Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 28 de abril de 2022
O dia 1º de Maio se aproxima, mas o trabalhador baiano não tem muito o que comemorar. Quem está empregado, teve queda no rendimento médio de 12,4%, entre 2020 e 2021, o mais baixo em nove anos — em valores absolutos, R$ 1.661.
Quem busca recolocação, encontra dificuldades já que a taxa de desocupação é de 19,5%, a segunda mais alta do país, atrás apenas de Pernambuco (com 19,9%). Esses são os dados mais recentes para a Bahia da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), do IBGE.
A população desocupada é aquela que procurou trabalho e poderia ter assumido caso tivesse encontrado. Cerca de 1.348 milhão de pessoas estão nessa condição na Bahia. É o caso de Gemima Correia, 40 anos, que há cinco anos procura trabalho na área de serviços gerais, atendente de supermercado ou vendedora de loja. Enquanto não encontra, se vira trabalhando como babá ou fazendo faxinas.
“Sonho com um emprego de carteira assinada. A maioria das empresas exigem experiência. Busco uma oportunidade para ganhar experiência. Se não derem oportunidade, como a pessoa vai ter experiência?”, questiona. Gemima já trabalhou como empregada doméstica, mas nunca teve a carteira de trabalho assinada.
Já o agente de portaria Deiverson Cerqueira, de 29 anos, enfrenta a dificuldade de voltar ao mercado de trabalho formal. Ele está há um ano e sete meses procurando emprego. “Já coloquei mais de 200 currículos nesse período e ainda nada, mas não desisto”, conta.
Pai de uma bebê de um ano e oito meses, Deiverson não poderia ficar parado e alugou um carro à gás e começou a trabalhar como motorista por aplicativo. “Eu rodo de cinco horas da manhã até 7h da noite para conseguir tirar alguma coisa. Claro que eu preferiria meu antigo emprego”, afirma.
INFORMAIS
Em busca do emprego formal, Deiverson atualmente está na fatia da maior parte da população ocupada: os informais. Este grupo passou a representar, ano passado, 54,9% dos trabalhadores baianos, cerca de 3.067 milhões de pessoas. É a maior taxa de informalidade desde 2016, quando o indicador passou a ser calculado, e a 5ª mais elevada dentre os 26 estados e o Distrito Federal, segundo a Pnadc.
São considerados informais os empregados no setor privado e domésticos que não têm carteira assinada, os trabalhadores por conta própria ou empregadores sem CNPJ e as pessoas que trabalham como auxiliares em algum negócio familiar.
Segundo a supervisora de disseminação de informações do IBGE, Mariana Viveiros, a informalidade é uma característica marcante do mercado de trabalho e da economia baiana. “A Bahia tem um mercado de trabalho que não consegue gerar vagas que possam, de fato, atender a demanda. Por outro lado, quando se tem o trabalho, é com muita gente na informalidade”, explica.
Mariana lembra que o mercado de trabalho no estado sentiu os efeitos mais fortes da pandemia exatamente pela característica da informalidade. “O trabalho informal é mais vulnerável a todas mudanças econômicas e sociais”, explica.
A taxa de desocupação na Bahia diminuiu em 2021 com o arrefecimento da pandemia, mas o número de pessoas trabalhando (5.587 milhões), ainda está abaixo do pré-pandemia (5.838 milhões, em 2019).
AUXÍLIO VENCE CARTEIRA
Ainda abordando a questão da informalidade e desocupação, um cruzamento de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) com o Ministério da Cidadania, mostra o perfil do mercado de trabalho brasileiro. Em 12 dos estados, o número de beneficiários do Auxílio Brasil, antigo Bolsa Família, é superior ao de trabalhadores com carteira assinada. Todos eles são das regiões Norte e Nordeste.
Na Bahia, 1,8 milhão de pessoas têm emprego com carteira assinada, enquanto 2,2 milhões são beneficiárias do Auxílio Brasil. Para a coordenadora do do grupo de pesquisa em economia do trabalho da Ufba, Diana Gonzaga, este dado reflete um ciclo de pobreza e vulnerabilidade difícil de romper.
“Se não consegue inserir as pessoas no mercado de trabalho para elas terem uma renda, não consegue dinamizar a economia. É algo extremamente prejudicial para o estado, porque não consegue gerar estímulo para as empresas investirem e gerar emprego”, explica.
A pesquisadora lembra que historicamente a Bahia disputa a liderança no ranking do desemprego com outros estados do Nordeste. Isso mostra uma questão estrutural desta região do país. “A falta de oportunidade no mercado formal tem a ver com as desigualdades regionais, com a distribuição das atividades produtivas. Cerca de 70% dos empregos e estabelecimentos formais estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste”, afirma.
Para enfrentar o problema do desemprego na Bahia e em outros estados nordestinos, Diana Gonzaga explica que é preciso tornar a região mais atrativa para as empresas. “É necessário investir em infraestrutura energética, estradas, políticas educacionais, um conjunto de políticas que façam com que essas regiões sejam mais atrativas”, destaca.
Além dos fatores citados, a pesquisadora ressalta que os governantes precisam pensar nas potencialidades regionais. “O turismo, por exemplo, é uma atividade que o Nordeste é altamente competitivo”, afirma.
OTIMISMO PARA 2022
O pesquisador Fernando de Holanda Barbosa Filho aponta um cenário otimista para 2022, com a geração de mais postos de trabalho, com a proximidade do fim da pandemia. Um destes segmentos é o de serviços, um dos mais afetados com as paralisações provocadas pela crise sanitária.
“Só o crescimento econômico gera emprego. Não tem atalho. São diversas ações que devem ser feitas ao mesmo tempo, a exemplo da qualificação profissional, sustentabilidade da dívida pública do ponto de vista macroeconômico. Sem isso, não tem investimento e crescimento econômico. É um conjunto de medidas que lá na frente vai melhorar o mercado de trabalho”, avalia.