Por reajuste salarial e reestruturação de carreira, os servidores do Banco Central vão entrar em greve por tempo indeterminado a partir de 1º de abril.
A decisão foi aprovada em assembleia nesta segunda-feira (28), com o apoio de mais de 90% dos 1.300 servidores da ativa que participaram da deliberação.
Sem uma proposta oficial do governo, os funcionários votaram a favor do recrudescimento da mobilização. Os servidores já vinham realizando paralisações diárias das 14h às 18h desde o dia 17 de março e atuando em operação-padrão.
Mais cedo, o BC comunicou que as notas econômico-financeiras relativas ao mês de fevereiro não serão divulgadas ao longo desta semana, como previsto.
As estatísticas do setor externo, que incluem os investimentos diretos de estrangeiros no Brasil, por exemplo, seriam publicadas nesta segunda, às 9h30. Já as estatísticas monetárias e de crédito estavam previstas para quarta-feira (30) e as fiscais, para quinta (31), ambas no mesmo horário.
"Oportunamente, informaremos as datas de publicação das notas relativas ao mês de fevereiro de 2022", disse o BC, sem se pronunciar sobre o motivo do adiamento.
A mobilização dos servidores do BC tem provocado uma série de atrasos na rotina da autoridade monetária, especialmente na divulgação de indicadores.
A publicação da pesquisa Focus, com as previsões dos economistas sobre inflação, PIB e outros dados, foi impactada pela segunda semana consecutiva. Os dados, anunciados às segundas, por volta de 8h25, só foram ao ar às 10h.
Além disso, nas últimas semanas, houve atraso na publicação dos dados do fluxo cambial, do resultado do questionário pré-Copom e da apuração da taxa ptax (taxa de câmbio) diária, além de interrupções no monitoramento preventivo do Pix e do SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro).
No último sábado (26), membros das entidades representativas dos servidores do BC se reuniram com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, sem avanço nas pautas reivindicadas.
Em coletiva na última semana, após a divulgação do relatório trimestral de inflação, o presidente do BC disse respeitar o direito dos funcionários de exercer qualquer tipo de manifestação.
"Entendo que eles têm um enorme senso de responsabilidade com a qualidade e as entregas de serviços para a sociedade e que nós temos esquemas de contingência caso algo mais severo aconteça", afirmou.
O movimento dos servidores do BC faz parte da mobilização nacional do funcionalismo público por recomposição salarial depois que o presidente Jair Bolsonaro (PL) acenou conceder aumento para policiais federais, rodoviários federais e agentes penitenciários. A verba disponível no Orçamento para elevar a remuneração dos servidores é de R$ 1,7 bilhão.