
Estudantes relatam impossibilidade de conciliar estudo e emprego Crédito: Arquivo/Correio
A Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE, divulgada nesta sexta-feira (22),
apontou que apenas 17,1% dos jovens entre 18 e 24 anos estão no Ensino
Superior. O número coloca a Bahia com a menor taxa de estudantes nessa faixa
etária regularmente matriculados na faculdade entre todos os estados do Brasil.
Mas por que o estado amarga a lanterna deste ranking? A reportagem ouviu jovens
nesta situação para entender o problema.
Entre as justificativas, as mais
comuns são a necessidade de ter renda para sobreviver, a distância para os
centros universitários e a dificuldade de pagar uma faculdade privada. O
mototaxista Felipe Brito, de 24 anos, por exemplo, queria ter cursado Educação
Física. Faixa preta em duas modalidades de luta, via no esporte uma
possibilidade de profissão. Para se manter, no entanto, ele acabou deixando o
Ensino Médio ainda incompleto e se afastou da faculdade.
"Parei de estudar no
terceiro ano do Ensino Médio para começar a trabalhar. Precisei correr atrás do
meu porque, infelizmente, meus pais não podem me dar tudo que eu quero. Já
pensei em voltar a estudar, mas só para completar o 3° ano, nada a mais. Perdi
o foco (nos estudos) e, atualmente, eu só penso em trabalhar pra ter o meu e
mais nada", conta o jovem. Mesmo que houvesse possibilidade de retomar os
estudos, Felipe Brito acredita que a faculdade não seria uma boa opção para
ele.
Moradora da Região Metropolitana
de Salvador, Juliana Silva, de 21 anos, gostaria de ter feito Psicologia.
Porém, a distância para a universidade a fez desistir de tentar. Sem detalhar
onde mora, ela explica que gastaria pelo menos quatro horas no transporte
público para ir e voltar da faculdade que desejava cursar na capital baiana.
Por essa razão, ela decidiu começar a trabalhar em uma empresa a 30 minutos de
casa e estudar para concursos.
"Pelas minhas contas,
porque já fiz esse trajeto algumas vezes, gastaria 2h de ida e o mesmo tempo de
volta. Morar em Salvador não era uma opção viável por conta das obrigações que
tenho aqui. Então, terminei o terceiro ano e consegui um emprego perto. É muito
cansativo, mas dá o valor que preciso para ajudar em casa e comprar o material
que uso para estudar para concurso", relata. Para ela, a concorrência
pelas vagas nas instituições públicas é mais um impeditivo.
Doutora em Educação, Tatyanne
Gomes Marques diz que, apesar do processo de interiorização das faculdades,
ainda há escassez de vagas no Ensino Superior. "A oferta de vagas públicas
próximas aos jovens é um fenômeno que eu gostaria de destacar. A própria
educação básica e de nível médio está ainda muito distante de jovens
periféricos, do campo e quilombolas. No Ensino Superior, além das vagas estarem
distantes, são muito poucas", afirma ela.
Também doutora em Educação,
Catarina de Almeida Santos indica que na Bahia, assim como no Brasil, a
resposta para o problema é multifatorial. Ela destaca que não há uma única
causa e pontua que não se deve ignorar as consequências, ainda remanescentes da
pandemia e da reforma do Ensino Médio.
"A gente tem aí uma
quantidade enorme de jovens que estão fora do sistema de ensino e que apresenta
justificativas como ter que estudar, que trabalhar. Meninas grávidas na
adolescência, falta de vontade de estudar, falta de oportunidade. E, se olharmos
novamente, as questões raciais estão no centro dessa questão, porque também tem
a ver com as questões de igualdades sociais, não é? E o fator racial é
fundamental nisso", analisa ela, que é professora na Universidade de
Brasília (UnB).
As duas professoras entendem que
só uma política de aproximação da educação superior para os jovens e de
incentivo à permanência no âmbito estudantil é capaz de mitigar o problema. A
reportagem procurou a Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC) para
comentar os números, mas não recebeu retorno da pasta até o fechamento desta
edição.
Por Correio24horas