
Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil
O sistema do novo consignado privado será reforçado para
suportar a demanda dos trabalhadores, sobretudo nos primeiros dias após o
lançamento da modalidade, mas não estará imune a falhas, reconhece o presidente
da Dataprev, Rodrigo Assumpção.
"A ideia de que tecnologia funciona e funciona o tempo
todo não é partilhada por ninguém que lida com isso profissionalmente",
diz em entrevista à reportagem.
Em uma espécie de vacina contra possíveis problemas, ele
afirma que nenhuma tecnologia ou sistema tem garantia de 100% de funcionamento.
"Estou muito mais preocupado com o tempo de resposta, em
quanto tempo consegue voltar à normalidade, como que a gente elimina o
potencial de contaminação de vários sistemas no caso de ataques e ameaças, do
que propriamente se tem ou não tem [falhas]. A regra é sempre ter",
acrescenta.
O lançamento do novo consignado privado ainda depende da
publicação de uma MP (medida provisória) pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), com as regras detalhadas da modalidade.
A Dataprev é uma empresa de tecnologia do governo federal.
Ela será responsável pelo sistema do novo consignado, junto com o Serpro (que
opera o eSocial, plataforma por onde será feito o pagamento da prestação
mediante desconto em folha) e a Caixa Econômica Federal (que receberá os
pagamentos e fará a distribuição às instituições financeiras que concederam os
empréstimos). Todos serão remunerados pelo serviço.
Uma vez em vigor, o sistema será acoplado ao aplicativo da
Carteira de Trabalho Digital. Embora tenha sido construído sobre bases
tecnológicas mais modernas, ele estará abrigado dentro de um ecossistema
pré-existente, que conta com seus próprios gargalos e "pontos de
estresse".
O presidente da Dataprev afirma que, se o trabalhador entrar
no aplicativo da Carteira de Trabalho e concentrar suas demandas apenas no
crédito consignado, a operação deve ocorrer dentro do esperado.
"Se, ao entrar nesse novo sistema, a pessoa ainda
resolver fazer mais cinco ou seis operações, [pensar] 'já que eu tô aqui, deixa
eu investigar o que mais que tem', isso pode gerar cascatas que podem chegar em
espaços e em sistemas que não estão com esse mesmo robustecimento, a mesma
capacidade de atender. Isso é algo que, só quando começar, nós vamos conseguir
calibrar e estruturar", diz.
A empresa já tem mapeado o comportamento médio dos
trabalhadores ao acessar o aplicativo. Segundo Assumpção, se esse padrão se
mantiver, e houver apenas o acréscimo da demanda pelo consignado, a Dataprev
estará preparada para dar o suporte tecnológico.
"Mas se esse novo sistema também trouxer um incremento
na demanda para outros serviços e outras caixinhas, pode ser que a gente tenha
algum [problema]... Mas isso é algo que, se acontecer, temos ferramentas para
calibrar, no dia seguinte melhorar, desviar daqui, acertar ali. Não existe
sistema novo que entra, que não passe por um processo de adaptação",
afirma.
"Não é só vacina [contra possíveis problemas]. As
pessoas precisam entender que a tecnologia da informação são camadas de
complexidade jogadas em mais camadas de complexidade. Aí é matemática, né? Se
você tem pontos de falhas que são conectados a outros pontos de falha, é uma
multiplicação, e a probabilidade vai aumentando de maneira exponencial",
acrescenta.
A MP do novo consignado deve ser assinada por Lula na próxima
quarta-feira (12). A partir daí, os bancos precisarão solicitar credenciamento
para oferecer a modalidade, bem como fazer a habilitação técnica junto à
Dataprev.
Os trabalhadores, por sua vez, precisarão manifestar
interesse na operação por meio do aplicativo da Carteira de Trabalho Digital.
"O trabalhador procura uma oferta, coloca lá a sua
demanda de quanto gostaria, de qual vínculo, porque há pessoas com mais de um
vínculo, e ele recebe ofertas. Querendo seguir adiante com uma dessas ofertas,
ele vai para os canais das instituições financeiras, faz um contrato, esse
contrato então é programado e adicionado no eSocial [para o empregador recolher
o valor da parcela junto com o FGTS]. Isso chega na Caixa e é
distribuído", explica.
Segundo o presidente da Dataprev, haverá um período inicial
em que os trabalhadores deverão trocar contratos de crédito pessoal ou outras
modalidades com juros maiores pelo consignado privado, com custo menor. Isso
será feito mediante portabilidade.
Uma vez recebida a manifestação de interesse do trabalhador,
a Dataprev vai disponibilizar aos bancos um conjunto de dados agregados para
que as instituições financeiras consigam fazer sua análise de risco e, assim,
calcular a taxa de juros a ser cobrada na operação.
"Fulano pertence a uma indústria tal, que tem esse grau
de rotatividade, está em um emprego há tantos anos. Tem informações básicas, e
há um consentimento à medida que ele está pedindo [o financiamento]. Essa
avaliação de risco é fundamental para a instituição financeira", diz
Assumpção.
O novo sistema já incorpora aprendizados obtidos na operação
do consignado para aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social), uma modalidade já consolidada.
Segundo o presidente da Dataprev, só há seis anos,
aproximadamente, o governo adotou um armazenamento centralizado dos contratos
dessas operações, o que facilita o acesso às informações em caso de eventuais
reclamações (por descontos indevidos, por exemplo). No consignado privado, esse
modelo será adotado desde o princípio.
"Nós estamos trabalhando há vários meses nesse sistema e
agora estamos na reta final. Já estamos trabalhando com contingência, volume, é
uma parte bem mais avançada do processo", afirma.
Por Bahia Notícias