A pandemia da Covid-19 trouxe à tona gargalos do trabalho de profissionais da enfermagem, como o subdimensionamento e as deficiências em relação aos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), que incluem a falta de treinamento para utilizar esse tipo de material. Essa é a conclusão do vice-presidente do Conselho Regional da Enfermagem na Bahia (Coren-BA) Handerson Santos, doutor e há 10 anos professor da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem infectados pela Covid-19 representam 50% dos profissionais de saúde que foram diagnosticados com a doença no estado. A Bahia soma 26.535 trabalhadores da Saúde que tiveram a doença. Handerson, que durante o doutorado estudou a “Análise do discurso sobre erro no trabalho em enfermagem”, listrou três principais razões para o alto número de infectados na categoria.
O primeiro argumento apresentado por ele é o subdimensionamento, que se trata da existência de menos profissionais nas salas de atendimento do que é recomendado. Handerson afirma que é comum que o trabalho que deveria ser feito por seis profissionais da enfermagem acabe sendo concentrado em um número muito inferior. “Os gestores públicos e privados não contratam o número adequado de profissionais”, protesta o professor, ao acrescentar que o resultado disso são trabalhadores sobrecarregados, cansados, e suscetíveis erros.
Nesse ponto ele ainda cita a falta entendimento da importância do trabalho. “É preciso entender que esses profissionais lidam com vidas. Não com papelada”, reclamou.
A segunda e terceira razões apontadas por Handerson têm relação com os EPIs. Uma diz respeito a falta e a qualidade dos equipamentos. Ponto esse que ele classifica como grave no início da pandemia, mas reconhece que no decorrer do tempo houve avanços e foi superado. Mas a partir disso surge a terceira causa: apesar de – agora – os profissionais da enfermagem contarem com os equipamentos de proteção, há uma deficiência em relação a educação permanente.
O conceito se refere a capacitação permanente desses trabalhadores. “A pandemia revelou que nós trabalhadores da Saúde não estávamos treinados para usar os equipamentos de proteção individual. Colocar e tirar. Não havia uma capacitação prévia”, ressalta Santos.
O vice-presidente do Coren-BA ainda acrescenta que os profissionais se contaminavam, sobretudo no início da pandemia, no processo de desparamentação.