Foto: Ricardo Stuckert
Em menos de um mês, o governo Lula (PTsofreu oito reveses
vindos de sua base formal de apoio, tendo como capítulos mais recentes o
anúncio de rompimento pela bancada de deputados do PDT, na última terça-feira
(6), e a aprovação pela Câmara, no dia seguinte, de projeto que visava
suspender ação penal da trama golpista.
Repetindo um placar que não tem sido raro em Lula 3, o
centrão se uniu à oposição e marcou 315 votos a 143 no caso relativo ao
deputado Alexandre Ramagem (PL), deixando o PT e demais partidos da esquerda
isolados.
Embora o recado nesse caso seja mais ao STF (Supremo Tribunal
Federal-segundo quem só eventuais crimes cometidos pelo deputado após a
diplomação poderiam ser objeto da análise da Câmara-, não deixa de ser mais uma
derrota do governo.
Em relação à troca de titulares no ministério do modesto PDT
(Previdência), o tamanho da legenda de Carlos Lupi --17 deputados e três
senadores-- pode dar a impressão de importância menor à possível rebelião, mas
significa o primeiro abalo à esquerda em uma base que à direita tem sido
profícua em instabilidade, vide o caso Ramagem.
O mais recente inferno astral da grande base volúvel de Lula
-folgada no papel, mas oscilante na prática- começou no dia 14 de abril, quando
a oposição bolsonarista conseguiu protocolar um requerimento de urgência para a
votação do projeto de anistia aos condenados pelo 8 de janeiro de 2023.
Na lista dos 185 deputados que colocaram sua assinatura, 81
eram de União Brasil, PP, PSD, MDB e Republicanos, siglas de centro e de
direita que comandam, ao todo, 11 ministérios de Lula.
Uma semana depois, no dia 22, o líder da bancada do União
Brasil, Pedro Lucas Fernandes (MA), recusou o convite para ser ministro das
Comunicações dias após de ter aceito.
A ida do parlamentar para a vaga de Juscelino Filho,
--denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da Repúblicasob acusação de desviar
emendas parlamentares-- resultou em um motim interno no partido, rachado entre
apoiadores de Lula e opositores.
Integrantes do Palácio do Planalto chegaram até a ventilar a
ameaça de retirar espaço do partido, mas o governo não tem força para
prescindir do apoio da sigla, uma das maiores da Câmara e do Senado.
Na última semana de abril, chegou do Congresso mais uma
saraivada de notícias contrárias aos interesses palacianos.
No dia 29, uma terça-feira, a Comissão de Constituição e
Justiça da Câmara rejeitou o recurso do deputado Glauber Braga (PSOL-RJcontra
a cassação do seu mandato.
O governo diz não ter posição sobre o tema, mas Glauber
recebeu a visita de nove ministros quando estava fazendo greve de fome nas
dependências da Câmara, entre eles Gleisi Hoffmann (PT), a chefe da articulação
política do petista.
Naquela mesma terça-feira, União Brasil e PP anunciaram sua
federação -compromisso de atuação conjunta pelos próximos quatro anos-- no
Congresso em clima de comício de oposição, apesar de eles comandarem quatro
ministérios.
O governo Lula não foi citado nominalmente em nenhum momento,
mas as críticas veladas e até explícitas nortearam o evento.
Os ministros do Esporte, André Fufuca (PP), e do Turismo,
Celso Sabino (União Brasil), estavam presentes, mas, em um atitude incomum
nesse tipo de evento, não foram chamados para discursar.
Diferentemente disso, tiveram papel de destaque no evento
figuras como o governador Ronaldo Caiado (União Brasil-GOe os senadores Ciro
Nogueira (PP-PIe Tereza Cristina (PP-MS), todos críticos a Lula.
No dia seguinte, 30 de abril, a oposição na Câmara conseguiu
novamente reunir assinaturas necessárias para requerer outra dor de cabeça para
o Palácio do Planalto, a CPI para investigar a suspeita de descontos indevidos
em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social).
Mais uma vez, o documento contou com o apoio de dezenas de
deputados de União Brasil, PSD, MDB, Republicanos e PP.
No feriado de 1º de Maio -em que Lula deixou de comparecer
aos atos das centrais sindicais devido ao receio de eventos esvaziados-, foi a
vez de o presidente do PSD, Gilberto Kassab, reiterar suas projeções políticas
em um tom muito mais de oposição do que de governo.
