Em mais um dia de intensa atividade diplomática acerca da crise entre Rússia e o Ocidente, o presidente Vladimir Putin pediu uma reunião urgente com os Estados Unidos e seus parceiros na Otan para discutir a situação na fronteira da Ucrânia.
 

Ao mesmo tempo, Putin marcou uma conferência por vídeo com seu principal aliado no cenário internacional, o líder chinês Xi Jinping. Ambos conversarão nesta quarta (15) sobre a tensão europeia, adicionando uma dimensão nova ao conflito em curso.
 

Putin disse ao telefone para o presidente finlandês, Sauli Niinsto, que Moscou quer "iniciar negociações imediatas com os EUA e com a Otan para desenvolver garantias legais internacionais para a segurança de nosso país".
 

Mais tarde, ele repetiu o discurso para o seu colega francês, Emmanuel Macron. Essencialmente, Putin disse o mesmo que havia relatado ao americano Joe Biden na semana passada e ao premiê britânico, Boris Johnson, na segunda (13).
 

O russo diz que deslocou cerca de 100 mil soldados para reforçar suas fronteiras ocidentais para se defender de um incremento na atividade militar na Ucrânia, percebendo aí a ideia de uma retomada militar de Kiev dos territórios controlados no leste do país por rebeldes pró-Rússia desde 2014.
 

Naquele ano, Putin reagiu à derrubada do governo aliado no vizinho anexando a Crimeia e fomentando a guerra civil no leste, que já matou 14 mil pessoas e está indefinida.
 

Agora o Ocidente acusa o russo de estar planejando a mesma coisa: invadir a Ucrânia, o que naturalmente Putin nega. Todos os líderes, a começar por Biden, prometeram sanções sem precedentes contra Moscou em caso de ataque.
 

Com o atual movimento, o russo quer aproveitar a falta de resolução europeia para forçar uma solução a seu contento. Ou seja, manter a Ucrânia e países ex-soviéticos como a Geórgia fora do guarda-chuva militar ocidental, mantendo forças adversárias distantes de suas fronteiras.
 

Na Belarus, ele já tem isso garantido pelo apoio que dá à ditadura de Aleksandr Lukachenko, que nesta quarta encarcerou por 18 anos um líder oposicionista como parte da repressão que exerce desde que fraudou mais uma eleição presidencial, em 2020.
 

A Ucrânia segue em campanha para denunciar o risco de ser atacada, e pede mais apoio ocidental. Putin reclama do fornecimento de equipamento militar ocidental, como drones e mísseis antitanque, para Kiev. O orçamento militar americano para 2022, em análise no Senado, prevê US$ 300 milhões de ajuda para os ucranianos.
 

Já na semana passada, a Rússia também alertou para uma nova crise dos mísseis, remetendo ao impasse em torno de Cuba em 1962 e as negociação fracassadas sobre esse tipo de arma na Europa em 1983, episódios que quase levaram à guerra nuclear.
 

Como os EUA deixaram o INF, um tratado que impedia a instalação de mísseis de alcance intermediário com capacidade nuclear na Europa, Moscou diz manter uma moratória unilateral sobre isso e teme que os americanos movam as armas para a Ucrânia.
 

Isso deixaria a capital russa a poucos minutos de uma explosão atômica, alega o Kremlin. É fato que todas as principais cidades do Leste Europeu também estão suscetíveis a isso, já que Moscou tem mísseis do gênero, modelo Iskander-M, instalados no encrave europeu de Kaliningrado.
 

Tecnicidades à parte, a Otan mordeu a isca russa. Seu secretário-geral, Jens Stoltenberg, foi a público nesta terça para dizer que a aliança não irá instalar nada do tipo na Ucrânia ou em outros países orientais da Europa. Ponto para Putin, que tem como objetivo final a promessa de que o clube militar não mais irá se expandir a leste.
 

Aí a coisa é mais difícil, mas a situação no solo e o risco de uma ação militar podem pesar. Politicamente, Putin foi buscar o apoio de Xi, com quem divide uma cooperação bélica cada vez maior, ante a percepção de que os EUA vão agir ativamente para conter Pequim e Moscou.
 

A situação está delicada em toda a região que vai do mar Negro ao Báltico. No primeiro, palco de um encontro nada amistoso entre russos e britânicos em junho, uma fragata francesa passou a ser monitorada por forças de Putin na Crimeia.
 

Na semana passada, caças russos interceptaram aviões de combate e de espionagem de Paris e de Washington na região.
 

Enquanto isso, o presidente da Ucrânia falou com o premiê italiano, Mario Draghi, para pedir apoio. Em entrevista ao jornal italiano La Repubblica, Volodimir Zelenski havia se queixado de vetos alemães ao fornecimento de alguns tipos de armas para a Ucrânia, algo que Berlim não confirmou.
 

Comparando a crise atual com a de 2014, Zelenski pintou um quadro sombrio, dizendo que haveria "muito mais perdas" em caso de invasão russa.