Na data em que se comemora o Dia Mundial da Água, o diretor do Departamento de Educação Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Feira de Santana (Semmam), João Dias, fez um alerta importante acerca da preservação das nascentes, lagos e lagoas do município.

De acordo com o ambientalista, das 120 lagoas existentes em Feira de Santana, 60 foram aterradas.

“Feira de Santana é uma cidade que fica entre o pé de plano sertanejo e o tabuleiro costeiro, estamos a 234 metros de altitude em relação ao nível do mar, ficamos em um platô que acumula água, e a cidade está com água em locais como a Baraúnas, parte da Queimadinha, Parque Getúlio Vargas e Tanque da Nação, que deveriam ser parque, porque se você cava um buraco para fazer uma fossa, não consegue rebocar porque já enche de água. O município tem um lençol freático em cima. A cidade tinha que ter um planejamento específico para ser habitada. Estão enchendo a Santa Mônica de prédios, mas precisa-se fazer um estudo profundo e se colocar estruturas específicas. A região de Feira toda tem um lençol freático superficial. Tínhamos 120 lagoas, mas matamos 60. No total, temos mais de 10 rios e mais de 100 nascentes. A hidrologia de Feira é especial, mas o que era benção está virando maldição, porque estamos destruindo tudo”, alertou João Dias.

Ambientalista João Dias_ Foto Maylla Nunes Acorda Cidade
Foto: Maylla Nunes/Acorda Cidade

Ele destacou que é preciso investir muito em educação ambiental, para as pessoas saberem o que é uma nascente, um afloramento natural do lençol freático, e o que a lei diz.

“Aqui em Feira se coloca dreno para construir em cima das nascentes, e isso não é permitido. Em Feira, além do lençol freático, tem o aquífero São Sebastião e na questão geológica, recentemente, descobriram que também podem existir bolsões, que quando seca a água, ele começa a ceder. Só que esse processo vai acontecer a longo prazo se continuarmos a construir em nascentes e lagoas. Na Gabriela, foi onde se aterraram mais nascentes. Lá tem duas nascentes conhecidas hoje, que são a Fonte dos Milagres e a Buraco Doce, que as pessoas fazem bastante uso. Mas foram aterradas muitas outras. Um dos problemas sérios que a gente tem em Feira é que a cidade cresceu, tem a valorização imobiliária e quem tem um terreno com a nascente dentro não pode construir, porque a nascente é para o bem comum. Porém, algumas pessoas contratam engenheiros, que infelizmente drenam as nascentes e por isso a Gabriela é um dos bairros onde se aterraram mais nascentes. As pessoas querem construir a qualquer custo, nem que a casa depois comece a ferver, ceder, rachar, mesmo assim eles querem”, afirmou João Dias.

Pode faltar água no planeta?

Segundo o diretor do Departamento de Educação Ambiental, pode falta água potável.

“No planeta já existem 6 milhões de pessoas chamadas refugiadas do clima, que tiveram que se mudar do lugar onde nasceram porque não têm mais água. Eu sou do distrito de Ipuaçu e lá tem vários riachos que eram perenes, a gente pescava, e não têm mais água hoje. Isso é provocado pelo aquecimento global e as mudanças climáticas, além da antropização, que é causada pelos fazendeiros que desmatam a beira dos riachos e dos rios para transformar em pasto. Quero lembrar aos fazendeiros que com o passar do tempo, não haverá nem os rios e nem o pasto.”

Outro local onde o lençol freático também está bastante alto e trazendo problemas para os moradores, é na região da Vila Olímpia. De acordo com João Dias, lá existem várias situações de infiltração e minação nas casas.

“Do outro lado da Pedra do Descanso tinha a Lagoa da Pedreira e a pedra que deu nome ao bairro. Quebraram a pedra, aterraram a lagoa e hoje fica uma inundação na Avenida Rio de Janeiro, quando dá trovoada, que é onde a água sai, e a Vila Olímpia é um dos lugares onde o lençol freático está bastante alto, tem vários problemas de infiltração e minação, como chamam, que são na verdade nascentes intermitentes que têm no Vila Olímpia. Nós temos um problema seríssimo em Feira e eu luto todos os dias, por conta da pressão imobiliária.”

