O número de brasileiros morando no exterior cresceu 16% entre 2018 e 2020, conforme dados do Ministério das Relações Exteriores. Nesse período de dois anos, a quantidade de pessoas que escolheram outro país para morar saltou de 3,6 milhões para 4,2 milhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

Em uma década, o crescimento é ainda maior, de 36%. Especialistas dizem ser difícil comparar o movimento dos últimos anos com períodos anteriores, mas veem aumento fora da curva.

 

"Esse movimento nos últimos anos é inédito e, de fato, representa a maior diáspora da história brasileira para os nossos padrões, um país que, historicamente, sempre recebeu imigrantes", avalia Pedro Brites, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 

Levantamento do Colégio Notarial do Brasil (CNB), que reúne os cartórios, indica alta de 67% nos apostilamentos no 2º semestre deste ano. Esse é o serviço de validação internacional de documentos pessoais, escolares e de dupla cidadania requeridos por quem vai morar fora. De junho a novembro, foram cerca de 912 mil apostilamentos, ante 544 mil no mesmo período de 2020.

 

Se analisar apenas as solicitações de visto para estudos ou abertura de processos de dupla cidadania, o salto é ainda maior: de 299,5 mil no 2º semestre do ano passado para 693 mil no mesmo período deste ano. Para Giselle Oliveira de Barros, presidente do CNB, os dados expõem essa saída de mão de obra mais qualificada.

 

Para Guilherme Otero, do programa da Organização Internacional para as Migrações das Nações Unidas, os dados do Itamaraty podem estar subestimados. Ele diz que muita gente sai de forma irregular. Ou vai para o exterior para ficar seis meses regulares, como no caso dos EUA, mas não retorna. Além disso, destaca, há brasileiros com dupla cidadania que, quando migram, preferem o direito de usar o passaporte da outra nacionalidade.

 

Segundo Pedro Brites, da FGV, o dinheiro escasso está por trás do êxodo. "A questão econômica é o fator propulsor para qualquer tomada de decisão desse tipo, e o Brasil não atravessa um período exitoso há alguns anos. Isso efetivamente tira a perspectiva de oportunidades para boa parte da população”.

 

As sucessivas crises políticas – agravadas desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2018 – também pesam. "Essa turbulência afasta parte da população de nosso País", afirma Brites, que aponta a falta de segurança pública como outro acelerador de despedidas.