Crítico do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), Kassab
dessa vez disse na Agrishow, principal feira agrícola do país, que, se Tarcísio
de Freitas (Republicanosse lançar à Presidência, a direita toda se unirá em
torno dele.
Dizendo-se ainda convencido de que o governador de São Paulo
e ex-ministro de Jair Bolsonaro (PLvá tentar na verdade a reeleição, ele
acrescentou não ver problema nesse caso, avaliando que toda a centro-direita
deve lançar candidatos, mas que, no segundo turno, "todos se
encontram".
O segundo turno, no caso, seria contra Lula.
Kassab talvez seja o exemplo mais ilustrativo da base
instável do governo. O ex-prefeito de São Paulo comanda um partido com três
ministérios e, ao mesmo, tempo, é secretário de Governo de Tarcísio, apontado
como possível rival do petista em 2026.
Dias depois, Kassab repetiu a promessa de lealdade a Tarcísio
em visita ao Congresso, acrescentando não ver contradição em comandar um
partido com ministérios no governo Lula e que defende outro nome para 2026.
Lula foi eleito por uma estreita margem em 2022 e, além
disso, viu a maior parte das cadeiras de Câmara e Senado serem conquistadas
pelos partidos de centro e de direita.
Com isso, ainda na transição firmou uma aliança com o centrão
pelas mãos de Arthur Lira (PP-AL), então presidente da Câmara e que dias antes
estava no palanque de Bolsonaro.
Apesar de distribuir nove ministérios a essas siglas e depois
expandir o lote para 11, há um histórico recheado de traições desde 2023.
Diferentemente de outras épocas, em que os governos do PT
contavam com maior popularidade e com mecanismos mais persuasivos de retaliação
em caso de infidelidade, com um maior controle sobre o pagamento de emendas,
desta vez Lula enfrenta não só a esquerda minoritária, mas popularidade
preocupante e o empoderamento do Congresso por meio do volume e da execução
impositiva das emendas.
AS DERROTAS EM SÉRIE DE LULA NO CONGRESSO
Anistia ao 8 de janeiro - Em 14 de abril, a oposição
protocolou requerimento para que tramite com urgência proposta de anistia aos
condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023. Na lista de 185 deputados, 81
eram de deputados do União Brasil, PP, PSD, MDB e Republicanos, siglas que
comandam 11 ministérios de Lula. O requerimento ainda não foi pautado pelo
presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos)
O quase ministro - Em 22 de abril, o líder da bancada do
União Brasil, Pedro Lucas Fernandes (MA), recusou o convite para ser ministro
das Comunicações dias depois de ter aceito. O recuo se deu após motim interno
no partido, rachado entre apoiadores de Lula e opositores.
Glauber Braga - No dia 29 de abril, a Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara rejeitou o recurso do deputado do PSOL contra
a cassação do seu mandato. PT e governistas foram derrotados.
Comício da oposição - Nesse mesmo dia, União Brasil e PP
anunciaram sua federação no Congresso em clima antigoverno e com holofotes
sobre críticos de Lula.
INSS - No dia seguinte, 30 de abril, a oposição na Câmara
conseguiu novamente apoio no centrão para reunir as assinaturas necessárias
para requerer outra dor de cabeça para o Palácio do Planalto, a CPI para
investigar a suspeita de descontos indevidos em benefícios de aposentados e
pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Gilberto Kassab - O presidente do PSD, que controla três
ministérios, repetiu em declarações no feriado de 1º de maio e no dia 8 a
lealdade a Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), de quem é secretário, e a
intenção de lançar candidatos para concorrer com Lula em 2026.
PDT - O partido na Câmara anunciou rompimento com Lula no
último dia 6 após a queda de Carlos Lupi da Previdência, em meio ao escândalo
do INSS.
Ramagem - A Câmara aprovou, no dia 7, por 315 a 143 votos,
projeto que visa suspender toda a ação penal da trama golpista em que está o
ex-presidente sob o argumento de que entre os réus há um deputado, Alexandre
Ramagem (PL-RJ). O PT e governistas foram derrotados —e a Primeira Turma do STF
decidiu em julgamento virtual derrubar a medida dos parlamentares.
Por Bahia Notícias