
Foto: Valter Campanato/Agência
Brasil
A Presidência da
República encontrou todos os 261 bens do patrimônio Palácio da Alvorada que
estavam desaparecidos e que foram motivo de troca de farpas entre os casais
presidenciais Lula da Silva e Bolsonaro.
A disputa teve início durante a
transição de governo, no início do ano passado, quando Lula (PT) e a
primeira-dama Janja reclamaram das condições da residência oficial e apontaram
que alguns móveis do patrimônio estavam faltando, quando Jair Bolsonaro (PL) e
sua mulher Michelle Bolsonaro se mudaram do local.
A ausência dos móveis também
havia sido um dos motivos alegados pelo novo governo para o gasto de R$ 196,7
mil em móveis de luxo, como revelado pela Folha de S.Paulo. Nesta quarta (20),
Bolsonaro reagiu a Lula logo após a publicação desta reportagem e falou em
"falsa comunicação de furto" do atual presidente.
A Secom (Secretaria de
Comunicação Social da Presidência), após publicação da reportagem, disse que a
busca pelos móveis revelou descaso com a manutenção do patrimônio, sem citar
diretamente a família Bolsonaro.
"Os trabalhos foram
finalizados somente em setembro do ano passado, quando todos os bens foram
encontrados em dependências diversas da residência oficial. Ou seja, houve um
descaso com onde estavam esses móveis sendo necessário um esforço para localizá-los
todos novamente", diz a nota.
O levantamento do patrimônio do
Palácio da Alvorada, para o período de 2022, foi concluído no fim do ano
passado, pela Comissão de Inventário Anual da Presidência da República. As
atividades haviam apontado preliminarmente que 261 bens citados não haviam sido
localizados durante os trabalhos.
A Presidência da República então
afirma que uma nova conferência havia sido realizada no início do ano de 2023,
já durante a gestão de Lula. Então esse número de bens desaparecidos diminuiu
para 83.
Com a conclusão dos trabalhos,
em setembro do ano passado, contatou-se que nenhum móvel ou bem do patrimônio
do Palácio da Alvorada estava extraviado.
A reportagem questionou a Secom
em qual local específico do Alvorada os móveis foram encontrados. A secretaria
disse que eles estavam "nas diversas dependências" do palácio, sem
fornecer mais detalhes. De acordo com pessoas com conhecimento do tema, boa
parte estava em um depósito.
A chamada "guerra dos
móveis" teve início nos primeiros dias de 2023, quando o presidente Lula
reclamou de começar o seu governo vivendo em um hotel, sem poder se mudar para
a residência oficial do Palácio da Alvorada. Reclamou do estado de conservação
das residências oficiais do Alvorada e da Granja do Torto.
Durante um café da manhã com
jornalistas, afirmou que Jair Bolsonaro e sua mulher Michelle "levaram
tudo".
"Não sei se eram coisas
particulares do casal, mas levaram tudo. Então a gente está fazendo a
reparação, porque aquilo é um patrimônio público", afirmou o presidente,
que ainda retomou o tema instantes depois.
"Pelo menos a parte de cima
[do palácio], está uma coisa como se não tivesse sido habitada, porque está
todo desmontado, não tem cama, não tem sofá. Possivelmente, se fosse dele, ele
tinha razão de levar mesmo. Mas, ali é uma coisa pública", completou.
A ausência dos móveis também foi
apontada em abril do ano passado, como um dos motivos para a compra sem
licitação de móveis de luxo para o Alvorada, sem licitação.
Foram adquiridos de uma loja de
um shopping de design e decoração em Brasília uma cama, dois sofás e duas
poltronas. Em outra loja, o governo comprou um colchão king size.
Os gastos mais altos foram com o
sofá com mecanismo elétrico (reclinável para a cabeça e os pés), que custou R$
65,1 mil e com uma cama de R$ 42,3 mil.
