Foto: Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil
Entidades médicas relatam desabastecimento de insulina para
tratamento de diabetes no Brasil. A causa do problema seria falta de insumos
para a produção do medicamento a nível global, segundo nota publicada pelo
Ministério da Saúde.
O SUS (Sistema Único de Saúde) oferece dois tipos de
insulina: a Humulin ou Novolin NPH e a Regular. De acordo com Sylvio
Provenzano, endocrinologista e integrante do Cremerj (Conselho Regional de
Medicina do Rio de Janeiro), todos esses medicamentos estão em falta na rede.
"Houve uma falha de produção desses tipos de insulina", diz.
Nesta segunda-feira (6), a Folha entrou em contato com 13
farmácias na cidade de São Paulo e todas apresentavam algum nível de
desabastecimento. Sete não tinham qualquer versão do medicamento; cinco tinham
somente refil para caneta; e uma oferecia apenas a caneta da insulina regular.
O principal tratamento para o diabetes tipo 1 é a insulina,
pois o paciente não produz a substância em níveis suficientes. O diabetes tipo
2 é tratado de outras formas, mas em alguns casos a injeção também é
necessária.
Sylvio Provenzano ressalta que pacientes com diagnóstico de
diabetes tipo 1 precisam da insulina para sobreviver. "Após quatro ou
cinco dias, o paciente pode entrar em coma diabético, que tem uma taxa de
mortalidade alta. Isso vai sobrecarregar o sistema de saúde."
Não há informações oficiais sobre o número de farmácias e
hospitais desabastecidos. Questionado, o Ministério da Saúde não respondeu até
a publicação deste texto.
No último 2, contudo, a pasta divulgou uma nota na qual
anunciou ter adotado medidas estratégicas para enfrentar "a restrição
global na oferta de insulinas humanas NPH e regular, essenciais para o
tratamento de pessoas com diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2 no Brasil".
"Em 2024, foram contratadas 55,6 milhões de unidades,
com um investimento de R$ 799 milhões, visando atender à crescente demanda.
Para 2025, o orçamento destinado a esses medicamentos será ampliado para R$ 1
bilhão", diz o Ministério da Saúde.
Também procurada, a Abrafarma (Associação Brasileira de
Farmácias e Drogarias) diz não ter sido notificada pelas drogarias sobre um
possível desabastecimento de insulina.
Em junho de 2024, o laboratório Novo Nordisk alertou que
haveria falta na oferta de insulina para a Farmácia Popular e para as redes de
farmácias a partir de julho. À Folha a empresa disse que o desabastecimento
ocorre "devido a desafios globais na cadeia de suprimentos de
medicamentos, que afeta diretamente o fornecimento de insulinas em todo o
mundo".
No dia 26 de novembro, o Ministério da Saúde fechou acordo
com a Novo Nordisk para antecipar a entrega de uma remessa de 1,8 milhão de
canetas de insulina até o fim dezembro de 2024 e garantir o abastecimento no
SUS. A pasta não confirmou se a entrega foi feita, nem respondeu se a Novo
Nordisk é o único laboratório fornecedor de insulina para o SUS.
Ainda em novembro, o CFM (Conselho Federal de Medicina)
manifestou preocupação "com a grave falta de insulina no Brasil".
"A restauração do abastecimento contínuo e adequado
deste medicamento não pode ser postergada, sob risco de consequências
irreversíveis para a saúde pública", disse a entidade, em nota divulgada
na ocasião.
Em 2023, o Brasil também enfrentou escassez de insulina no
SUS, tendo que recorrer a contratações diretas e à abertura de licitação para
insulinas análogas.
O QUE FAZER?
O Ministério da Saúde recomenda que pacientes com indicação
médica para tratamento com insulina que enfrentarem dificuldades para obter o
medicamento em farmácias privadas, incluindo aquelas vinculadas ao programa
Farmácia Popular, devem procurar uma UBS (Unidade Básica de Saúde) para
atendimento.
Uma das doenças crônicas de maior impacto no sistema de
saúde, o diabetes tem crescido no país e no mundo.
Dados da pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, apontam
aumento de 65% em 15 anos na taxa de adultos brasileiros com diabetes —em 2021
havia 9,1% da população neste grupo, ante 5,5% em 2006.
Por Bahia Notícias