
Leiliane toma remédios controlados para fibromialgia Crédito: Paula Froes/CORREIO
Quando foi até o caixa da farmácia comprar
medicamentos de uso contínuo, Leiliane Felício, 49, já estava preparada para
pagar mais caro do que o habitual. A compra foi feita na terça-feira (2), um
dia após o reajuste de 4,5% no preço dos remédios começar a valer no Brasil. A
surpresa veio na hora de pagar: um dos medicamentos para o tratamento da
depressão e fibromialgia estava 83% mais caro. A situação se repete em todo o
estado e, na prática, o reajuste pode ultrapassar os 300%.
“Eu tomo muitos remédios de uso contínuo e, alguns
deles, são duas caixas por mês. Mas tive que comprar uma caixa de cada, apenas.
No meio do mês, vou ter que me virar para comprar o resto”, diz Leiliane
Felício. Os gastos mensais com medicamentos chegam a custar R$500 para a
professora. Pessoas como ela, que tratam doenças crônicas, são as mais
prejudicadas com o aumento dos preços.
A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos
(Cmed) autorizou o reajuste de 4,5%, mas uma pesquisa feita pelo Instituto de
Defesa de Consumidores (Idec) revela que o aumento pode ser muito maior. Isso
porque, na maioria das vezes, as farmácias cobram valores inferiores ao teto
permitido. Como o reajuste incide sobre o preço máximo, as drogarias têm uma
margem ainda maior para definir os preços.
“Como as farmácias já praticam preços muito abaixo
do teto, elas podem aplicar um reajuste bem maior, que está dentro do
permitido”, diz Marina Magalhães, pesquisadora do programa de saúde do Idec.
Isso explica porque a desvenlafaxina, que Leiliane comprava por R$49 no mês
passado, passou a custar R$90 - um aumento de 84%.
“Vamos supor que um medicamento é vendido por
R$100, mas o teto permitido é R$200. Os 4,5% serão aplicados sobre o máximo.
Então, a farmácia poderá reajustar tanto quanto quiser desde que não passe de
R$209. A decisão fica para a varejista”, completa a pesquisadora, que critica a
falta de controle sobre os preços praticados.
A losartana potássica, utilizada para o controle da
hipertensão, chega a custar menos de um quarto do seu preço máximo. Nesse caso,
a farmácia pode reajustar em mais de 300% sem desrespeitar a lei. “O tamanho da
diferença entre o preço praticado e o teto depende do medicamento. Em média, os
medicamentos de marca são 70% mais baratos e os genéricos, 115%”, revela Marina
Magalhães.
A Associação Brasileira de Redes de Farmácias e
Drogarias (Abrafarma), que representa as 30 maiores redes do varejo
farmacêutico nacional, disse, em nota, que o reajuste tem como objetivo “a
reposição dos custos da indústria e do varejo”. “Entre os quais: reajustes
salariais, custos de ocupação, perdas de insumos, energia elétrica, água e
aluguel de pontos de venda”, pontuou.
Por Correio24horas