
Foto: Reprodução / TV Globo
Médicos do Hospital Nossa Senhora do Pari, localizado no
Canindé, região central de São Paulo, usam furadeiras domésticas para operar
pacientes, de acordo com reportagem da TV Globo. As ferramentas seriam
utilizadas em todos os procedimentos que exigem perfuração óssea.
O uso de furadeiras domésticas para cirurgia é proibido pela
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2008.
Referência em atendimentos ortopédicos em São Paulo, a
instituição é filantrópica e 100% credenciada pelo SUS (Sistema Único de
Saúde). De acordo com a denúncia, o produto usado para higienização das
furadeiras é um detergente desengordurante indicado para locais como pousadas,
hotéis de médio porte, cozinhas e restaurantes.
A Folha de S.Paulo pediu um posicionamento ao hospital. Por
email, a instituição disse que discute o assunto com o departamento jurÃdico e
em breve se manifestará publicamente.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Saúde disse
apenas que a fiscalização sanitária cabe ao governo estadual, que emite o
alvará sanitário de funcionamento. No caso do Hospital Nossa Senhora do Pari, a
licença sanitária está vigente até abril de 2025.
O órgão não respondeu se tomará alguma providência em relação
ao caso. A instituição é uma prestadora de serviços ao municÃpio.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo afirma
que o hospital possui total autonomia administrativa, operacional, assistencial
e de recursos humanos, e está sob gestão do municÃpio de São Paulo. Segundo a
pasta, O Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo realiza, nesta
quinta-feira (6), uma inspeção no Hospital Nossa Senhora do Pari, com o
objetivo de apurar e investigar possÃveis irregularidades.
O uso de furadeiras domésticas para cirurgia é proibido pela
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2008. O uso em
procedimentos cirúrgicos incorre em infração sanitária porque representa grave
risco à saúde da população.
De acordo com a nota técnica 40, de 2017, "a furadeira
doméstica não apresenta controle da rotação; pode aspirar partÃculas de osso
para o interior. A ferramenta não pode ser esterilizada. A lubrificação a óleo
pode contaminar o campo cirúrgico. Além disso, ela não está protegida do risco
de descarga elétrica".
Hospital do Pari deve acompanhar pacientes operados, diz
diretor de associação de dispositivos médicos
Para Paulo Henrique Fraccaro, diretor da ABIMO (Associação
Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos), o hospital precisa levantar a
ficha dos pacientes operados com a furadeira doméstica e acompanhá-los. Outra
medida imediata é a suspensão das próximas cirurgias programadas até que os
equipamentos projetados para essa finalidade sejam adquiridos.
"Os instrumentos cirúrgicos têm uma anatomia, um peso e
um design para facilitar horas de cirurgia. O hospital tem que ser processado e
interditado. Essa furadeira tem uma vibração natural que para o serviço
doméstico não atrapalha. Numa cirurgia, o furo tem que ser preciso. Não pode
ter nada a mais do que a broca está programada. A furadeira doméstica não
permite isso. Segundo, a furadeira doméstica não é preparada para ser
esterilizada. Ela tem aquelas aletas de ventilação onde pode entrar o sangue
durante a cirurgia e não tem mais como remover", afirma Fraccaro.
"Se você colocar em uma autoclave, em uma temperatura
alta, ela será danificada. E tem mais um detalhe: durante o processo de
furação, ela pode liberar partÃculas internas da sua parte elétrica, dos cabos
que tem lá dentro, e entrar dentro da cavidade cirúrgica. Se eu tiver esse
conceito, dentro de um hospital, de que ela é mais barata do que a furadeira
indicada, vou comprar tudo na Leroy Merlin. Eu não preciso comprar mais nada
com especialidade para o procedimento cirúrgico".
Por Bahia NotÃcias