Conforme o diretor, em Feira está se construindo muitos condomínios em locais onde há nascentes, o que tem causado desequilíbrios ao ecossistema.

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“Estamos construindo condomínios, destruindo tudo que há, ou seja, no lugar em que se libera um condomínio, às vezes, tem nascentes e todo um ecossistema. Com isso você provoca um desequilíbrio em Feira, que tem um problema sério de crescimento no SIM e no Alto do Papagaio, que precisamos ter bastante cuidado. As pessoas culpam o município. A lei federal diz que é 30 metros de área da APP, só que o Código Florestal do Brasil está errado, isso sou eu que estou dizendo, foi manipulado e por isso está sub judice. Um riacho hoje, com as mudanças climáticas, não pode ter só 30 metros.”

A grande preocupação do ambientalista é com a preservação dos rios, lagoas e lagos, além do lençol freático.

“O prefeito Colbert Martins deu a ordem de serviço para a gente limpar as macrófitas aquáticas da Lagoa do Subaé. Isso deve durar um pouco mais de 30 dias, mas a Secretaria de Planejamento elaborou um novo projeto para a Lagoa do Subaé, que a gente vai tentar fazer em parceria público-privada, porque nos meus cálculos, vamos gastar agora que começou a limpar R$ 46 milhões com a Lagoa do Prato Raso, na Queimadinha, e a Lagoa do Subaé, que é maior, eu calculo R$ 50 milhões. E R$ 80 milhões para a Lagoa de Berreca. Existia um acordo para se fazer uma obra do lado direito da Lagoa de Berreca apenas em uma faixa e foi feita pela construtora de um condomínio. Mas tem vários condomínios que essa parceria não foi feita.”

João Dias explicou que o maior problema da Lagoa de Berreca é que todos os esgotos da Bacia do Pojuca vão para lá sem tratamento.

“Vêm desde o Novo Horizonte, até o Caseb, Rocinha, Parque Getúlio Vargas, Santo Antônio dos Prazeres, então o maior problema é a contaminação da lagoa. Nós não temos em Berreca o problema de ocupação, pois todos os condomínios obedecem à faixa dos 30 metros que a lei federal estabelece. Nós poderíamos aumentar de 30 se nós olhássemos o plano diretor urbano do município, que tem poder para aumentar as faixas, porque hoje eu tenho dentro da cidade 25 lagoas.”

Arboviroses

Por conta das mortes das lagoas, Feira foi o primeiro lugar no Brasil onde apareceu a Chikungunya, e é o primeiro lugar na Bahia com três casos de dengue cosmopolita.

“Enquanto a gente continuar matando as nascentes e as lagoas, os arbovírus vão nos matar. Não é terrorismo, estou falando a verdade. Os mosquitos que matam aumentaram de 20 para 36, e Feira está com três casos de dengue cosmopolita, que é o pior tipo da doença. Então temos que proteger as nascentes e as lagoas. Um sapo cururu come mil insetos por dia, inclusive o mosquito da dengue, e quando se mata uma lagoa, quantos sapos você matou? É preciso refletir nestas questões, pois os mosquitos entram em nossas casas, vão até nossas camas e nos matam.”

O diretor salientou que a fêmea do Aedes aegypti vive 45 dias e põe 450 ovos. Antes colocava em água limpa, mas agora também em água suja.

“A fêmea do aedes vive 45 dias e põe 450 ovos em água limpa e agora em água suja. Humildes tem distritos e bairros infestados com a dengue, porque o rio Humildes está podre dentro da cidade, o Aviário está com o Rio Subaé podre, no Feira X o Riacho da Espuma, então se não cuidarmos de nossos riachos, a gente vai morrer. É só olhar o que está acontecendo nas Upas (Unidades de Pronto Atendimento). E não vou nem falar das bactérias e vibriões encontrados em nossos riachos”, alertou.

Foto: Jorge Magalhães/ Secom