iniciativa privada", escreveu, listando em seguida uma série de iniciativas do governo.
 

Entre os pontos apresentados, ele destacou a Lei de Liberdade Econômica, revogações de decretos e portarias, simplificação de normas regulamentadoras, o Pronampe (programa de crédito para empresas) e o próprio BEm.
 

"Desde de janeiro de 2019, quando assumimos, o saldo de empregos ultrapassa três milhões", afirmou. Segundo ele, os números são registrados enquanto o país ainda vive "as consequências do 'fica em casa que a economia a gente vê depois'".
 

Bruno Dalcolmo, secretário-executivo do Ministério do Trabalho e Emprego, afirmou que ainda espera números positivos no Caged no ano que vem, mas sinalizou que os dados devem vir menos fortes devido ao ritmo da economia.
 

"A expectativa para o próximo ano ainda é positiva, reconhecendo, claro, que o emprego formal é uma consequência do crescimento geral da economia. Se o crescimento geral da economia termina não se confirmando muito forte, é natural que os números positivos não sejam tão fortes como neste ano", disse.
 

Segundo ele, após os efeitos da pandemia e com o encerramento dos programas emergenciais, é natural que os saldos do Caged sejam mais módicos diante de uma expansão mais modesta da atividade.
 

O mercado prevê um crescimento de 4,58% do PIB (Produto Interno Bruto) para 2021, enquanto estima uma expansão de apenas 0,5% para 2022 —de acordo com projeções compiladas pelo Banco Central no boletim Focus.
 

Enquanto isso, o salário de admissão continua em queda. Em novembro, os novos contratados no país ganhavam em média R$ 1.778,84 —uma retração real de 4% em relação a um ano atrás.
 

Rodolfo Margato, economista da XP, afirma que o mercado de trabalho formal no Brasil continuará em expansão nos próximos meses, embora a criação líquida de ocupações deva perder velocidade. Esse cenário incorpora a redução da cobertura do BEm e a desaceleração das contratações nos setores de comércio e serviços, em linha com o cenário de enfraquecimento da demanda doméstica.
 

Margato projeta uma criação líquida de 2,83 milhões de empregos formais em 2021. "Para 2022, esperamos adição de 950 mil ocupações com carteira assinada", afirma em texto.
 

Os dados do Caged têm passado por mudanças significativas entre a divulgação dos números em cada mês e posteriores ajustes com informações entregues pelas empresas fora do prazo.
 

A diferença fez o ano de 2020, que registrava inicialmente a criação de 142,6 mil vagas, passar a apresentar um fechamento de 191,5 mil vagas.
 

O efeito também é observado em 2021. Levantamento da Folha de S.Paulo mostrou que, de janeiro a outubro, o resultado atualizado do Caged aponta para menos 166 mil postos criados do que o anteriormente registrado.
 

A atualização é tradicional no Caged e ocorria antes mesmo do governo Bolsonaro, mas foi intensificada tanto pela dificuldade das companhias de se adaptarem a uma mudança de metodologia na coleta dos números como pelas dificuldades impostas pela pandemia.