
Sul da Bahia foi uma das regiões mais atingidas com as
chuvas de 2021 e 2022 Crédito: Camila Souza/GOVBA
O inverno chegou em 20 de junho, mas ainda tem muita gente
indo dormir com o ventilador ou com o ar-condicionado ligados e as notícias não
são animadoras. Os baianos devem se preparar para temperaturas acima da média
no segundo semestre de 2024. Durante a noite pode até esfriar um pouco, mas os
dias serão de suor. A previsão é da empresa Climatempo e os detalhes foram
apresentados durante o 1º Fórum Desafios Climáticos na Bahia, realizado nesta
quinta-feira (4), em Salvador.
O evento foi uma iniciativa da Neoenergia Coelba e teve
participação das Defesas Civil da Bahia e de Salvador. O objetivo foi debater
as previsões para os estado e para a capital e apresentar o planejamento da
distribuidora para lidar com eventos extremos do clima, como os temporais que
atingiram as cidades de Ilhéus e Itabuna, no fim de 2023, os mais de 820mm que
caíram em Salvador, em abril, ou situações como a calamidade enfrentada pelos
gaúchos.
Quando um barranco desliza sobre a rede de energia
elétrica, uma árvore tomba sobre um poste ou um rio transborda e inunda uma
área extensa é um desafio para as equipes conseguirem reparar o problema e
restaurar o serviço, mas, segundo os especialistas, eventos climáticos extremos
são previsíveis e precisam ser monitorados. É sabido, por exemplo, que o efeito
La Ninã deve começar em julho e intensificar a chuva no Norte e no Nordeste, na
primavera, e o risco de estiagem extrema no verão.
O diretor-presidente da Neoenergia Coelba, Thiago Guth,
citou a tragédia do Rio Grande do Sul como um exemplo da necessidade de se
antecipar aos desastres, contou que a concessionária já tem planos de
emergência para regiões onde a densidade populacional é mais elevada na Bahia e
frisou que esse planejamento está sendo revisado e ampliado para todo o estado.
"O objetivo desse evento é discutir o que nós podemos
fazer em conjunto para nessas situações, que por mais que a gente se prepare
ainda vão acontecer, a gente com boa interlocução entre o poder público,
sociedade e a concessionária de energia possamos passar por esse momento sem
risco e consiga de forma mais rápida reestabelecer o serviço para a
sociedade", explicou.
O evento foi realizado no auditório da sede da empresa, em
Narandiba. Na plateia estavam agentes de trânsito, profissionais da Defesa
Civil de Salvador e do Governo do Estado, o comandante geral do Corpo de
Bombeiros, representantes das Forças Armadas, servidores públicos e
especialistas no tema. O superintendente Técnico da Neoenergia, Thiago Morais,
lembrou dos impactos das mudanças no tempo na distribuição de energia.
"Um evento climático, se estiver associado de ventos
fortes, descargas atmosféricas e grandes volumes de chuva afeta a rede
elétrica. Então, antecipando essas previsões nós conseguimos traçar planos
tanto de investimentos como de manutenção e operacionais para responder a essas
interferências externas em nossa rede", afirmou.
A empresa anunciou R$ 13,3 bilhões em obras estruturantes
em toda a Bahia, até 2027. Atualmente, profissionais da Coelba estão
inspecionando cerca de 90 mil quilômetros da rede elétrica – o equivalente a
duas voltas ao mundo, e realizando 342 mil podas e 37 mil manutenções
estruturais. Na sede, uma sala de comando monitora o estado 24h e ao lado fica
uma sala de crise para situações extremas.
Previsão
Durante o evento a Coelba apresentou dados que apontam que
de janeiro a março deste ano a quantidade de chuvas e o número de descargas
atmosférica na Bahia foi três e seis vezes maior, respectivamente, que no mesmo
período do ano passado. A especialista em clima e mudanças climáticas da
empresa Climatempo, Marcely Sondermann, explicou que nos últimos 12 meses o
planeta registrou temperaturas muito acima da média e frisou que os efeitos
desse aquecimento já são uma realidade.
"A gente vem observando nos últimos anos que o
aquecimento global é o principal combustível para termos eventos extremos, como
chuvas mais intensas e secas mais severas. Muitas vezes, a chuva fica mal
distribuída no mês, com vários dias de seca e, depois, uma chuva concentrada e
que vem acompanhada de rajada de ventos e de raios", explicou.
Segundo a especialista, entre agosto e setembro a chuva
ficará menos intensa na Bahia, mas as temperaturas permanecerão acima da média.
A partir de outubro, e principalmente em novembro, ela voltam com mais
intensidade e em volumes acima do normal no Oeste, Sul e Extremo-Sul. O diretor
geral da Defesa Civil de Salvador (Codesal), Sosthenes Macedo, contou que as
previsões do Centro de Monitoramento de Alerta e Alarme da Defesa Civil de
Salvador (Cemadec) apresenta mais detalhes.
"A tendência em Salvador é de que nós estejamos na
normalidade. O que a gente escuta, entretanto, é que para o interior do estado
a gente tenha acumulados pluviométricos mais intensos. Já as temperaturas estão
elevadas. A gente tem experimentado uma característica muito comum de cidades
no interior, distantes do mar, que têm noites frias e calor intenso durante o
dia", explicou.
No ano passado, a prefeitura elaborou um plano para lidar
com as altas temperaturas do verão. O protocolo está em vigência e será
revisado nas próximas semanas. Ele estabelece, por exemplo, a distribuição
gratuita de água e protetor solar, e uso de carro-pipa em eventos com grandes
aglomerações, entre outras medidas.
O superintendente de Proteção e Defesa Civil do Estado da
Bahia (Sudec), Osny Bonfim, contou que o estado também tem um planejamento para
lidar com as questões do clima e disse que no segundo semestre a atenção é
redobrada com a região Sul e Extremo-Sul da Bahia.
"A Bahia tem prevalência de estiagem, cerca de 75% das
situações de emergências são declaras por seca e estiagem, mas o Plano Estadual
de Convivência com o Semiárido que é uma lei estadual, percebe, avalia, estuda
e se planeja para a seca e para eventos de chuvas intensas", afirmou.
O 1º Fórum Desafios Climáticos na Bahia contou com a
participação de aproximadamente 150 pessoas e integra o plano de ação da
Neoenergia Coelba para mitigar os efeitos das mudanças climáticas para a
população baiana.
Por Correio24horas