"Em janeiro deste ano, a
curadoria das residências oficiais identificou que 261 móveis do Alvorada
estavam desaparecidos. Após três meses de procura, 83 móveis ainda não foram
encontrados. A ausência de móveis e o péssimo estado de manutenção encontrado
na mobília do Alvorada exigiram a aquisição de alguns itens", informou a
Presidência na ocasião, ao ser questionada sobre a compra dos móveis.
Ao ser questionada agora, se a
compra foi precipitada, considerando que os móveis não foram extraviados, o
governo afirma que todos os motivos e justificativas para a aquisição dos bens
foram expressos nos canais oficiais, com suas respectivas fundamentações
legais.
"Cabe ressaltar ainda que
os bens adquiridos passaram a integrar o patrimônio da União e serão utilizados
pelos futuros chefes de Estado que lá residirem", informou a Presidência.
A ex-primeira-dama Michelle
afirmou à reportagem que o caso do sumiço dos móveis era uma "cortina de
fumaça".
"Durante muito tempo esse
governo quis atribuir a nós o desaparecimento de móveis do Alvorada, inclusive
insinuando que eles teriam sido furtados na nossa gestão. Na verdade, eles
sempre souberam que isso era uma mentira, mas queriam uma cortina de fumaça
para tirar o foco da notícia de que eles gastariam o dinheiro do povo para
comprar móveis novos por puro capricho", disse, por meio de nota.
"Essa é uma técnica
recorrente deles. Apesar de todo desgaste emocional que isso me causou, eu
sempre tive a certeza de que Deus traria a verdade à tona, não só nesse caso,
mas em todas as falsas acusações que essas pessoas do mal têm feito contra nós."
A relação dos 263 bens que
estavam desaparecidos e foram encontrados, obtida pela reportagem via Lei de
Acesso à Informação, contém diversos móveis, utensílios domésticos, livros e
obras de arte.
São seis camas no total, feitas
de materiais como aço, metal e madeira. Há também cinco sofás, a maior parte
deles descritos como "sofá arte em madeira", com revestimento em
couro ou tecido.
A relação também aponta 21
poltronas, 28 cadeiras, 28 mesas, fogões, lavadoras de roupa, armários,
luminárias, balcões, aparelhos de ar-condicionado, botijão de gás.
A lista contém a escultura em
bronze O Rito dos Ritmos, da artista Maria Martins, um dos principais nomes do
modernismo, que por muitos anos esteve fincada nos jardins do Alvorada. Há
também uma pinha de cristal, uma cigarreira de prata, tapetes persas e dezenas
de livros.
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VEJA A LISTA DE ITENS ADQUIRIDOS
POR LULA PARA O ALVORADA
- Sofá (306 cm de largura, 110
cm de profundidade), com mecanismo elétrico reclinável para cabeça e pés,
revestido em couro na tonalidade cinza, grão natural. Valor: R$ 65.140
- Sofá (232 cm de largura, 109
cm de profundidade), com mecanismo elétrico reclinável para cabeça e pés,
revestido em couro na tonalidade cinza, grão natural. Valor: R$ 31.690
- Cama (231 cm de largura, 246
cm de profundidade e 94 cm de altura), com revestimento em couro grão natural,
lixamento leve e acabamento oleoso. Pés em metal e revestimento secundário em
tecido. Valor: R$ 42.230
- Poltrona ergonômica (90 cm de
largura e 82 cm de profundidade), revestida em couro, com pufe na cor branca,
revestimento em couro grão natural, com almofadas do assento com enchimento em
poliuretano e estrutura metálica. Valor: R$ 29.450
- Poltrona fixa (107 cm de
largura e 94 cm de profundidade), em veludo azul, com pés em aço inox,
estrutura em madeira de reflorestamento, pinus naval. Valor: R$ 19.270
- Colchão (193 cm de largura e
203 cm de comprimento) masterpiece top visco. Valor: R$ 8.990
Por Bahia Notícias