O Sistema Cantareira passou a operar, oficialmente, em novembro, na faixa de restrição, com 28,4% do volume de sua capacidade nesta terça-feira (2).

Em 2 de outubro, o reservatório já tinha entrado nessa faixa, abaixo de 30%, porém, oficialmente o sistema só passou a funcionar em restrição em novembro porque a Agência Nacional de Águas (ANA) considera o último dia do mês anterior.

Em outubro, choveu mais do que a média histórica para o mês no Cantareira, com 116 milímetros, mas mesmo assim, o volume da água diminuiu. O nível no último dia de outubro, 31, foi de 28,1%, que determina a quantidade de água que a Sabesp pode retirar no mês seguinte.

O reservatório entra em faixa de restrição quando chega a um volume útil acumulado igual ou maior que 20% e menor que 30%, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA). Para ser considerado normal, o volume do manancial tem de estar com pelo menos 60% de sua capacidade.

Na prática, a mudança de faixa de alerta para o de restrição diminui a quantidade de água que Sabesp pode retirar do reservatório desde que ele esteja com volume menor que 30% no último dia do mês.

A falta de chuvas acelerou a chegada dessa fase. Pela previsão do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o Cantareira atingiria o patamar de 30% de sua capacidade somente no final deste ano.

Considerado o maior reservatório de água da região metropolitana, o Cantareira abastece cerca de 7,2 milhões de pessoas por dia. Mas não é só o Cantareira que está com pouca água.

Conforme o g1 adiantou, moradores de todas as regiões da capital paulista já têm relatado falta de água mais cedo do que o costume.

Depois da fase de alerta, a próxima é chamada de fase especial, quando o sistema tem volume útil menor que 20%. Em julho de 2014, quando houve a crise hídrica, o Sistema Cantareira chegou a zero. Abaixo dele, havia o volume morto, que não foi projetado, originalmente, para uso.

Trata-se de uma reserva com 480 bilhões de litros de água situada abaixo das comportas das represas do Cantareira. A Sabesp passou a operar bombeando água do volume morto. Até então, essa água nunca tinha sido usada para atender a população.

Para especialistas sobre o tema, a mudança de faixa é importante para a população se conscientizar de que os riscos de falta de água estão maiores, já que, na prática, isso não deve impactar no trabalho da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), pelo menos por enquanto.

De acordo com a outorga, a mudança de fase de alerta (igual ou maior que 30%) para a fase de restrição (igual ou maior que 20%) diminui a quantidade de água que a Sabesp tem permissão da Agência Nacional de Águas (ANA) para retirar do manancial.

A mudança, entretanto, só acontece se o volume igual ou menor do que 20% for registrado no último dia de cada mês. Se isso acontecer, o limite máximo de retirada do reservatório no mês seguinte passa de 27 m³/s para 23 m³/s. Dessa forma, de acordo com a ANA, “a faixa de operação do Sistema Cantareira a ser considerada para fins de definição das vazões a serem praticadas, no mês de outubro de 2021, será a Faixa 3 – Alerta.”

A Sabesp, porém, informou que já tem retirado os 23 m³/s da fase de restrição, o que é possível graças à integração com os demais sistemas. O Cantareira faz parte do chamado Sistema Integrado, composto ainda por outros seis mananciais: Alto Tietê, Cotia, Guarapiranga, Rio Claro, Rio Grande e São Lourenço. Esse sistema permite transferências de água entre regiões, conforme a necessidade operacional.

Porém, isso não garante que haverá água suficiente para abastecimento da população nos próximos meses. Em comparação a 2013, ano pré-crise hídrica na região metropolitana de São Paulo, a Sabesp tem retirado mais água do que entra sistema, como mostram os gráficos a seguir, feitos com dados da Sabesp e análise de Pedro Côrtes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP):

Em azul, o quanto estava entrando de água (volume afluente) em 2013. Em vermelho, o quanto foi retirado de água (volume defluente) no mesmo ano — Foto: Reprodução

Em azul, o quanto estava entrando de água (volume afluente) em 2013. Em vermelho, o quanto foi retirado de água (volume defluente) no mesmo ano — Foto: Reprodução

Em azul, o quanto está entrando de água (volume afluente) em 2021. Em vermelho, o quanto foi retirado de água (volume defluente) no mesmo ano — Foto: Reprodução

Em azul, o quanto está entrando de água (volume afluente) em 2021. Em vermelho, o quanto foi retirado de água (volume defluente) no mesmo ano — Foto: Reprodução

Os gráficos comparam quanta água entrou e saiu do Sistema Cantareira de janeiro a setembro dos anos de 2013 e 2021. Em azul é o quanto estava entrando de água (volume afluente). Em vermelho, o quanto foi retirado de água (volume defluente). Se compararmos 2013 (primeiro gráfico) com 2021 (segundo gráfico), fica claro que entra muito menos água este ano, apesar da retirada de água se manter parecida nos dois anos.

A comparação com 2013 ajuda a entender a gravidade da situação atual. Se em 2013 tínhamos mais água disponível e houve crise de abastecimento nos dois anos seguintes, a situação atual aponta para uma provável falta de água nas casas da Grande São Paulo no ano que vem, de acordo com Côrtes.

“Comparativamente, hoje temos cerca de 21% menos água armazenada do que na mesma época em 2013, ano que antecedeu a crise hídrica. Em 2020, nesta mesma época, o volume de água armazenada era 32% maior. A situação de crise hídrica já está configurada e caminhamos para uma crise de abastecimento de água”, afirma.

 

Em nota, a Sabesp disse que “não há risco de desabastecimento neste momento, mas a Companhia reforça a necessidade do uso consciente da água.”

“A projeção para a região metropolitana de São Paulo aponta níveis satisfatórios dos reservatórios com as perspectivas de chuvas do final da primavera e início do verão, quando a situação será reavaliada. Importante destacar que a queda no nível das represas é normal nesta época do ano devido ao período de estiagem e ao volume baixo de chuvas.”

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G1