
Casa de
taipa Crédito: Shutterstock
No Brasil
colônia, a técnica de taipa de pilão era vista como novidade no ramo da
construção. Com o tempo e o avanço da engenharia, o material ficou para as
pessoas pobres e negras, uma vez que a taipa é vulnerável às condições
climáticas e ao aparecimento de doenças. Essa foi apenas mais uma das ações
silenciosas da cruel política de exclusão contra a população negra e
socialmente vulnerável que, apesar de datar de pelo menos 500 anos, segue
presente na atualidade. Não à toa, mais de 285 mil baianos vivem em casas de
taipa ou madeira, conforme aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
A informação
se baseia nos resultados sobre Características dos Domicílios do Questionário
da Amostra do Censo Demográfico 2022. Ao total, 286.820 pessoas – 2% do total
da população do estado, que é de 14,14 milhões – vivem em imóveis com paredes
construídas com materiais menos adequados.
Entre
eles: taipa sem revestimento (55.313 pessoas, ou 0,4% dos moradores em
domicílios particulares permanentes); madeira para construção (49.042 ou 0,3%);
madeira aproveitada de tapume, embalagens e andaimes (8.856 ou 0,1%), e
materiais como zinco, plástico, folha ou casca de vegetais (173.609 pessoas ou
1,2% dos moradores).
Para Clímaco
Dias, geógrafo e professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal
da Bahia (Ufba), a habitação em locais construídos com esses tipos de
materiais, sobretudo a taipa, torna a população muito mais vulnerável. “A casa
de taipa é algo clássico de hospedar animais, tipo o barbeiro, que é
responsável por Doença de Chagas, uma doença incurável. Então, além de outras
questões de insalubridade que esse tipo de habitação provoca, é uma
característica da nossa desigualdade”, afirma.
Desigualdade
O
historiador Rafael Dantas conta no passado recente ainda era possível encontrar
casas de taipa em zonas rurais. “Isso mostra a dificuldade de acesso a alguns
materiais de construção e algumas técnicas construtivas também. [...] Hoje, ver
casas assim mostram que há uma questão social tocante a essas dificuldades
ainda estão presentes em algumas comunidades”, reitera.
Segundo
Mariana Viveiros, supervisora de disseminação de informações do IBGE, a madeira
de construção é o material considerado menos inadequado em relação aos demais.
Ela lembra, inclusive, que a região Sul do Brasil tem tradição de construção de
casas com esse tipo de madeira, mas na Bahia tal uso configura precariedade, já
que não há tradição e método adequado para garantir segurança para os
moradores.
“A madeira
pode tornar o domicílio mais vulnerável a intempéries, a situações de
emergência climática, além de poder configurar algum tipo de risco para as
pessoas em termos de proteção quanto à possibilidade de doenças e animais que
podem adentrar aquele espaço”, alerta Mariana.
O estudo
ainda mostra que a maior parte dos baianos (98%) moram em domicílios
particulares permanentes com paredes de alvenaria (com ou sem revestimento) ou
taipa com revestimento – o que totaliza 13.817.335 habitantes. A proporção do
estado é maior do que a nacional (94,6%) e a 13ª entre as 27 unidades da
Federação, num ranking liderado por Rio de Janeiro (99,5%), Minas Gerais
(99,4%) e Rio Grande do Norte (99,4%).
Em Salvador,
98,7% das pessoas (2.377.038) moram em domicílios com as paredes externas de
alvenaria (com ou sem revestimento) ou taipa com revestimento, enquanto 1.238
(0,05%) moram em residências de madeira para construção; 1.090 (0,04%), em
domicílios de taipa sem revestimento; 520 (0,02%) em domicílios de madeira
aproveitada de tapume, embalagem, andaime, e 28.204 (1,2%) vivem em domicílios
feitos de outros materiais.
Por
Correio24horas