Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
A prisão do ex-presidente Fernando Collor de Mello por
decisão do STF (Supremo Tribunal Federalé tratada por ministros da corte como
um precedente para a eventual condenação de outro antigo ocupante do Palácio da
Alvorada: Jair Bolsonaro (PL).
Integrantes do tribunal ouvidos pela Folha, como ministros e
assessores, destacam que a rejeição do segundo recurso de Collor contra a
condenação, considerado protelatório, seguiu uma jurisprudência criada no caso
do mensalão.
Essa foi uma forma de evitar que as defesas lancem mão de
recursos semelhantes aos já rejeitados pelo tribunal como uma forma de adiar o
início do cumprimento da pena.
O reforço da jurisprudência no caso Collor é avaliado no
Supremo como um ensaio para os acusados por planejar um golpe de Estado após a
eleição de 2022. O argumento é de que o precedente pode ser usado para evitar o
prolongamento das ações penais mesmo após eventual condenação.
O STF também sinaliza com o envio de Collor a uma cela
especial em presídio comum a possibilidade de Bolsonaro não ficar em uma
unidade militar ou superintendência da Polícia Federal caso condenado pela
trama golpista.
A possível prisão diferenciada de Bolsonaro é uma preocupação
no Exército. Generais discutem, nos bastidores, conjecturas sobre uma eventual
detenção do ex-presidente em uma unidade militar.
Bolsonaro é capitão reformado do Exército e, como
ex-presidente da República, foi comandante-em-chefe das Forças Armadas de 2019
a 2022.
A legislação brasileira prevê a prisão especial como
benefício para detenções provisórias. Em eventual condenação definitiva, o
ex-presidente perderia o direito, além de ser expulso do Exército, em processo
paralelo na Justiça Militar.
A principal dúvida sobre a situação de Collor é se o ministro
Alexandre de Moraes vai conceder o direito à prisão domiciliar. A defesa dele
argumenta que o ex-presidente é idoso (75 anos), tem três doenças (Parkinson,
transtorno bipolar e apneia de sono gravee precisa de tratamento especial,
com medicamentos de uso contínuo e visitas frequentes ao médico.
Em audiência de custódia, porém, Collor negou ter doenças e
usar remédios. Moraes pediu uma manifestação do procurador-geral da República,
Paulo Gonet, sobre o pedido de prisão domiciliar.
A expectativa no Supremo é que a decisão de Moraes também
crie um precedente para uma eventual prisão de Bolsonaro. O ex-presidente tem
70 anos e enfrenta sequelas decorrentes da facada que sofreu na campanha
eleitoral de 2018.
Bolsonaro foi submetido no último dia 13 à sexta cirurgia no
estômago e está internado na UTI (Unidade de Terapia Intensivado hospital DF
Star, em Brasília.
Um ministro do Supremo ainda ressaltou que Collor é o
primeiro ex-presidente preso por decisão do STF desde a redemocratização. Os
outros dois ex-mandatários detidos, Lula e Michel Temer, respondiam a processos
em instâncias inferiores.
Como a Folha mostrou, o STF pretende julgar Bolsonaro e
outros sete acusados de integrar o núcleo central da trama golpista ainda este
ano, para evitar a contaminação do processo com o calendário eleitoral de 2026.
As previsões internas são de julgamento definitivo do caso em
outubro deste ano, com a Primeira Turma do Supremo dedicada nos meses seguintes
à análise de recursos. Os demais núcleos denunciados pela PGR devem ter seus
processos finalizados depois.
Collor foi condenado pelo STF a oito anos e dez meses de
prisão. A decisão é de maio de 2023. Ele foi acusado pela PGR de receber
propina de um esquema de corrupção na BR Distribuidora, empresa subsidiária da
Petrobras, em ação penal derivada da Operação Lava Jato.
Comprovantes encontrados no escritório do doleiro Alberto
Youssef, além de depoimentos de colaboradores da operação, foram usados como
elementos de prova na ação.
A denúncia fora apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da
Repúblicaem agosto de 2015. Para garantir a assinatura de contratos da
estatal com a construtora UTC, o ex-presidente influenciou, segundo a
condenação, o comando e as diretorias da empresa BR Distribuidora de 2010 a
2014, período que abarca as gestões petistas de Lula e Dilma Rousseff. Em
troca, Collor teria recebido R$ 20 milhões.
O primeiro recurso apresentado pela defesa de Collor foi
rejeitado pelo STF, por 6 votos a 4, em novembro de 2024. Os advogados do
ex-presidente diziam que o Supremo errou ao fixar a pena por corrupção passiva
em quatro anos e quatro meses e pediam a redução do tempo.
O objetivo era reduzir a pena por corrupção, que faria o
crime prescrever. Nesse cenário, Collor teria de cumprir somente a condenação
por lavagem de dinheiro, estipulada em quatro anos e seis meses, em regime
semiaberto.
Mesmo com a rejeição do recurso, a defesa de Collor
apresentou novos embargos ao Supremo sobre o mesmo tema. Moraes considerou o
novo pedido como protelatório e decidiu encerrar a ação penal contra o
ex-presidente, com o início da execução da pena.
A defesa de Collor afirmou na quinta-feira (24ter recebido
"com surpresa e preocupação a decisão" que negou o recurso. Os
advogados sustentaram ao Supremo que as acusações são baseadas apenas em
delações premiadas e que não haveria provas.
Por Bahia Notícias