
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
O governo do presidente Luís
Inácio Lula da Silva (PT) cortou verbas do Ministério da Saúde e de bolsas em
universidades e da educação básica, entre outras ações, durante o ano de 2024.
A diminuição de recursos ainda atingiu programas como o Criança Feliz e o
financiamento das comunidades terapêuticas, estruturas voltadas ao tratamento
de pessoas que fazem uso abusivo de álcool e drogas.
De acordo com a Folha de São
Paulo, o corte total feito em diversos ministérios supera R$ 4 bilhões. A
medida foi tomada para adequar o Orçamento às regras do novo arcabouço fiscal.
Uma das bandeiras da Saúde sob Lula, o programa Farmácia Popular perdeu cerca
de 20% dos recursos para a entrega de medicamentos com desconto. A redução
desta ação alcançou R$ 107 milhões dos R$ 140 milhões retirados do ministério.
Nesta modalidade, o ministério
banca até 90% do valor dos medicamentos para doenças como glaucoma, Parkinson,
entre outras, comprados em farmácias credenciadas. Os R$ 4,9 bilhões reservados
para a entrega gratuita de medicamentos, porém, foram preservados. Nesta
segmento do programa são beneficiados, entre outros grupos, os inscritos no
Bolsa Família.
Em nota, a Saúde destacou que o
orçamento geral do Farmácia Popular foi turbinado no governo Lula. Na gestão
Bolsonaro (PL), a verba era de cerca de R$ 2,5 bilhões anuais. O governo
anterior ainda reservou somente R$ 1 bilhão para o programa na proposta de
Orçamento de 2023 —o valor foi foi elevado a R$ 3 bilhões com a PEC da
Transição.
O corte "não impactará no
planejamento do Ministério de imediato", disse a pasta. "Tendo em
vista que, ao longo do exercício financeiro, estes recursos poderão ser
reestabelecidos e o planejamento anual ser executado de forma adequada."
Já o MEC e a pasta da Ciência e Tecnologia perderam cerca de R$ 280 milhões. As
ações ligadas à pesquisa e assistência estudantil em universidades e no ensino
básico estão entre as mais impactadas.
Dentro deste mesmo corte, a
verba do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
caiu R$ 73 milhões. A redução foi de cerca de 3,6% do recurso do órgão de
incentivo à pesquisa. Apesar de o percentual ser baixo, as instituições de
ensino têm reiterado reclamações sobre falta de verba. Em dezembro, a Andifes
(Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino
Superior) disse que as universidades recebem verba "insuficiente".
Para as ações ligadas à educação
básica, o corte superou R$ 30 milhões. Cerca de metade desta cifra estava
prevista para produção e distribuição de material didático. Em 2023, o MEC teve
o caixa reforçado, após perder protagonismo sob Jair Bolsonaro (PL) na indução
de políticas públicas. Mas a nova fase veio acompanhada de dificuldades na
execução de recursos.
É comum que ações
discricionárias sejam cortada durante o ano para, por exemplo, reforçar gastos
obrigatórios, como da dívida pública ou sentenças judiciais, ou adequar o
Orçamento às regras fiscais. A recomposição destes valores sofre influência do
desempenho da economia, arrecadação do governo, queda de gastos obrigatórios,
entre outros fatores. Em 2023, a verba discricionária subiu entre o começo e o
fim do ano —em 2024, até agora, houve redução.
No saldo dos cortes, o
Ministério da Fazenda perdeu o maior volume de recursos discricionários, ou
seja, da verba usada no custeio e investimento e que não estão comprometida com
obrigações como folha salarial. Esta cifra caiu 15%, com corte de R$ 485 milhões
em ações destinadas, por exemplo, à tecnologia da Secretaria Especial da
Receita Federal.
Outra bandeira da gestão Lula, o
Bolsa Verde teve 20% dos recursos cortados. O orçamento atual é de R$ 112
milhões ao programa que prevê repasse extra a beneficiários do Bolsa Família
que vivem em regiões de floresta sob risco de desmatamento. Já o orçamento do
Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome
caiu R$ 225 milhões. A pasta afirma que tem verba para manutenção dos contratos
do Criança Feliz até setembro. O programa, que perdeu R$ 90 milhões, inclui
visitas domiciliares a gestantes e crianças e era uma bandeira do governo
Michel Temer (MDB).
O ministério ainda estima que
tem recursos para as comunidades terapêuticas até agosto. Essas estruturas
costumam ser ligadas a entidades religiosas e são bandeiras de parte dos
parlamentares da direita, enquanto parte da esquerda rejeita este tipo de internação.
Em nota, o Ministério do Planejamento disse que a baixa inflação de 2023 causou
o ajuste. "Inicialmente havia sido programado para este ano um montante de
R$ 32 bilhões em despesas que estavam condicionadas à apuração da inflação.
Mas, como o IPCA veio abaixo do previsto, o valor de fato que pôde ser liberado
foi de cerca de R$ 28 bilhões", disse a pasta.
"Esse ajuste é o principal
fator que explica a redução, em R$ 4,5 bilhões, da estimativa para a despesa
discricionária em 2024, anunciada no Relatório de Avaliação de Receitas e
Despesas do 1º Bimestre", afirmou ainda o ministério. Além dos cortes, o
governo bloqueou outros R$ 2,9 bilhões do orçamento. Esse bloqueio ainda pode
ser revertido, por exemplo, com eventual queda de despesas obrigatórias.
Os ajustes são decididos pelo
colegiado da JEO (Junta de Execução Orçamentária), com base em informações
enviadas pelos ministérios. Em nota, a Ciência e Tecnologia disse que o
bloqueio de verbas estava previsto e os recursos podem ser liberados durante o
ano. "Este contingenciamento não impactará o pagamento de bolsas do
CNPq", disse a pasta, que não respondeu sobre o corte do orçamento.
Procurado, o MEC não se manifestou.
Apesar dos cortes, o Ministério
dos Povos Indígenas teve a verba turbinada durante o ano. O orçamento da pasta
subiu de R$ 850 milhões para R$ 1,3 bilhão, uma alta puxada pela liberação de
cerca de R$ 1 bilhão a diversos órgãos para enfrentar a crise Yanomami. Esse
aporte, porém, feito como crédito extraordinário, que é utilizado em casos de
despesas urgentes, como crises, e não exigiu cancelamento de outras despesas.
Por Bahia
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