
Mototáxi Crédito:
Divulgação/Uber
Um professor
de 53 anos, identificado como João Vargas Leal Junior, perdeu a vida quando a
motocicleta que pilotava bateu de frente com um caminhão, na BR-415, entre
Itabuna e Ilhéus, no Sul da Bahia. O caso, ocorrido no dia 8 de dezembro de
2023, se soma a outras 938 mortes em decorrência de acidentes envolvendo moto
na Bahia. O estado é o segundo a registrar o maior número de óbitos nessas
circunstâncias, conforme aponta o Atlas da Violência, estudo produzido pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP).
Só São Paulo
supera a Bahia em número de mortes em acidentes de moto, com 1.719 casos. No
entanto, o estado paulista lidera a estatística desde 2013, enquanto a Bahia
passou a ocupar a segunda posição de forma inédita, após registrar crescimento
de 35,3% no número de ocorrências entre 2013 e 2023.
Para Luide
Souza, especialista em trânsito, dois fatores contribuem para a mortalidade em
acidentes envolvendo moto. O primeiro deles é o fato de a Bahia ter uma das
maiores malhas rodoviárias e a maior frota do país, o que favorece um maior
fluxo de veículos maiores e mais pesados nas vias.
O outro
fator é a irregularidade dos motociclistas. “A frota de motocicletas é maior do
que o número de habilitados nesta categoria, o que sugere que existe grande
quantidade de condutores pilotando motos sem ser habilitados. Como
consequência, ficam em trânsito pessoas que desconhecem as regras de trânsito”,
ressalta Luide.
Ele aponta
que, a partir da pandemia, houve um aumento significativo de transportes por
aplicativo, levando mais motocicletas às ruas, o que pode ter contribuído para
o aumento de mortes. “Estes profissionais trabalham por produtividade, o que
implica em desenvolver velocidade para alcançar metas”, pontua.
Em todo o
ano de 2023, a Bahia contabilizou 2.747 mortes em ocorrências de trânsito,
sendo que 34,2% desses casos corresponderam a acidentes com moto. As estradas
baianas foram palco de 177 mortes, conforme dados da Polícia Rodoviária Federal
na Bahia (PRF-BA), que naquele ano registrou 1.387 acidentes do tipo.
Fábio Rocha,
policial rodoviário e integrante do núcleo de comunicação da entidade, diz que
a PRF observa que, nas rodovias federais que cortam a Bahia, a alta incidência
de acidentes envolvendo motociclistas também se deve, muitas vezes, ao aumento
do número de motos circulando no estado, sendo utilizadas como principal meio
de transporte e trabalho em áreas urbanas e rurais.
“Além disso,
são frequentes os flagrantes de condutores sem habilitação, o não uso do
capacete e o desrespeito às normas de circulação, como ultrapassagens perigosas
e excesso de velocidade. A vulnerabilidade estrutural da motocicleta, combinada
à imprudência e à baixa proteção em caso de sinistro, agrava os riscos e as
consequências desses acidentes”, acrescenta Fábio.
Ele afirma
que a PRF tem atuado de forma contínua com ações de fiscalização e educação
para o trânsito, mas a reversão desses indicadores exige o engajamento de toda
a sociedade e uma articulação mais ampla com os demais entes federativos.
“Ainda há uma cultura de desrespeito à legislação de trânsito por parte de
alguns condutores, associada à dificuldade de fiscalização em áreas remotas e
ao crescimento acelerado da frota”, enfatiza.
A mudança
desse cenário, na perspectiva do policial rodoviário, demanda investimento em
infraestrutura viária, ampliação da fiscalização, formação de condutores e
campanhas permanentes de conscientização. Enquanto isso não consegue ser
implementado de forma adequada, os motociclistas são, via de regra, o que mais
sofrem, porque são os mais vulneráveis no trânsito.
Essa
vulnerabilidade existe porque a própria estrutura da motocicleta oferece pouca
proteção ao condutor e ao passageiro. “Em situações de acidente, mesmo em
velocidades moderadas, as chances de ferimentos graves ou fatais são
significativamente maiores do que em veículos de quatro rodas. Além disso,
muitos motociclistas desrespeitam regras básicas de segurança, como o uso do
capacete e vestimentas apropriadas, aumentando ainda mais a exposição aos
riscos”, diz Fábio Rocha.
Para evitar
novos casos e se proteger no trânsito, a recomendação é para que os
motociclistas usem corretamente o capacete e os demais equipamentos de
segurança, como jaquetas com proteção, calçados fechados e luvas. Também é
fundamental o respeito aos limites de velocidade, a manutenção da distância
segura de outros veículos e adoção de práticas responsáveis, como evitar
ultrapassagens indevidas e estar sempre atento às condições da via. Outro ponto
importante é manter a manutenção da moto em dia e estar com a documentação
regularizada.
Por Correio24horas