
O cardápio de medidas em estudo pela cúpula da Câmara dos
Deputados para substituir a alta do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras)
inclui a desvinculação dos pisos de saúde e educação, limitar as deduções do
Imposto de Renda de despesas médicas e uma maior taxação das fintechs, além das
bets.
De acordo com interlocutores, o presidente da Câmara, Hugo
Motta (Republicanos-PB), avalia que o impasse gerado pelo aumento do IOF sobre
crédito, câmbio e seguro para arrecadar R$ 61,5 bilhões em 2025-2026 gerou o
ambiente necessário para avançar na agenda de recuperação das contas públicas e
garantia da sustentabilidade do arcabouço, a regra fiscal aprovada em 2023.
Embora sejam medidas consideradas impopulares, a avaliação é
que será politicamente mais difícil esperar para agir na véspera das eleições
do ano que vem. A constatação é que o quadro das contas públicas tornará
ingovernável o país a partir de 2027, independentemente de quem ganhar as
eleições para a Presidência da República.
A lista do presidente da Câmara inclui também um corte de
isenções fiscais a serem ainda definidas e a aprovação da reforma
administrativa. Essa última medida é vista como uma agenda com efeito no médio
prazo, mas necessária.
A ideia é fazer um mix de medidas, que possam ser percebidas
como estruturantes e permanentes para enfrentar problemas como o crescimento,
por exemplo, das despesas com BPC (Benefício de Prestação Continuada) e dos
precatórios (sentenças judiciais).
O rebaixamento da perspectiva do rating soberano do Brasil de
positiva para estável pela agência de classificação de risco Moody's Ratings
intensificou a necessidade de aprovar novas medidas. Para justificar o recuo, a
agência citou o aumento expressivo do custo da dívida pública, a rigidez das
despesas públicas e o ritmo mais lento que o esperado na construção de
credibilidade da política fiscal, apesar do cumprimento das metas fiscais.
Algumas das medidas incluídas na lista já chegaram a ser
discutidas pelos ministérios da Fazenda e Planejamento, mas não receberam sinal
verde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas discussões internas do
governo. É o caso dos pisos de saúde e educação e da limitação das despesas
médicas. A mudança nos pisos seria um primeiro passo para outras desvinculações
na tentativa de tornar o Orçamento da União menos engessado, na avaliação de
aliados de Motta.
Os pisos de saúde e educação estão previstos na Constituição.
O primeiro equivale a 15% da RCL (receita corrente líquida), enquanto o segundo
representa 18% da RLI (receita líquida de impostos).
O governo Lula já indicou no PLDO (Projeto de Lei de
Diretrizes Orçamentárias) de 2025, enviado ao Congresso em abril passado, que
faltará verba no Orçamento para cumprir os pisos em 2027, em mais um indício do
risco de insustentabilidade do arcabouço fiscal e de apagão nas políticas
públicas.
O presidente da Câmara não descarta a possibilidade de
enfrentar um cenário de corte de emendas parlamentares, uma vez que sem a
arrecadação do IOF o governo teria que cortar R$ 12 bilhões de emendas. Essa
ponto é visto com descrença por integrantes do governo.
A reforma administrativa com viés fiscal também sofre
resistências dentro do governo e dos partidos de esquerda. Eles não querem
associar a reforma de Estado a um pacote de ajuste fiscal de corte de despesas.
No caso fintechs, há a leitura do presidente da Câmara de que essas empresas
têm uma tributação mais baixa do que os bancos tradicionais.
As discussões de medidas ganharam espaço após o Congresso dar
um prazo de 10 dias para o governo apresentar uma alternativa ao decreto do IOF
e evitar a sua derrubada por meio da votação de um decreto legislativo. Pelos
cálculos de lideranças, a Câmara tem perto de 400 votos para derrubar o decreto
do IOF.
Motta avisou a integrantes do governo que uma tentativa de
judicialização do decreto do IOF iria piorar muito o ambiente na Casa. Ele
também já sinalizou a aliados que o Brasil não pode perder essa janela de
oportunidade de fazer as mudanças em razão também do cenário internacional mais
tenso.
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VEJA O CARDÁPIO DE MEDIDAS EM DISCUSSÃO NA CÂMARA:
- Desvinculações de piso de saúde e educação
- Limitação das deduções de despesas médicas no IR
- Revisão de incentivos tributários
- Aumento da tributação das bets
- Maior taxação das fintechs
- Reforma administrativa
Por Bahia Notícias