Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 19 de maio de 2022

O sinal de alerta do baiano está ligado e tem como responsável um velho conhecido: o sarampo. Até a segunda semana de maio, 64 casos suspeitos foram notificados no estado. Desses, 26 ainda permanecem em investigação. O sinal fica ainda mais vermelho quando é analisado o número de imunizados contra a doença. Em Salvador, por exemplo, apenas 9% do público alvo da campanha de vacinação recebeu o imunizante.  

Os casos em investigação na Bahia se dividem em 16 municípios. Entre eles, os com maior concentração são Vitória da Conquista (3), Adustina (3) e Ibotirama (3). Na capital, não há notificações de casos da doença. Mas o sinal de alerta também está ligado e pede atenção. Para a coordenadora de imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS), Doiane Lemos, a preocupação é que a doença chegue e se instale na capital diante da baixa adesão à vacinação.

A atual estratégia vacinal é destinada a crianças e trabalhadores da saúde, mas apenas 25,7 mil (9%) profissionais e 18,9 mil (9%) crianças foram vacinadas. A meta era imunizar 95% das crianças de 6 meses a menores de 5 anos. 

Mesmo quem não faz parte desse público pode se imunizar com a vacina tríplice viral, que protege também contra a caxumba e a rubéola. Segundo a coordenadora de imunização, a tríplice está disponível para a população geral até os 49 anos, nas 158 salas de vacinação da capital baiana. 

Para Lemos, a baixa procura pela vacina está relacionada à falsa sensação de segurança da população e à falta de conhecimento sobre as complicações e o alto poder de contágio da doença. O infectologista Adriano Oliveira explica que o índice que calcula o poder de disseminação do sarampo fica entre 12 e 18, isso significa que um paciente infectado pode contagiar até 18 pessoas. A covid, por exemplo, tem capacidade de contaminar até 3 pessoas. 

Por conta do alto potencial de contágio, o sarampo geralmente se manifesta em forma de epidemia. Mas o infectologista não tem dúvidas de que há uma forma eficaz de se proteger e proteger outras pessoas contra o sarampo: a vacina. 

“Durante anos, o Brasil foi a prova de que a vacina é eficaz. Mas países vizinhos e europeus não fizeram sua parte e a doença não foi extinta. Recebemos muitos casos importados, que não se disseminaram porque estávamos vacinados. Agora com a baixa adesão à vacina, já temos casos produzidos no Brasil”, alerta o infectologista.

Até o momento, o país já confirmou 17 casos em 2022, distribuídos nos estados de São Paulo, Amapá e Roraima. O número representa um retrocesso, já que em 2016 a Organização Pan Americana de Saúde havia considerado o sarampo como doença erradicada no país.

Segundo o infectologista, a doença se comporta como um resfriado. A transmissão acontece pelo ar ou por superfícies contaminadas por partículas de secreção respiratória infectada. Os sintomas também são semelhantes aos de um resfriado. De acordo com Andrade, as primeiras manifestações são espirros, tosse e dores no corpo, mas a doença pode evoluir para dor de garganta e a famosa vermelhidão na pele. Em casos que levam a óbito, o vírus atinge o sistema nervoso central ou o pulmão, causando uma insuficiência respiratória.

Foto: katarine almeida/pmbv