Reportagem originalmente publicada no Jornal da Metropole em 09 de junho de 2022

Quase oito meses após ser protocolada na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), a CPI da Coelba está emperrada. Por quê? Publicamente, os parlamentares afirmam que a comissão travou por causa de um impasse entre as bancadas de oposição e de governo. Deputados governistas querem ficar com a presidência e a relatoria do colegiado, e os oposicionistas têm se posicionado contra e reivindicam um dos cargos.

Líder da minoria na Casa, Sandro Régis (UNIÃO) disse que chegou a indicar o colega Tiago Correia (PSDB) para um dos postos, mas os governistas não cederam. "Qualquer comissão na Casa é composta pela proporcionalidade. Ou seja, a primeira pedida é do governo: ou a presidência ou a relatoria. Como é que a oposição poderia fazer parte de uma comissão sem ser respeitada a proporcionalidade?", questionou.

O mandatário da bancada da maioria, Rosemberg Pinto (PT), reconheceu que os governistas querem os dois cargos da CPI.  "É verdade, e é legítimo a oposição querer ter a presidência ou a relatoria", disse, no entanto, sem mostrar disposição para abrir mão das vagas. 

O motivo da bancada governista não ceder é um mistério que ronda a Casa. Há rumores de que o deputado estadual Tum (Avante), que é o autor da proposta da CPI, teria um interesse contrariado pela Coelba em relação a um sistema de energia solar que ele queria implantar no município onde o irmão é prefeito, e faz questão de ser relator ou presidente. “Tenho me preparado para essa missão há meses, estudei a fundo a situação da empresa, as deficiências, contratei, com recursos próprios, uma assessoria para tratar do tema, então me considero pronto”, justificou. O deputado Vitor Bonfim (PL) também bateu o pé e quer um dos cargos.  

Bastidores

Nos bastidores, há boatos ainda de que haveria acordos com a Coelba para evitar a abertura do colegiado. Rosemberg Pinto rechaça. O petista declarou que tem "total interesse" em investigar a empresa. Admitiu ainda que se reuniu com representante da Coelba, mas não para tratar da CPI.

Enquanto se mantém o impasse, os baianos têm sofrido com os serviços precários da empresa, e a companhia tem lucrado bilhões. No primeiro trimestre de 2022, a Neoenergia, que é proprietária da Coelba, encerrou com um lucro de R$ 1,2 bilhão, aumento de 20% em relação a igual período no ano passado. Neste período, a receita operacional líquida ficou em R$ 9,88 bilhões, aumento de 15% na comparação anual. 

Em nota enviada ao Jornal da Metropole, a Neoenergia Coelba informou que está à disposição para prestar esclarecimento, e afirmou que tem investido para melhorar a qualidade do serviço no estado.