
Foto: Wilson Dias / Arquivo / Agência Brasil
O número de jovens aprendizes que entraram no mercado de trabalho por
meio da Lei da Aprendizagem cresceu 571% desde 2006, de acordo com dados do MTE
(Ministério do Trabalho e Emprego). Naquele ano, quando essas contratações
começaram a ser monitoradas, havia 81 mil aprendizes ante 546 mil no final de
2023.
Sancionada há 24 anos, a lei obriga empresas com mais de 50 funcionários
a terem de 5% a 15% de jovens aprendizes entre 14 e 24 anos entre seus
funcionários. Especialistas apontam, que, embora se empregue mais de 500 mil no
país, há capacidade para 1 milhão de aprendizes, e essa é a meta buscada pelo
MTE.
De acordo com dados do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), entre
janeiro e outubro de 2023, o número de aprendizes no Brasil cresceu 7,1%, com
60,8 mil contratações em janeiro, chegando a 65,2 mil em dezembro. No
comparativo com ano anterior, o volume de aprendizes cresceu 0,7%, chegando a
63 mil contratações.
Rodrigo Dib, superintendente Institucional do CIEE, afirma que a Lei da
Aprendizagem dá oportunidade de trabalho, além de representar inclusão social
aos jovens beneficiários dela. Contudo, avalia haver empecilhos para que a
legislação atinja seu potencial pleno.
"O programa jovem aprendiz é benéfico para empresa, que consegue um
profissional em formação enquanto aprende a cultura empresarial. Ao olhar para
potencial da lei, se todas as empresas enquadradas na obrigatoriedade dela a
seguissem, teríamos cerca de 1 milhão de aprendizes", diz.
De acordo com o MTE, até novembro de 2023, os auditores-fiscais do
trabalho realizaram mais de 36 mil ações para implementação no programa, em uma
atividade constante para fazer com que o número de beneficiados aumente.
Em 2024, o ministério afirma ter mais 266 ações de fiscalização de
empresas relacionadas a aprendizes planejadas. A expectativa é ter 120 mil
aprendizes contratados após ações da pasta.
Em 2023, a lei foi alterada por meio do decreto 11.479. Com isso, a
Secretaria de Inspeção do Trabalho, órgão responsável pela fiscalização, também
desenvolveu um sistema em que empresas emitem certidão de cumprimento de cota
de aprendiz para auxiliar em futuras inspeções.
Para Dib, apesar das ações de fiscalização, a existência da Lei de
Aprendizagem acaba sendo indiferente para algumas empresas, mesmo com risco de
multa pelo descumprimento dela.
"Algumas empresas acabam enxergando o jovem aprendiz só como um
cumprimento de cota e, às vezes, preferem pagar multa do que ter o aprendiz; ao
fazer isso, é menos sobre a multa ou cota, é sobre deixar um jovem sem a
oportunidade de se desenvolver", avalia.
OPORTUNIDADE E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
A relação entre os jovens que conseguiram uma chance de entrar no
mercado de trabalho por meio da Lei de Aprendizagem é majoritariamente
positiva. Segundo pesquisa do CIEE, 70% dos aprendizes sentem-se acolhidos nas
empresas, com 72% satisfeitos em relação à oportunidade.
É o caso de Gabriel Ciccone Oliveira, 20 anos, João Pedro Gonçalves da
Silva, 19, e Júlia Pereira Silva, 22, que atualmente são aprendizes na Prestex,
empresa de logística de São Paulo.
Gabriel diz que, por meio do programa de aprendiz, teve sua primeira
oportunidade de trabalhar no meio corporativo. Ele atua na área de parceiros
estratégicos.
"Vem sendo um mundo novo; trabalhar em escritório é algo que não
conhecia, porque por mais que já tivesse trabalhado em outras áreas, mais
manual, trabalhar em uma empresa, com benefícios, está sendo uma experiência
nova para mim", comemora.
João Pedro também considera a experiência positiva. Antes de trabalhar
no setor de marketing da empresa de logística, ele era caixa em uma sorveteria
e teve a porta de entrada no mundo corporativo por meio do programa.
"Eu vejo um crescimento pessoal muito grande nessa oportunidade, me
desenvolvendo e aprendendo bastante, tendo a chance de estar botando muito do
que eu aprendo no curso em prática ali dentro", diz.
Segundo o CIEE, 11,45% dos aprendizes afirmam que o grupo familiar conta
com meio salário mínimo para arcar com todas as despesas mensais da residência
(hoje em R$ 706), 30,6% até um salário mínimo (R$ 1.412) e 35,2% até dois
salários mínimos (R$ 2.824).
"Moro com meus pais, sou filha única e é muito importante ajudar em
casa. Estou conseguindo ter minha independência e juntar dinheiro para o futuro
também, a renda que vem dessa oportunidade está me ajudando muito", afirma
Júlia, que trabalha no setor de tecnologia da Prestex.
Por Bahia
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