Foto: Marcello Casal Jr / EBC
O pente-fino do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) no
auxílio-doença cortou quase metade dos benefícios analisados até agora, segundo
dados da Previdência Social. Iniciada no final de julho, a revisão envolveu a
análise, por meio de perícia médica, de 238 mil auxílios e cortou 133 mil, o
que dá 48,45%.
A economia é de R$ 1,3 bilhão com o que o governo pagaria a
esses segurados até o final do ano, o que representa 55% do total de R$ 2,9
bilhões previstos pelo governo com a revisão. Falta ainda R$ 1,6 bilhão.
Embora estejam em consonância com os planos do Ministério da
Fazenda para equilibrar as contas públicas, os cortes representam um
cumprimento da legislação previdenciária, segundo Adroaldo da Crunha Portal,
secretário de RGPS (Regime Geral da Previdência Social).
"A gente está podendo fazer o que não era possível, que
é dedicar a mão de obra para revisão do benefício, para tirar do sistema que
entrou há muito tempo", afirma.
Segundo ele, o pente-fino no auxílio-doença está sendo
possível por conta da agilidade trazida pelo Atestmed, sistema automático de
concessão de benefício por incapacidade temporária com o envio do atestado
médico por meio do Meu INSS, sem que seja necessário passar por perícia médica.
Sem a perícia inicial, a fila de espera pelo exame pericial
diminuiu.
"Nós tínhamos, nos últimos anos, transformado a perícia
de auxílio-doença em análise documental de corpo presente. Ou seja, marcava a
perícia para daqui seis meses. No dia da perícia, a pessoa ia lá levar o
documento", diz, explicando que, na maioria dos casos, a incapacidade já
havia terminado.
Cunha afirma também que o Atestmed tem sido o primeiro passo
para identificar fraudes em atestados médicos, com filtros que barram
documentos suspeitos já na análise inicial.
O sistema de Inteligência Artificial utiliza testes de
grafologia para identificar a caligrafia, a tinta da caneta, o peso utilizado
pelo médico ao fazer aquela assinatura.
De acordo com ele, entre as fraudes barradas estão vários
atestados concedidos com a mesma letra, em curto período de tempo e em cidades
diferentes, onde o mesmo médico não poderia estar, ou mesma letra, mas com
carimbos diferentes, com médicos diferentes. Casos como esses são levados para
investigação.
O forte aumento das despesas com o benefício por incapacidade
temporária (antigo auxílio-doença) tem puxado o crescimento dos gastos do
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a Previdência Social.
É o benefício que mais cresce na Previdência Social e com uma velocidade maior
do que os demais, como mostrou a Folha.
O plano do órgão é revisar ao menos 800 mil auxílios-doença
até o final deste ano. A revisão de benefícios começou em julho, com a volta da
perícia médica presencial para quem pede a renovação do auxílio e o
recadastramento de beneficiários do BPC (Benefício de Prestação Continuada),
mas ganhou força a partir deste mês.
COMO É A CONVOCAÇÃO
O governo convoca os segurados por push do Meu INSS, por
busca ativa (que é quando a Central de Atendimento 135 liga pelo número (11)
21350135), carta enviada por meio dos Correios, SMS, rede bancária (no extrato
do pagamento) e, por fim, publicação de edital no Diário Oficial da União.
Quem recebe auxílio-doença deve manter os dados cadastrais
atualizados para que o INSS possa entrar em contato, se necessário.
COMO EVITAR A PERDA DO AUXÍLIO-DOENÇA?
Os benefícios de auxílio-doença (hoje chamado de benefício
por incapacidade temporária) e aposentadoria por invalidez (hoje aposentadoria
por incapacidade permanente), são benefícios para quem não pode mais exercer
sua atividade profissional em virtude de acidente ou doença.
O auxílio-doença tem uma duração menor e geralmente é revisto
a cada seis meses. No caso da aposentadoria por invalidez, as revisões ocorrem
a cada dois anos até que o segurado complete 60 anos.
Como são dois benefícios atrelados a uma condição de saúde
que tornam o cidadão incapaz para o trabalho, os especialistas apontam que é
essencial manter documentos que comprovem a doença. Eles devem, no entanto, ser
documentos atualizados.
"É importante que o segurado esteja sempre com o
relatório médico atualizado e que ele mantenha uma rotina de consultas médicas
para reavaliação. Se a perícia convocar o beneficiário e o último laudo for de
dois anos atrás, pode ser que surja uma desconfiança do INSS," diz a
advogada previdenciarista Adriane Bramante, do IBDP (Instituto Brasileiro de
Direito Previdenciário).
Francisco Eduardo Alves Cardoso, vice-presidente da ANMP
(Associação Nacional de Médicos Peritos), afirma que atestados desatualizados
não têm como ser aceitos pela perícia. Segundo ele, documentos com data antiga
têm sido levados às agências pelos segurados, porque, pela regra do Atestmed,
com a renovação automática, não era necessário atualizar a data do atestado.
Por Bahia Notícias